sábado, 16 de junho de 2007

A cidade e a pirata

Na frente da minha casa tem um sinal que nunca fecha
tem canteiros sem-flores com mijo
ou melhor, canteiros de mijo-forte
que fazem eu prender a respiração toda vez que passo por lá
-como se fisicamente fosse muito mais do que uma máquina térmica, que também elimina fluídos
mas não sou Augusto dos Anjos e
simplesmente amo quando passo pela Av. Paulista e há barraquinhas de incenso
não que seja contrastante a venda de cheiros e a avenida
mas são curiosos juntos, sei lá
faz você esquecer a cidade por alguns segundos, e lembrar da Índia
de Deus
de alguém

----------------------


[foto by P. Sibahi]

7 de maio de 2007 foi o dia em que a cidade virou vila, e seus moradores irmãos.
Não me perguntem o que acontecia na mesma hora na Praça da Sé
ou no Anhangabaú
eu cochilei foi ao redor de um palquinho na República
e quando a noite já estava opaca de raios de luz eu abri os olhos
mas mais por achar que teatro havia começado: gritos e aplausos entre a música constante
e lá estava o bêbado
-com uma garrafa de gasolina, disseram meus companheiros.

que dançava com adolescentes
[alguns aparecidos, outros vislumbrados]
entre outros adolescentes, crianças, lésbicas, mais mendigos

e por um momento de puro êxtase imaginei que a cidade tinha solução, e quis que ficássemos lá para sempre, dançando, sem se importar com o movimento dos pés ou da cabeça
o que importava era a harmonia

na hora de ir embora, risos inebriantes soltos saindo pelos cantos das bocas daqueles que estavam deitados nos gramados e canteiros.
eu ri também.
trocaram de lugar com os mendigos, que dançavam na manhãzinha aplaudidos, em vez de estarem deitados de porre, tentando se quentar nos primeiros sabres

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Vertigem entre-mundos

Foram 4 dias sem olhar para um espelho.
A higiene é no automático, quando é
Não é necessário fazer muito mais do que lavar o rosto para alguém que tem mais o que fazer
ou já decorou seu rosto.

cheguei à conclusão que quanto menos nos vemos, menos somos corpo e mais razão.
pensamentos.
nos abstraímos e começamos a nos ver como idéias em vez de rosto

*

shampoo não é sabonete
shampoo não lava o pé
pão sem miolo é casca
queijo quente sem queijo é pão
bauru sem tomate é misto
misto com tomate é bauru
misto sem tomate é misto
[e finalmente] mexerica carioca, só 98

*
[e no mundo real]

Damien Hirst expõe em Londres caveira cravada de diamantes

Por Jeremy Lovell
LONDRES (Reuters) - Damien Hirst, o ex-bad boy da BritArt cujas obras enfurecem e inspiram em igual medida, repetiu a dose na sexta-feira com um molde de caveira humana feito de platina e cravado de diamantes. A peça custa nada menos que 50 milhões de libras (98 milhões de dólares).
A caveira, moldada a partir de um homem europeu de 35 anos do século 18, é revestida com 8.601 diamantes, incluindo, no centro da testa, um grande diamante cor-de-rosa que vale mais de 4 milhões de libras.
"Ela (a caveira) mostra que não vamos viver para sempre. Mas também contém um sentimento de vitória sobre a morte", disse Hirst quando a caveira resplandecente foi mostrada ao público pela primeira vez na galeria White Cube, no centro de Londres, em meio a um forte esquema de segurança.



[isso faz lembrar a história daquele general chinês/japonês/sueco(?) que após sonhar que era uma borboleta, disse não saber se era um homem que sonhou ser borboleta, ou uma borboleta que sonhava ser um homem]

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Conflito de Gerações e outras histórias

Domingo, dia 27. Chamava-se "A rebelião dos iguais mais iguais". Texto de José de Souza Martins, professor titular aposentado da Faculdade de Filosofia da USP, a manchete orweliana da reportagem de meia página vertical inspirou receio desde a primeira passada de olho. Logo abaixo da manchete, o resumo do que seriam os próximos 4 ou 5 minutos: Os jovens de classe média que invadiram a reitoria da USP são os novos pobres: de esperança e de boas causas.
Durante todo o trajeto, não faltam gozações das boas maneiras, da habilidade no manejo dos canteiros, e da "temperança no sexo e na comida" dos ocupantes da Reitoria (desde o dia 3 de maio). Martins se utiliza inicialmente desses pontos, e depois a existência das facções políticas em disputa no prédio, para provar sua rotulação: são bonitos e graciosos, porém ingênuos e sem causa.

Sim, existem alguns grupos políticos lá dentro, mesmo que minoria. Sim, são bem educados. Mas por Ds, não entendi a relevância disso. Aliás, achei uma colocação desnecessária, visto que ele, inevitavelmente, nos compara à sua geração- se não de hippies, de punks e de suas destemperanças. Eles tinham pelo que lutar, claro. Nós não temos nada. Sem ditadura, sem URSS. Mas olhe à sua volta e diga se não há nada para fazer. Olhe para a USP e diga se não há nada para melhorar. Agora, peça para não fazermos nada, pelo simples motivo que não se pode comparar ao que vocês fizeram. Martins pode nos chamar de inúteis, ele foi amigo do Florestan Fernandes e assessor do FHC, afinal. Tem muitos livros publicados. Já cumprindo sua sina, hoje descansa ilustre em eventos sociais e colunas em jornais de renome.

Todos os movimentos alternativos que surgem são assimilados pelo sistema, tudo vira moda (e nesse sentido, não tem como não imaginar o capitalismo pós-moderno como aquele monstro "Sem-nome" de Hayao Miyazaki, que engole tudo). Não queira que sejamos estereótipos, atitude em muito condenável.



*

A LG "ameaçou" mudar a produção de Manaus para a Argentina. O governador que, segundo a fabricante, teria cassado a inscrição da indústria, afirma que a a LG está inadimplente no fisco estadual. ¬¬

*
Explicando: "iguais mais iguais" é o título porque os favelados não receberiam o mesmo tratamento dos rebelentos.
Para quem não leu: na fazenda onde se passa a ficção A Revolução dos bichos, os animais fazem uma constituição, e a primeira lei era a que estabelecia a igualdade entre todos os habitantes do rancho. "Todos os animais são iguais".
No final do livro, quando os porcos viram os novos homanos, os mesmos corrigem a lei: "Todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais que outros".



[essa ilustração não está aqui por acaso. Essa é a minha tentativa de reprodução da gravura que a Folha publicou no meio da Opinião nessa semana semana ainda. É claro que o assunto tratado no espaço era sobre universitários]