quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sem nenhuma esperança no mundo

Agonia
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Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Art. 225 da Constituição Federal).
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além disso ele citou algo como, têm direito sobre a propriedade, mas deve-se conservar as belezas naturais, algo meio piegas e necessário assim.

ouvi e pensei em levantar na hora e dizer pra ele ouvir bem, Posso te contratar por um real para abrirmos um processo contra Blairo Maggi, depois a Monsanto...? O que eles fazem é inconstitucional, não é mesmo?








Desmistificando
16/08/2007 - 08h19
Crise nos mercados globais afeta o Brasil, diz 'Financial Times'

da BBC
Os ativos financeiros brasileiros sofreram quedas significativas na quarta-feira (16), na medida em que a turbulência nos mercados globais ameaça chegar a uma parte do mundo que parecia relativamente intocada, afirma reportagem publicada na edição desta quinta-feira do jornal britânico "Financial Times".

Um analista ouvido pelo jornal diz que "o Brasil não é imune" à crise e que o país "está claramente mais exposto à economia global e aos mercados financeiros globais do que antes".

Segundo o jornal, grande parte das quedas nos ativos brasileiros é explicada pelas vendas dos investidores que precisam cobrir perdas em outros mercados. "Mas a extensão dessa queda sugere que os investidores podem estar sentido que os ativos são mais arriscados do que eles pensavam", diz a reportagem.

O jornal cita a desvalorização do real, com o dólar ultrapassando a barreira dos US$ 2 pela primeira vez em três meses, e a queda acentuada da Bolsa de Valores de São Paulo, que acumula perdas de 15% no último mês.

Dívida

"Há pouco tempo, na semana passada, administradores de fundos disseram que os mercados brasileiros eram imunes ao contágio, já que estavam livres de papéis de alto-risco, sem liquidez", afirma o FT.

O jornal observa, porém, que alguns analistas já "argumentam que investidores estrangeiros ficaram expostos a créditos de alto-risco no Brasil por meio de grande quantidade de dívida tomada no exterior pelas instituições financeiras do país".

"No ano passado, US$ 18,8 bilhões entraram no Brasil como dívida externa, a maior parte tomada por bancos. Eles investiram parte disso em títulos públicos de alto rendimento, mas uma grande quantidade foi repassada como crédito ao consumidor", diz a reportagem.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Sem nenhuma importância II

-Você vai lá sábado?
-Ah, vou sim. Eu estou querendo experimentar uns cafés diferentes agora, sabe, aqueles com aromas...

Não. As duas feanas* conversando não me interessam, não naquele momento. Meus ouvidos captam sem muita vontade aquele papo desinteressante, mas meus olhos estão atentos para algo mais sutil (ou tão escabroso que todos fingem que ninguém vê, e torna-se sutil desta maneira. Vamos fingir que é normal, estamos nesse lugar estranho afinal).

(Nome do clube)
Para sua segurança:
-Mantenha sempre seus pertences no armário com cadeado;
-Nunca deixe objetos pessoais sobre a bancada;
-Em caso de presença de pessoas estranhas, favor informar à direção.

Oi, com licença. Eu estava no vestiário quatro, aliás, sempre estou. Mas lá é cheio de pessoas estranhas, achei melhor comunicar-lhes. Tem umas mulheres muito peitudas que jogam vôlei e sempre ficam marcando churrasco, isso caracterizadas como vieram ao mundo. Ok, tudo bem. Mas o que dizer das meninas que entram depois de mim, saem antes, e de cabelo molhado? Isso é muito estranho só pode haver algo errado, não é possível. Eu não demoro muito, e juro por deus, elas saem arrumadas, de salto e brincos. Isso sem tocar na questão das que se trocam em cima das bancadas, no alto mesmo, como se desfilassem. É gracioso, eu sei, mas vocês pediram pra avisar sobre movimentações estranhas, e eu não faço essas coisas. Eu não seco o cabelo naquele lugar, se é que vocês me entendem.

Estou forçando, claro. Dessa maneira meia dúzia poderia reclamar dos meus rituais pós-treinos, eu não sou exceção, ninguém é igual.

Mas aquele dia meus olhos foram sugados para outra dimensão
eu estava me arrumando então
subitamente
aquela mulher me chamou a atenção.

Não são os muitos minutos gastos na frente do espelho grande apertando a gordura da barriga, deformada pela quantidade de tecido adiposo (deve ser por isso que usa blusas de moletom largas). Ela tem uma cor bonita, bem escura, e os cabelos são lisos e negros, bem escorridos... é uma mulher bonita.

Não são, novamente, os milhões de sacolas que ocupam, juro, metade da bancada central - não se tratam de malas ou mochilas, mas sim de dezenas de sacolas de supermercados diversos. Nem o fato de ter tirado um ralador de uma de muitas, e de outra uma cenoura e ter se posto a descascar aquela raiz no lixinho do banheiro.
E depois comido, acuada, com o umbigo à mostra.

Ela estava lá, de top, comendo sua cenoura. Eu já não ouvia mais nada de interessante, eu a lia, somente. Porque tanta vagareza? Não tinha sido a primeira vez que a vira, ela sempre estava com as suas sacolas espalhadas, e sempre com alguma fruta na mão, mas era sempre muito devagar, como se quisesse matar o tempo.

Foi isso. Que nem Ludvik e Lucy, ela bem devagar, tanto que o fez parar, o fez pensar e
Não.
É mais que isso. Sempre sinto pena dela, penso se alguém a está esperando, se ela é que espera alguém, se ela não tem nada pra fazer. Deve ser por isso que eu não paro: de certa maneira eu acho meio deprimente. Ou pena por simplesmente alguém a fazer esperar tanto tempo.
E ela tem de ficar com suas sacolas
E cenouras
Durante muito tempo mesmo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sem nenhuma importância

Sexta feira
Algum lugar da Cidade Universitária

Geralmente sento mais na frente nos ônibus da vida, mas hoje, exepcionalmente resolvi sentar atrás, em um dos últimos cinco lugares - que eram mais altos do que os anteriores, por se tratar de um veículo com o meio rebaixado (esse detalhe é bem inteligível para a maioria dos leitores do meu blog, acredito). Na cadeira da frente tinha um homenzarrão/ um viking alto e loiro, de pele queimada. Não o achei bonito, não o achei feio, não sei se xingava a mãe, se fazia filantropia. Só lembro da mecânica do movimento que repetiu durante os metros em que convivi com ele/ tirava do bolso, enrolava com o indicador e o polegar e atirava as bolinhas formadas em dois garotos que estavam mais pra frente, na fileira oposta.
Inicialmente pensei que se tratava de um retardado, talvez tenha olhado até com alguma compaixão para o pobre diabo. Mas quando, em um certo ponto, subiu um sujeito e se pôs a prosear com o nosso protagonista, meu novo julgamento passeou entre serelepe e revoltado, infantil e vingativo.
E depois pensei que aquele cara de meia idade, jogando papéisinhos x em moleques, fazia tanto sentido quanto eu estar onde estava, dirigindo-me para onde me dirigia.

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Ao escrever sobre o amigo crianção/frustrado, impossivel nao imaginá-lo (mesmo na hora em que o vi) personagem de fábula, de algum conto europeu - daqueles que eu lia quando criança. Sempre tinha a menina de cabelos cor-de-cerveja e lábios botão-de-rosa, o velhinho maldizente que lançava pragas aleatórias, e vez por outra, um homem (quase sempre jovem) forte ou medroso ou vaidoso ou egocêntrico ou valoroso ou fanfarrão ou preguiçoso ou idiota. Idiota.
Esse não foi o único personagem errante que encontrei esses dias.
Acreditem ou nao, ontem, entrando no metrô, cruzei com um velho marujo tentado, ridiculamente, se disfarcar em roupas contemporâneas.
Aquele olhar azul torto inconfundível, de quem passou a maior parte de seus anos enrugando a testa por causa do sol, a toca curta mal posta na cabeca - um vício antigo que nao faz nenhum sentido nessa cidade-, o cachimbo pendente da abertura seca da cabeca (esse, assim como os outros, não tinha belos labios carnudos. nem faria sentido se os tivesse) se formando, ganhando cor, vida naquele corpo salgado.
Não, não era um simples mendigo. Era um velho lobo do mar que se aposentou e tentou viver como o resto do formigueiro.
É claro que nao conseguiu.



*

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sem importância

liberdade é não se importar de levar na cara uma rajada de vento que vem da superfície de um rio poluído

perplexidade é pensar como a água de um lago artificial fica parada ao invés de se infiltar e vazar mundo afora

simplicidade é se impressionar com um pôr-do-sol horroroso, se pondo no cinza

alívio é ver outrem tropeçando pateticamente na entrada da livraria, exatamente como você fez minutos antes

depressão é ouvir Radiohead antes de dormir
ou ainda: sucumbir a uma poesia engraçadinha

medo é não ter certeza se andares de prédios não tem pretensão de formar sanduíches

liberdade é usar sandálias para caminhar.

domingo, 5 de agosto de 2007

Sem Sentido II









Sem título

nada
nada
nada.
não há vontade de fazer poesia
não há vontade de escrever com caneta ou com teclas
de um jeito odioso de cansado-velho
de quem fez pouco e acha muito.

a verdade é uma estrada
e a liberdade são escolhas de algemas.
a estrada é feita de feira, e você vai escolhendo os grilhões: eu quero esse, esse...
rosa peludo? clássico, mas quem sabe essa versão de silicone tecnológico que solta cheiro de ipê,
seria uma boa.
felicidade é uma escolha.
não é algo que é, que vêm,
é algo que você diz sim, agora, e se obriga.
é algo que você escolhe quando escolhe não pensar também,
é algo de procrastinação
de escolhas de agora que no futuro (que nem um outdoor de terceira categoria)
vão mudar sua vida.

me pergunto por que fazer isso agora,
por que ter certeza de algo depois,
se não dá mesmo pra viver do jeito que vai dando na cabeça
por que precisa ser planejado.
e me sinto defasada por não ter feito planos,
por não escolher cadeias, mas sim tomá-las emprestadas,
desfilando com pulseiras azuis em um domingo de sol,
despretensiosamente.

eu não sei o que eu quero
ou se é só preguiça,
perseguir um cheiro forte ao invés de ficar por aqui
tropeçar em um corpo caído
e se apaixonar por toda aquela simplicidade.
o mundo gira tanto que me deixa tonta,
me dá ânsia.

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e-mail de um amigo para a Detran:

"Venho por meio deste demonstrar meu desagrado com o regimento interno do Detran-SP. Fui impedido de realizar prova teórica no orgão por não estar vestindo calças, e sim bermuda. Tendo em vista que vestimentas refletem o gosto ou a cultura de um indíviduo, coloco que este impedimendo caracteriza-se como um preconceito socio-cultural. Enquanto as roupas cobrem o corpo o suficiente para não constranger aqueles próximos, cumprem seu papel. Restringir seu uso, além do caráter preconceituoso, leva à exclusão daqueles que não podem adquiri-las por motivos financeiros. Gostaria também de salientar que este tipo de posição perpetua costumes arcaicos, que há muito deviam ser abandonados pelos órgãos públicos brasileiros, muitos deles característicos de tempos nos quais a democracia e o respeito à pluralidade não eram valores sociais."

[Da primeira vez que li, eu ri, achei muito divertido.
Depois, pensei se seria melhor chorar por ver um exemplo tão bonito de fé, enquanto eu me revoltaria e, em vez de fazer algo, aumentaria o rancor contra o país que não deu certo.]


[esse post é tão sem sentido quanto essa foto. Tudo que há nela, tudo que diz respeito a ela. Com o perdão do amigo, e da imagem]