quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Mudança energética e social

Quem passou pelo blackout na semana passada deve ter tentado se informar dos motivos, e visto várias vezes o governo estadual colocar a culpa no federal, e assim por diante.

Quem ficou muito revoltado com a administração petista, tem o direito de ficar também com o mandato malufista do Serra, que começou a fazer obras loucamente na marginal. O problema não é "construir coisas", mas sim construir de qualquer jeito, pra ficar pronto antes do fim do mandato. Ampliação
no sense da marginal Tietê de São Paulo, desastre do rodoanel, problemas no abastecimento de água... Vale lembrar que o fechamento das pontes deixou o povo da zona norte completamente prejudicado para se locomover de um local a outro da cidade.

Toda obra que privilegia carros em SP, em detrimento do transporte público ou ecologicamente viável, tem data de validade curta, e não passa de um tiro no pé pra quem irá a Copenhague discutir metas de redução de CO2, desmatamento etc. Se tiver mais espaço pra eles, terão mais carros, a não ser que se estabeleça limites para eles e, claro, melhore a infraestrutura de transporte público. Não só mais ônibus e corredores para eles, também metrô, trem, teleférico e o que mais existir no mundo de tecnologia urbana para domar o caos.

Ufa! Desabafei meu descontentamento com o sistema rodoviário municipal (leia-se administração psdebista). Mas vamos tratar do assunto mais interessante dessa postagem, que o nomeia inclusive, e diz respeito ao governo federal: o blackout da semana passada.

Passei muito medo naquele dia. Achei que o mundo ia acabar. Algumas pessoas que também estavam fora de casa disseram que perceberam um mundo melhor, com as pessoas se ajudando, se olhando, pegando na mão. Não sei se eu estava numa parte mais frígida da cidade, mas não senti nada caloroso. Senti muita dificuldade pra dividir a rua com carros enlouquecidos. Mas não vou divagar sobre minha experiência pessoal. Por mais que eu quisesse há coisas mais interessantes pra tratar aqui.

Eu me dei mal por uma noite, mas e quem está se dando mal há muitos anos? Ao menos no meu blog eles merecem um espaço, e o terão daqui a pouco. Vejam explicações que vão muito além do binômio FHC-Lula. Com a palavra, o Movimento dos Atingidos por Barragens:

Posição do MAB frente ao Apagão
Movimento dos Atingidos por Barragens


No dia 10 de novembro à noite, pouco depois das 22 horas, ocorreu um apagão de energia elétrica e durou em torno de 4 horas até voltar à normalidade. O apagão atingiu 18 estados, onde SP, RJ, ES e MS o desligamento foi total. Milhares de cidades foram afetadas. Dias antes, o povo brasileiro havia sido informado de que as empresas haviam cobrado indevidamente 7 bilhões de reais nas contas de luz.
Estamos assistindo a um conjunto de explicações e versões que, em grande parte, não revelam o teor e as verdadeiras causas que levam a ocorrer fatos como este do desligamento da energia para milhões de brasileiros.


O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) não quer alimentar o circo estabelecido entre empresas, governos e setores que representam o modelo privatista de FHC e Serra. Eventos como o que aconteceu podem ocorrer e mais do que discutir o fato em si, devemos aproveitar este momento para intensificar o debate para o que nos parece central: a insustentabilidade e o mal que o atual modelo faz para o Brasil e a necessidade da criação de um novo projeto energético e social.
Por isso, nossa posição está dirigida ao povo brasileiro e a todos aqueles setores que estão mais preocupados em construir um Projeto Popular para o Brasil - com soberania energética e sob controle popular - do que com as disputas eleitorais que tendem a ser o principal pano de fundo desta polêmica.
A princípio, o setor elétrico deve ter todas as medidas de prevenção garantidas para que não ocorram estes problemas

NO NOSSO ENTENDIMENTO, A CAUSA PRINCIPAL do apagão É:
1. O modelo energético neoliberal, que privatizou e entregou o patrimônio do povo nas mãos de grandes empresas privadas transnacionais, vai em direção contrária aos interesses do povo brasileiro. Este modelo teve início nos anos 90, principalmente nos governos Collor e FHC, e em grande parte perdura até os dias de hoje;
2. Este modelo transformou a energia elétrica em uma mercadoria com o objetivo principal de extrair as mais altas taxas de lucro tendo como principal forma a negação dos direitos das populações atingidas e a cobrança dos mais altos preços nas contas de luz;
3. Com isso nos distanciamos ainda mais da soberania energética, e ficamos subordinados aos interesses dos grandes grupos econômicos mundiais que passam a tomar as decisões estratégicas e se apropriam do patrimônio público nacional;
4. Todo este modelo é dirigido pelo capital financeiro baseado na especulação, na super-exploraçã o dos trabalhadores e na destruição da natureza;
5. A privatização da energia fracionou o setor elétrico em geração, transmissão, distribuição e em comercializaçã o de energia elétrica, o que torna o modelo menos eficiente e mais suscetível a problemas como ocorreu;
6. A criação de mecanismos como a ANEEL, a ONS e a CCEE, espaços controlados pelas empresas privadas, servindo aos interesses destas;
7. Os privilegiados são os grandes consumidores, setor eletrointensivo[1] exportador, os chamados consumidores livres, que não são mais de 665 empresas (como a Vale, Gerdau, Votorantim, entre outros). Devido aos subsídios que recebem, pagam menos de 5 centavos pelo kw, enquanto o povo brasileiro nas suas residências paga mais de 50 centavos pelo mesmo kw de energia. O povo brasileiro paga 10 vezes mais que as grandes empresas;
8. Chamamos atenção especial que o apagão de 1999 e de 2001 serviram para que através do ‘seguro apagão’ o povo brasileiro pagasse 45,2 bilhões de reais (dados do TCU) nas contas de luz todo mês. Além disto, o pânico de escassez ajudou as empresas e a Aneel justificarem aumentos nas contas de luz (mais de 400% nos últimos anos) e acelerou a construção de novas barragens;
9. Esta lógica instalada no setor elétrico, de extrair as maiores taxas de lucro com o menor tempo possível, faz apressar e passar por cima de normas e procedimentos necessários para o bom funcionamento do setor. Redução de equipes e de quadro técnico, trabalhos terceirizados, trabalhadores mal remunerados, precarização e intensificação do trabalho, redução de exigências ambientais estão entre algumas das várias ações práticas que se pode verificar no dia a dia;
10. Alertamos que os freqüentes erros que estão vindo a público, como o reconhecimento através da CPI da ANEEL dos altíssimos preços cobrados e o escândalo da cobrança irregular dos 7 bilhões a mais nas contas de luz, o reconhecimento de que o estado tem uma enorme dívida social com o povo que foi expulso pela construção de barragens e o atual blecaute são fatos reveladores das enormes dificuldades enfrentadas pelo atual modelo.

Nesta situação, propomos:
1. Deve-se paralisar imediatamente o processo de privatização do conjunto do setor elétrico;
2. O governo e o estado devem reassumir imediatamente o seu papel no controle da energia elétrica para que possamos caminhar rumo a um projeto com soberania energética e popular;
3. Deve-se investir prioritariamente para que todos os processos de produção, distribuição e uso de energia sejam pautados por uma política de racionalidade, conservação e economia de energia;
4. Devemos caminhar para que a energia atenda, em primeiro lugar, aos interesses vitais do povo brasileiro e, portanto, devemos combater o modelo eletrointensivo exportador de energia, que nada trás de benefícios ao nosso país;
5. Exigimos imediatamente a redução dos preços da energia elétrica e a devolução dos 7 bilhões de reais ao povo brasileiro;
6. Exigimos o cancelamento de projetos, como a Hidrelétrica de Belo Monte, que vai penalizar o povo brasileiro e a Amazônia para beneficiar meia dúzia de empresas transnacionais;
7. Exigimos o imediato pagamento da dívida social que o estado brasileiro tem com as populações atingidas por barragens.

Por fim, reafirmamos que "água e energia, não são mercadorias" !

São Paulo, novembro de 2009.
Coordenação Nacional do MAB


[1] Eletrointensivo é aquele cujo valor da energia elétrica utilizada represente mais de 25% (vinte e cinco por cento) do custo da mercadoria produzida. Central na produção de aço, alumínio, cimento e metalurgia, entre outros.

domingo, 25 de outubro de 2009

Como conscientizar roomates

O sr. K. preferia a cidade B à cidade A. "Na cidade A", disse ele, "as pessoas gostam de mim; mas na cidade B foram amáveis comigo. Na cidade A colocaram-se à minha disposição; mas na cidade B necessitaram de mim. Na cidade A me convidaram à mesa, mas na cidade B me convidaram à cozinha".

Histórias do sr. Keuner,

Bertolt Brecht


Eu não quero que você só frequente essa casa. pra você se sentir mesmo em casa, você tem que ajudar a construir. Então você pode limpar a geladeira, por exemplo. vamos dividir as tarefas! vou compartilhar com você essa experiência maravilhosa de se sentir parte de um lugar. você tem tanto direito quanto eu. Um brinde!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O falso madrugador

Todo dia é igual.
Acorda às 5h30 sem chance de reclamar. Engole o pão com manteiga de mal humor, e se arrepende de ter se deitado tarde. Mas é sempre assim, é impossível ir pra cama cedo. As tarefas urgem, se não abrir os livros a fúria da necessidade os consumirá sozinho. Sem chance.
Nessa luta quem sai perdendo é o sonho, a vitalidade e a juventude.
Às seis da manhã, com o café já engolido, volta ao quarto para pegar o que falta e se mandar de casa. Senta na cama, aquela que ele a princípio despreza e luta para se afastar. Mas ela envolve tão quente com a sua maciez, e ele resolve ceder, voltar arrependido ao lugar que nunca gostaria de ter deixado
[algum lugar dentro da sua mente, no mundo dos sonhos.
E com a luz acesa, meia roupa vestida, mochila na mão, dorme como um menino. Não levanta antes que o sol esteja totalmente vertical.
Essa noite será a mesma coisa, e em algum momento ele amaldiçoará a sina de ter que acordar cedo, de novo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poema fundador

Entra ano, sai ano e continuo ligada ao centro acadêmico da eca, o calc. Estamos - eu mais nove ou dez colegas amigos - encerrando a gestão elefante, cujo manifesto inicial eu colei neste blog. Estou participando de uma nova formação de chapa, que tem vários elefantes, mas há várias novidades esse ano.

A principal delas é que estamos competindo! desde 2004 não tinha mais de uma chapa concorrendo. Por enquanto o debate foi tranquilo, mas todos da chapa já perceberam as nossas diferenças. Mesmo que, no começo, achava que as chapas deveriam se unir. Eis nosso poema fundados, trazido pela colega cênicas Lira. Divirtam-se!

Canção do não tempo de lua

(Mário Lago)



Amada não me censure, se sou de pouco falar

Nem se esse pouco que falo não faz você suspirar

É tempo de vida feia, de se morrer ou matar

De sonho cortado ao meio, de voz sem poder gritar

De pão que pra nós não chega, de noite sem se acabar

Por isso não me censure, se sou de pouco falar


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A lua é bonito? É

A rosa é bonito? É


Mas criança chega a homem se a bomba quiser

A mulher só tem seu homem se a bomba quiser

Homem sonha e faz seu sonho se a bomba quiser

Não é tempo de ver lua nem tirar rosa do pé

Amada minha não chore se nunca falo de amor

Nem se meu beijo é salgado, que é beijo chorado em dor

É tempo de vida triste, de olhar o seu com pavor

De mão pro último gesto, de olhar pra última flor

De verde que era esperança trazer desgraça na cor

Por isso amada não chore se nunca falo de amor


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A Lua é bonito? É

A rosa é bonito? É


Mas criança chega a homem se a bomba quiser

A mulher só tem seu homem se a bomba quiser

Homem sonha e faz seu sonho se a bomba quiser

Não é tempo de ver lua nem tirar rosa do pé



Amada não vá embora se eu trouxe desilusão

Se aumento sua tristeza, tão triste a minha canção

É tempo de fazer tempo, de pegar tempo na mão

De gente vindo no tempo em passeata ou procissão

No mesmo passo de sonho pra bomba dizendo "não!"

Amada não vá embora, mudou a minha canção!


Pois criança vai ser homem porque a gente quer

A mulher vai ter seu homem porque a gente quer

Homem vai fazer seu sonho porque a gente quer


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A lua é bonito? É

A rosa é bonito? É

Vai ser tempo de ver lua e tirar rosa do pé

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Café da manhã com o presidente

Empresa. Alguns funcionários tiveram a idéia de fazer um café da manhã coletivo e socializador. Afinal, no dia a dia a redação quase nunca entra em contato com o comercial, e vice versa.
Agora de manhã, estavam todas as hierarquias reunidas, comendo. E entre mastigações, aparecia uma frase aqui, outra ali, mas nenhum assunto integrava.
Olhares explorados miravam desconfiados, e devoravam pedaços de bolos, pães recehados, croissants, doces. A mesa farta era cenário da peça.
No que estavam todos unidos e ritmados, era na digestão do silêncio.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

futuro

nos matar de trabalhar agora para descansar depois.

esse descansar seria na verdade ocupar uma posição desejável e confortável, ter sucesso. O que não significa, absolutamente, descansar mesmo.

Companheira, isso é conversa fiada. Nos mataremos agora, e nos mataremos depois. Se é essa a escolha que fazemos agora.

Sempre permitiremos, sempre seremos insatisfeitos.

Não acho que é tão fácil a opção de não prestar atenção no mercado... É só que deve ter um outro modo de encararmos as coisas. Sabe, dar uma roubada no jogo.

Eu trabalho ok, mas... eu não me mato, eu tento fazer o que eu quero também. dedicar tempo ao que me faz feliz.
Dá pra roubar assim?

Nunca teremos uma vida completa se só nos entregarmos... Mas existe felicidade na resistência? Relutar sempre faz a vida de alguém ter mais sentido?

Alguém mais respira apressadamente com a mente em turbilhão, tentando achar razões para toda a nossa complexidade?
Quando faço isso tento afastar o sentimento de resolução de problemas, imaginando que não é mais pensamento que me ajudará a organizar minhas razões.

pensamento confuso de trajetod e ônibus.
Aliás, o ônibus. Isso é outro tópico... Boa noite

domingo, 5 de julho de 2009

Rom rom

Andavam de carro como muitas vezes faziam. Quando chegaram na altura da Rebouças com as Clínicas, o que dirige comenta do ato de banalizar aquele momento. Quando crianças, dirigir era tudo que a gente queria, e agora, andamos sem prazer nenhum. Imagine um brinquedo desse tamanho! O companheiro riu e concordou.
Quantos não sonharam em ter um buggy, ou o tiveram?
Lembro que uma vez, aos oito anos, discuti com alguns amigos da classe sobre as vantagens e desvantagens de ser adulto. Eu e uma amiga defendíamos que o melhor seria ser sempre criança, não queríamos crescer.

[E mesmo que não fizesse diferença, tentamos torcer para que isso não acontecesse, ou outra coisa supersticiosa]

Um amigo, no entanto, queria crescer, e um dos argumentos que ele usou foi que queria dirigir. Na hora falei que deveras seria bom dirigir, que valia a pena ser adulto para fazê-lo. Hoje acredito que nem naquela hora me convenci.
Voltando ao cruzamento da Rebouças com as Clínicas. O motorista acelera, Iupiiiiii!. A carona acompanha na empolgação, e os dois gritam tentando buscar o prazer que uma criança sentiria nisso. Os gritos acabam perto da Brasil.
A responsabilidade quando se adquire um automóvel pesa tanto que hoje em dia não faz diferença, defendeu a carona, buscando a solução mais próxima para o constrangimento que foi se esquecer como se diverte uma criança.

Eu nem vi quando foi a transição... era pequeno, pagava pau pro buggy do meu amigo, um quadriciclo na verdade. Daí, em equitação pensava como era bom cavalgar, ser impulsionado como nas costas do meu pai. Constantemente sonhava com meu poder de voar, batia os braços de levinho pra impulsionar e alcançava os maiores andares do meu prédio, era fantástico se mover.

Porém nunca associei essas sensações ao andar de carro com os pais, era mais como um quarto parado. Talvez por estar sempre no banco de trás, não sentia como se o carro fosse extensão do meu corpo.

O tempo voa mais que eu-no-sonho e quando lembrei de cavalos, já estava com o ronco da motobike entre as pernas, tinha 18 anos. E sim, foi muito divertido no começo, cada ladeira que pegava era um sorriso e arrepios. Daí fui pra São Paulo aos 20, e tive de pagar a gasolina, mostrar documento pro guarda, andar na chuva, derrapar na chuva, estacionar na chuva. Aos poucos foi ficando mais fatigante se deslocar dirigindo, com toda responsabilidade implicada. Vou à aula de metrô.


Por Lia e Rael]

domingo, 28 de junho de 2009

visita

Sozinha, na labuta, música de teclas
[o silêncio falso recheado de dedos batendo volumosamente]
E espia da janela os anos velhos, com um olhar cheio de lágrimas de saudades
com o rosto enorme ele assopra bafo que me pega desprevenida
e o cheiro é antigo mas é bom. não mofo, juventude.
a brisa dos outros anos me alcança, penso em esquecer a labuta e o desprazer
me entregar ao frívolo mais importante, que era o da não-preocupação e descanso.
o shorts-e-chinelo em tarde de sol, conversas despretensiosas e cheias de esperança quando o assunto era futuro. Eram só possibilidades, e tudo dependia da gente, da nossa força e vontade.
Agora, por mais que eu tenha vontade tudo parece que o mundo empaca. Não depende mais só de nós. Depende do resto do mundo, e esse é que é o problema que nos impede de voar rápido e longe.
[Voltando à cena]
ignoro os velhos anos, o vejo com o canto dos olhos mas não viro meu rosto para o mirar.
a brisa que me alcança docemente é tempestade disfarçada
sei que se me virar e mirar
[ainda que não o faça]
aqueles olhos melancólicos dos outros anos
eles estarão cheios de ventos furiosos

desejo me entregar à tempestade disfarçada de brisa mas
daqui a algum tempo quem me virá incomodar na janela será a música feita por teclas
e não me esquecendo disso é que continuo exatamente onde comecei

quinta-feira, 11 de junho de 2009

9 de junho

Não sou muito curiosa. Quando entraram no laboratório de redação gritando que a manifestação tinha virado quebra pau, amaldiçoei mas me neguei a ir até lá ver. Quando meus colegas começaram a deixar a sala, tentei lembrá-los da reunião que tínhamos - e que deveria ter acontecido há tempos -, mas na balança deles esse fato pesava mais. Então segui o caminho mais feito no momento por não entender de fato o que estava acontecendo, e planejar fazer uma reunião rápida enquanto as outras coisas rolavam.

Não vou contar o que houve, porque acho que já viram suficiente nos meios de comunicação (e coloquei uns links abaixo). Mas estou animada com a resolução da minha classe de fazer um jornal especial, com esse tema do confronto na USP com plano de fundo para todo o resto. Se tudo sair como planejado na reunião da pauta, será um exemplar pra ser guardado!

Quando mais tarde me perguntaram como foi a confusão, consegui resumir em uma palavra que fez muito sentido pra mim: humilhação. Sim. Enquanto, na praça do relógio, corria assustada da tropa de PMs em meio a fumaça e barulhos de tiro, a minha sensação era de um desrespeito que nunca tinha sentido.

Pela primeira vez em meio a um ataque da polícia (não, não costumo frequentar estádios de futebol), tremi compulsivamente desde o primeiro barulho de tiro que ouvi. Na fuga pelo microcosmo de cerrado representado imbecilmente na praça, quando um funcionário reclamou que desde o começo deveriam ter pego pedras pra se defenderem, me segurei pra não chorar.

Ok, relato muito sensível. Mas pra mim, a invasão, perseguição e acuação que os alunos sofreram pela polícia militar foi isso. Ver a ilha de sonhos a qual estamos acostumados se transformar em palco de guerra.
Não concordo com tudo que acontece por aí, com todas as posições estudantis, com toda resolução da Adusp, do Sintusp... Mesmo por que não existem pautas de reinvidicações fechadas, tudo é contestado a todo momento, e deve, é assim que são feitos os caminhos. De muitas falas. Mas se existe algo que eu não concordo, é ver uma manifestação ir para o buraco desse jeito, perseguição política e a postura autoritária da reitoria e do governador. Mas aí já é assunto para outro post. Peço perdão pelo mistério, mas não quero lavar roupa suja (imunda) agora. E também sinceras desculpas pela quantidade absurda de links, bem mais do que o normal, mas é um jeito de organizar as coisas muito conveniente!

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arquivo sobre o ocorrido, quem quiser mandar boas matérias escreva nos comentários que eu adiciono.

Fotos
pessoais no flickr.

Galeria de imagens do Uol

Textos

Professores da USP pedem saída de reitoria, UOL educação

Comunicado da Adusp sobre pedido de renúncia da reitora, Tatiane Klein

Estudantes da USP São Carlos fazem protesto

Entre bombas e cacetetes na USP, Paulo Moreira Leite

Após conflito, vice-reitor da USP promete tirar Tropa de Choque do campus, Camila Souza Ramos (colega e amiga)

Sindicalista é preso, Carolina Oms (também amiga e colega!). Só esclarecendo, na mesma noite ele foi solto junto com os outros funcionários e aluno.

PM transforma USP em praça de guerra, Caros Amigos

Vídeos


Fora PM do Campus

A repressão da PM na USP 2009


Charges










de Carlos Latuff

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Renúncia de reitora

Professores protocolam declaração pedindo renúncia de reitora
Declaração foi protocolada junto à Reitoria na tarde de 10/6, por deliberação da assembléia dos professores



Declaração da Assembléia da Adusp de 10/6

A Universidade de São Paulo tem desrespeitado, há anos, no seu cotidiano e nas suas instâncias de decisão, o Artigo 206 da Constituição Federal que define o princípio da gestão democrática do ensino público. O desrespeito fica evidenciado pela ausência de diálogo sempre que deliberações de Conselhos de Departamentos, Congregações e do Conselho Universitário acontecem sem a devida participação de alunos, docentes e funcionários. Nos últimos meses testemunhamos algumas dessas deliberações que, no lugar do diálogo, impõem de maneira autoritária suas decisões, gerando conflitos e desgastes desnecessários entre as partes envolvidas: demissão política de um dirigente sindical, o ingresso da USP na Univesp, a reforma estatutária da carreira, as mudanças no exame vestibular, entre outras. As três últimas, aliás, foram tomadas sem razões acadêmicas que as sustentem.


A crise atual vivenciada pela USP, originada pela negociação de data-base, como vem acontecendo nas negociações dos últimos anos, a ausência de diálogo exacerbada pela ruptura por parte do Cruesp da continuidade da negociação, culminou com a solicitação, por parte da reitoria da USP, da presença da Polícia Militar, provocando a violenta repressão que vivenciamos na tarde de ontem no campus Butantã da USP.


Em função dessa sucessão de acontecimentos:


“Os professores da Universidade de São Paulo, reunidos em Assembléia no dia 10 de junho de 2009, em face dos graves acontecimentos envolvendo a ação violenta da Polícia Militar no campus Butantã, vêm a público exigir:

1.a renúncia imediata da professora Suely Vilela como reitora da Universidade de São Paulo;
2.a retirada imediata da Polícia Militar do campus;
3.que a nova administração adote uma medida firme para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;
4.que se inicie também imediatamente um processo estatuinte democrático.



São Paulo, 10 de junho de 2.009.



Adusp-S.Sind.

Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

terça-feira, 2 de junho de 2009

Previsão de tempo

Quando percebi com empatia, o esforço que as luzes faziam para atravessar a atmosfera, sabia que uma palavra conseguiria expressar tudo que sentia. Esta palavra demorou a vir à minha cabeça: pastoso. Sim, é a melhor palavra para descrever o ambiente noturno do meu caminho.
A viscosidade da noite - das partículas de noite - pesava na luz, e estava até difícil respirar. Basta saber se ar pesado faz mal a alguém.





*
-Não sei se te entendo muito bem, queria poder ajudar mais.
-Acho que não dá mesmo, você tá do lado de fora.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

notícias de um campus sombrio


Segunda feira, 8h da manhã. A USP acordou invadida. Reitoria chama a polícia para reintegração de posse de algo que não estava ocupado.


Tentavam enfraquecer a greve dos funcionários impedindo o piquete nas entradas administrativas. Os chefes dos locais abertos (reitoria, antiga reitoria e Coseas) pressionavam seus funcionários para voltar à labuta.


funcionário do Sintusp amarra faixa. "A última vez que entraram tantos PMs aqui foi em 89", gritava Brandão no microfone do carro de som.


16h DCE ocupado da USP. O diretório central dos estudantes, tão disputado e discutido até um ou dois meses atrás, encontra-se meio abandonado e sem planos. A movimentação geral da USP engoliu o assunto. É uma pena que um lugar com tanto potencial está esvaziado.


Não sei quem ou quando.


Mas espero que algum dia isto seja parte das idéias de muitos que estiveram ali pela primeira vez desde a reforma, ao invés de quintal destruído de guerras e disputas sem um fim claro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Despedida

quando sair feche a porta.

apague a luz]

quinta-feira, 16 de abril de 2009

um tempo atrás


não é muito, mas há um ano você veio me visitar. não me recordo ao certo como combinamos, mas o motivo era claro, ao menos pra mim. foi uma tarde de conversas com dentes, e sorrisos, e não me lembro de mais de cinco palavras. é claro que eu não sabia o que dizia, eu só não-pensava olhando seus cabelos, e seu jeito que me parecia tão charmoso. a calça social com o tênis, o pisar leve. olhar pra baixo às vezes, fuga. eram detalhes que me pareciam especiais e graciosos. por fim, só pude dizer algo quando era tarde demais e você já ía. é, quando estava de saída que eu agi pela primeira vez naquele dia, e mesmo que você não tenha agido conforme eu esperava, foi uma época muito boa, de quebra de muros. cá estamos, e aquele momento de coragem - que foi um momento de esquecimento de todos os pressupostos e temores - reverbera até hoje, me enche de alegria.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

de ontem (tanto)

And babe
Oh, dream about me
Lie, on the phone to me
Tell me no truth
If it is bad
There's enough in my life
To make me so sad

Just dream about
Color fills our lives

*
just dream about
colors fields of lights
*
the breath was a lullaby for
the other meatloaf in that quarter room
quietly
cools my disturbed soul to closed eyes

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Começou...

cuidado todos! você pode ser o próximo! foto de obama discursando na Turquia e respectiva legenda que estava no site da folha:



"Na Turquia, Barack Obama afirma que membros do Partido dos Trabalhadores de Curdistão estão na lista de terrorismo dos EUA"
a notícia aqui

a não esperada prova dos otimistas, que viam em obama uma nova era para os EUA se arrependerem do próprio terrorismo internacional. não exigir que a Turquia se acerte com os armênios pelo genocídio de 1915 é um claro desdém pela paz que eles tanto evocam em discursos vazios.

"trata-se de saber se queremos viver numa sociedade livre ou se queremos viver enuma espécie de totalitarismo auto-imposto, com o rebanho assustado marginalizado, conduzido em qualquer direção, aterrorizado, gritando slogans patrióticos, temendo por suas vidas e idolatrando o líder que o salvou da destruição, enquanto as massas adestradas marcham em passo de ganso obedecendo ao comando e repetindo os slogans que devem ser repetidos enquanto a sociedade deteriora a olhos vistos. acabamos por servir a um estado mercenário e repressor, à espera de que os outros nos paguem para esmagar o mundo. as opções estão colocadas e as resposta a essas questões está nas mãos de pessoas como você e eu".
Noam Chomsky, professor estadunidense, crítico da política de seu próprio país em controle da mídia

domingo, 29 de março de 2009

manifesto simples da tristeza (free tears)

tem coisas que não adianta escrever que não passa.
talvez elas só passem se forem berradas à exautão, mas já que ninguém vai querer ouvir não grito. e percebo que estou só eu.
então, ao menos vamos aproveitar nosso livre-arbítrio de irmos de cara fechada. de deixar lágrimas em todos os estabelecimentos. de não responder bom dia, por que é um mau dia pra você!

[um espaço de berro sutil]

Viva o livre arbítrio!
Eu posso carregar a tristeza
e cultivá-la!
e sem ninguém pra dizer que não posso tê-la, que não mereço a melancolia!

Queremos melancolia para todos!

TODO HOMEM É LIVRE PARA LEVAR A MELANCOLIA QUE QUISER OU NECESSITAR, SEM PRECONCEITO DE IDADE, COR, GÊNERO, CONDIÇÃO SOCIAL, EMOCIONAL, FÍSICA, PRATO PREDILETO, SABOR DE CHUVA, TEMPERATURA DE PASTEL, CONSISTÊNCIA DE NUVENS!

as nuvens estão chegando. vou-me já já, deixá-las aqui a entretê-los, já passou da minha hora e vou-me carregando minha planta de dor (que aliás, é totalmente legítima, com nota fiscal, duvide quem duvidar)

sexta-feira, 27 de março de 2009

poema condicional

mulher,
branca
a desvalorização, a auto-piedade, o choro, a reflexão, a liberdade
a prisão de ser mulher, a benção
a pilula. pilula, polia, pholia, piedade, prisão, auto estar bem e muitas outras coisas.
inclusive a saudade, a estupidez (idiota!), o amor. amor, auto estar bem, outro estar bem, voo, saudade, prisão (idiota!)
letras de infancia
logica retorica
sai a agua, por fim

celular, corpolar, copula, coppola
(ble!)

sábado, 7 de março de 2009

Espaço para protesto II


[Ah, comunicação]

A respeito do caso do post anterior. Ditabranda. Sabe, não me espantei com essa "mancada" da Folha. Reeditar a história, amenizar situações insuportáveis: tudo isso e mais é esperado de uma empresa de comunicação dentro do mundo atual. Primeiro, por serem empresas, elas vendem um produto privado, falam o que querem, com ou sem compromisso. Há que se ganhar dinheiro, mas a principal função ou compromisso ideológico, é manter a ordem na sociedade. A fim de que os que estão no poder possam continuar enriquecendo com a mão de obra brasileira.
Por serem empresas e não as vozes das comunidades que por aqui vivem, não publicarão o mais relevante, informações preciosas para que as medidas corretas possam ser tomadas pela população. O que entra é a distração, o bonito. Ou o maquiado, tomadas políticas e econômicas apresentadas de modo distanciadas. Ah, Brasília! O FMI, o PAC, o Celso Amorim, é tudo distante.
O jornal não se preocupa em informar a sociedade sobre como ela pode se aproximar disso tudo - de um jeito racional, não o anarquismo erroneamente corrente de todo mundo opinando sobre todas as decisões nacionais. E um jeito de aproximar as pessoas do centro seria uma cobertura dos movimentos civis. Das atitudes concretas de pessoas e grupos que querem opinar sobre as diretrizes econômicas, querem questionar as medidas políticas, ter voz em consultas abertas à população. Pessoas que querem se informar, para que haja democracia de fato.
É por isso que as empresas de comunicação (o alto escalão), preferem mostrar as celebridades. Por que no site da Folha, na página inicial, as notícias daquele mundo (distante também mas cheio de gliter e strass e coroas de flores) ficam no canto esquerdo, na parte mais alta? Acho que é conhecimento de muitos de que esse é o primeiro lugar que a totalidade olha em uma página. Não sou excessão. Mesmo sem querer, por exemplo, fiquei sabendo que Angelina Jolie esqueceu jóias em um hotel inglês. E que quando chegou em Los Angeles ligou correndo para lá e, benza Deus, eles tinham guardado os apetrechos milionários. Fim da história, boa noite.


[protesto em frente ao prédio da Folha de S.Paulo, mais aqui]

Causo pessoal sobre a "mancada" da Folha
Pra quem não me conhece pessoalmente, estudo em uma escola pública de comunicações e artes, mais exatamente no departamento de jornalismo e editoração. Bom, até em memória de professores que tiveram parentes mortos no regime tínhamos de nos juntar ao coro de protesto pela Opinião demais da conta do jornal que falamos até aqui. E por que não fazer uma intervenção na aula optativa ministrada pela tal empresa no nosso departamento? Que acontece há cinco semestres às sextas feiras nove horas da manhã? Sim, nós estudamos aqui e não vamos deixar que pensem que não estamos inconformados. Que concordamos com qualquer coisa que opinam porque queremos trabalhar lá (falo em nome de muitos, como verão a seguir). Cartaz um aqui, na entrada, dois aqui, na sala de aula. Tudo pronto. Antes das nove chegam dois jornalistas, palestrantes do dia.
"Ah, hahah, erraram, a aula de hoje não será sobre a ditabranda", comentou a editora de treinamento Ana Estela sobre um cartaz irônico que nomeava a aula. O colega dela preferiu não se manifestar à esse respeito.
Os dois deram a aula impedindo perguntas acerca do editorial, pois além de não ser o tema da aula, eles não tinham a ver com a diretoria, autora de fato. Mas quem quisesse conversar sobre a opinião pessoal deles, poderia fazer após a aula. Meus colegas que foram intervir também, tiveram que sair para trabalhar, mas eu pude aompanhar uma boa parte da palestra. Os dois foram simpáticos, e humanizar o jornal - ou quem está por trás dele - é um dos objetivos da matéria na escola. Vide o trabalho final: por meio do manual de redação mais aulas, ter idéia do que a Folha considera u jornal perfeito. A partir daí analizar alguma notícia e perceber os pontos que vão contra as idéias da empresa. A última parte é a conversa com o autor da notícia escolhida, para que ele se "explique".
Oras. Isso provará ao aluno a boa vontade tanto do jornal quanto do profissional por trás. Humaniza-se os problemas, e o problema começa a ser melhor. É claro que isso é interessante, que os jornais são feitos de gente também. Mas perdem-se os detalhes (não seria ruim se sempre fossem detalhes, pequenos). O profissional tem razão de achar que, sair no jornal do dia seguinte que caiu uma ponte não sei onde é informação relevante e que isso dará poder de escolha aos que vão viajar por aquele trecho por exemplo.
Mas e o resto que não foi publicado? E quem não tem dinheiro pra comprar o jornal e acabou indo por aquela estrada? E agora, o que tem a ver com o mote do post, porque diabos Hugo Chavez no editorial?



O referendo na Venezuela, ok. NÃO! NÃO apenas isso. Fala-se de Chavez o tempo todo. De Ronaldo também, e isso especificamente me deixa louca. Isso é um recorte ideológico, ele (o presidente) não sai muito na mídia porque é mais importante do que outras coisas que acontecem no mundo. Isso pra mim é distração, é destoação de foco, é desinformação, impedimento à outras informações. Além desse recorte de assunto, que é um detalhe que acaba distraindo os jornalistas, o detalhe do preço do jornal também diz muito. Essas coisas fazem parecer que o sagrado jornal diário é quase um produto lúdico para os clientes. O ganha pão dos donos, além do reconhecimento pelo serviço público, nessas terras de condecorar quem realmente fez algo bom, muito bom. E finalmente uma peça do quebra cabeça mundo, que as pessoas continuam a montar despropositadamente.
É o que tenho a dizer dos presentes na aula que rechaçaram a manifestação. Ainda bem que não foram todos. São alunos que querem trabalhar nos mesmos meios e fazer as mesmas coisas que há tempos se fazem. Querem continuar repetindo o presente, alimentando essa coisa toda. Ou algum deles acha que vai mudar alguma coisa seguindo os passos em caminhos já construídos? Qualquer pensamento de mudar a sociedade dentro das instituições rígidas é piada.

*

nota, direito à educação
Ana Estela pediu para que eu e meus colegas nos retirássemos da sala de aula, por não estarmos matriculados na optativa. Só que na USP você não precisa estar matriculado para assistir à alguma aula (se ela não for laboratorial e necessitar aparelhagem ou algo do gênero) ou ter acesso às informações. Existe a opção de aluno ouvinte até. Minha colega explicou que o espaço era público, e ficou tudo bem. Mas os matriculados, que mandassem um e-mail para ela a fim de terem a programação das aulas e acesso ao banco de dados da Folha. Oras, isso não seria o equivalente à bibliografia? Não pode qualquer um ter acesso à essas informações?

*

nota, direito à comunicação

"Você sabia que canais de televisão e rádios são concessões públicas? Você sabia que 9 famílias controlam 85% da informação que circula nos meios de comunicação de massa? Você sabia que a Constituição Federal afirma que, no Brasil, deve haver um sistema público de comunicação? Você sabia que iniciativas legítimas de comunicação comunitária são fortemente reprimidas por conta dos interesses das empresas comerciais?"
intervozes.org.br

Rádio muda é destruída por PFs
http://muda.radiolivre.org/
Uma rádio comunitária que funcionava no Campus da Unicamp é destruída por ordem judicial, por se tratar de uma rádio pirata.
"Qual é o papel da radiodifusão hoje?
As rádios comerciais, consideradas legais, integram o território nacional a partir de interesses comerciais e culturais homogeneizantes. As rádios livres, consideradas ilegais, permitem que a pluralidade cultural seja livremente expressa. Tudo aquilo que não encontra espaço na lucrativa e monopolizada mídia comercial tem a possibilidade de vazão nos meios geridos pela própria população.
Mundialmente a mídia é controlada por 10 conglomerados. 40 empresas estão ligadas direta ou indiretamente a eles. No Brasil, 90% da mídia é controlada por 13 famílias. Em Campinas, a RAC (Rede Anhanguera de Comunicação) controla os principais meios de comunicação da cidade e região.
Centenas de rádios não comerciais espalhadas pelo Brasil e pelo mundo atuam no sentido contrário a essa situação de monopólio, reafirmando a capacidade de toda e qualquer pessoa de produzir informação", trecho do manifesto.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Espaço para protesto

A última polêmica envolvendo a Folha de S.Paulo, foi um editorial que criticava Chavez, e continha a palavra ditabranda, classificando o governo militar comparativamente à outros governos totalitários do mundo. Claro que houve [felizmente] milhões de protestos, e aqui abro espaço para um história que já tinha ouvido na minha disciplina de faculdade, História do jornalismo. Para os colegas que quiserem se informar sobre um causo da imprensa na época.
As cartas abaixo, que recebi por e-mail, foram enviadas ao jornal por Ivan Seixas, um dos cidadãos torturados no período.

POR QUE A FOLHA NÃO PUBLICA CARTAS DE IVAN SEIXAS?
VEJA O QUE ELE CONTA SOBRE A “DITABRANDA”

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009 às 14:15

Ivan Seixas tinha 16 anos quando foi preso pela ditadura, ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas. No dia 16 de abril de 1971, os dois foram levados para o DOI-CODI/OBAN, em São Paulo, e barbaramente torturados.

Ivan ficou indignado quando leu o editorial da “Folha de S. Paulo”, definindo a ditadura brasileira como “ditabranda”. Falei há pouco com ele por telefone: “É muita arrogância dos Frias, ainda mais com os pés de barro que eles têm. Os Frias não têm direito de pontificar sobre a ditadura, até porque colaboraram com a ditadura”.


Ivan foi torturado pelo regime que tinha (e tem) apoio do jornal de Otavinho

Ivan Seixas mandou duas cartas para a Redação da “Folha”, protestando. Nenhuma das duas foi publicada. Escreveu, também, para o Ombudsman. Nada.

Nesta última, fez referência ao passado nebuloso do grupo “Folha”, jornal que “empregava carros para nos capturar e entregar para sessões de interrogatórios, como sofremos eu e meu pai. Ninguém me contou, eu vi carro da “Folha” na porta da OBAN/DOI-CODI.”

Ivan sabe do que está falando quando diz que a “Folha” tem pés de barro nesse tema.

Na madrugada do dia 17 de abril de 1971, poucas horas após a prisão dele e do pai, policiais a serviço da “ditabranda” tiraram Ivan da prisão para um “passeio” por São Paulo. Tomaram o caminho do Parque do Estado, uma área de mata fechada, próxima ao Jardim Zoológico. Lá, o jovem (algemado e desarmado) foi ameaçado várias vezes de fuzilamento. Os policiais - polidos como só acontecia na “ditabranda” brasileira - dispararam várias vezes bem ao lado da cabeça de Ivan. Ele fechava os olhos e tinha certeza que morreria: tortura terrível. Mas, deixaram-no vivo, pra contar a história.

No caminho para o Parque do Estado, os funcionários da “ditabranda” pararam numa padaria, na antiga Estrada do Cursino. Desceram pra tomar café, deixando Ivan no “chiqueirinho” da viatura. Foi de lá que Ivan conseguiu observar a manchete da “Folha da Tarde” (jornal do grupo Frias), estampada na banca bem ao lado da padaria: o jornal anunciava a morte do pai dele, Joaquim.

Prestem bem atenção: a “Folha da Tarde” do dia 17 trazia manchete com a morte de Joaquim – que teria ocorrido dia 16. Só que, ao voltar de seu “passeio” com os policiais, Ivan encontrou o pai vivo e consciente, nas dependências do DOI-CODI. Joaquim só morreria – sob tortura – no próprio dia 17


Joaquim Seixas, morto e torturado: vejam como era branda a ditadura apoiada pelos Frias

Ou seja, o jornal da família Frias já sabia que Joaquim estava marcado pra morrer, e “adiantou” a notícia em um dia. Detalhe banal.

A historiadora Beatriz Kushnir publicou um livro em que conta essa e outras histórias mostrando os vínculos estreitos da família Frias com a ditadura. http://www.viomundo.com.br/opiniao/unidade-caes-de-guarda-fala-da-midia-e-de-jornalistas-que-colaboraram-com-a-ditadura-militar/

Ivan está se movimentando para que o livro de Beatriz seja relançado este ano, em São Paulo. O ato serviria também como desagravo às vítimas da ditadura, e como protesto contra a família Frias, que quer reescrever a história recente do Brasil.

O velho Frias, antes de ter jornal, se dedicava a criar galinhas. Não tinha pretensões intelectuais.

Frias Filho – o Otavinho – acha que é um pensador. Devia criar galinhas.

Pensando bem, melhor não. Deixem os bons granjeiros fazerem o serviço deles honestamente...

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Prezado Senhor

Enviei o email abaixo e não obtive resposta. Ao contrário, vi desaparecer das páginas do seu jornal qualquer referência ao assunto DITADURA VERSUS DITABRANDA, e nem mesmo o ombusdman se dignou a me dar alguma resposta.

Com certeza não esperava que o senhor fizesse agora alguma sugestão do que os algozes da DITADURA (repito, DITADURA - para que não haja dúvidas) deveriam fazer de acordo com seu refinado gosto, ou conforme os critérios do seu infográfico que mede a intensidade de ditaduras. Para ajudar VS, visto que a foto do cadáver de meu pai não lhe pareceu suficiente para sua opinião abalizada, envio agora a de outros dois militantes políticos, igualmente assassinados por sua DITABRANDA, que nós, democratas, continuamos a chamar de DITADURA mesmo.

As três fotos são: meu pai, o mecânico Joaquim Alencar de Seixas, o arquiteto Antônio Benetazzo e o operário químico Virgílio Gomes da Silva.

Observe as fotos anexas e reflita. Apenas isso.

Em seguida, mostre aos seus pares de redação: Clóvis Rossi, Eliane Cantanhede, Kennedy Alencar, Nelson de Sá, Mônica Bergamo e Gilberto Dimenstein, entre outros. Pergunte-lhes o que têm a dizer a respeito do assunto. Depois, peça-lhes que enviem suas opiniões para o meu endereço eletrônico (...) Certamente, eles devem ter algo a acrescentar a este debate. O Fernando Barros e Silva já se manifestou. Mas foi obrigado a concordar com sua tese de retaliação e grosserias contra os professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória de Mesquita Benevides. Provavelmente com medo de perder o emprego.Senhor, sua democracia é bem curiosa. Frente à condenação pública, suspende e proíbe o debate. Não permite que o ombusdman exerça seu papel - e este se acomoda, enquanto o senhor corta as cartas ao Painel do Leitor, tal qual a dona Solange Hernandes fazia nos áureos tempos do seu pai e do seu jornal cedido ao pessoal da OBAN-DOI/CODI. Ou seja, o senhor cuida de seus funcionários como seu pai cuidava de suas galinhas.

Como o senhor há de supor, vou enviar este email para o maior número possível de amigos. Mandarei, inclusive, para a Doutora Beatriz Kushnir, que conhece bem esse assunto.

Espero que, desta vez, o senhor tenha a dignidade de autorizar aos seus subordinados, a publicação da minha carta.

Democraticamente,

Ivan Akselrud de Seixas



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INSULTOS AOS DEMOCRATAS

Senhor editor

Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que teriam sido até brandos com os inimigos. Vocês chegam até a cunhar o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como DITADURA. Hoje vi a redação insultar o professor Fábio Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Uma dessas irmãs sofreu uma violência sexual por parte dos agentes da DITABRANDA de vocês. Eu fiquei preso por longos 6 anos.

Diante disso, convém perguntar: O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras de vocês da redação da Folha.Saudações democráticas.

Ivan Akselrud de Seixas

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Caro Carlos Eduardo

Há um tempo atrás te escrevi para protestar contra a postura e as mentiras da Folha contra as indenizações aos ex-presos políticos e, uma segunda vez, contra o comportamento preconceituoso contra a Senadora Marina Silva.

Volto a te escrever, mas não é para protestar. Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que foram até brandos com os inimigos. Cunham até o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como ditadura. Hoje vi a redação insultar o professor Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

Te escrevo para te lembrar que eu te disse que a foha tomava o perigoso rumo de defe3sa dos torturadores e de ataques às suas vitimas e você me dizia o contrário.

Vou escrever uma carta à redação, mas te coloco antes disso a mesma pergunta que farei a eles. Tenho a certeza que não publicarão o que escreverei, mas mesmo assim cumpro meu dever democrático. A pergunta é a seguinte:
A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Eu fiquei preso por longos 6 anos.
O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?

Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras da redação da Folha. Aliás, a mesma Folha que emprestava carros para nos capturar e entregar para as sessões de interrogatórios como sofremos eu e meu ´pai. Ninguém me contou, eu vi carro da Folha na porta da OBAN-DOI/CODI.

Saudações democráticas.

Ivan Seixas

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

reparação

e se você escrevesse um poema fingindo ser eu
para que o mundo perdoasse minha falta nos últimos meses
(serão meses?)
ou um poema pensando em mim já vale. é pouco o material que tem alguma coisa comigo espalhada pelo mundo
em meio a quantidade pode nascer uma flor rara.

tenho tido ódio à quantidade do mundo
e um jeito covarde de fazer esse ódio é validando as diferenças que sempre senti
conforme vou reafirmando os erros dos meus mundos me afasto subindo
sempre ficando mais alta, indo pra um lugar em cima

disfarces da imbecilidade.

só queria que alguma coisa bonita saísse hoje
ou de mim ou de alguém perto
e eu tivesse aquele lampejo de esperança cotidiana

a vida correndo e eu do alto do meu apartamento
pedindo para que o universo me impressione
as pretensões e tristezas de ser autor de uma titica qualquer

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Da dor da separação

Sei lá, me arrependi de ficar com ela. Um amigo me disse essa frase e outras antes e depois que não valem a pena serem registradas aqui, aquela é suficiente para dar uma noção da amargura pós relacionamento. Ou melhor, pós decepção da pessoa que já foi querida. Isso é certamente uma coisa triste - quase escrevi umas das coisas mais tristes, mas o último livro que li foi Maus, então não me atrevo a tal. Não o aconselhei a pegar a primeira que ver pela frente, por amor às vítimas de seu ódio, que tem sentimentos e ressentimentos iguais aos dele, e nenhuma culpa. Ou devo assumir que todos os habitantes tem culpa pela convulsão emocional, pelo campo de ovos que a Terra se tornou?
Todos vivem esperando alguém para tirar da solidão, para ser amado, estar no centro das atenções da emoção de outrem. Precisamos disso não sei porque, uns mais conscientemente, outros menos. Mas é interessante pensar que talvez nem sempre tivemos essa relação com as emoções, somos influenciados por um monte de coisas que vieram antes de nós - quando nascemos ganhamos um mundo inteiro de presente, de conceitos pré estabelecidos, de relações sociais semi prontas, só precisamos nos convencer de que estavam certos ou que somos fracassados, depende da alma.
Um chefe que eu já tive comentou uma vez da diferença que percebia nas gerações. Ele acreditava que a minha era mais emocionalmente dependente que a dele. Se bem que, hoje em dia, imagino que pode ser só pose de machão independente que ele fazia (com o perdão, ex-chefe) - era um rapaz de cinquenta anos e solteiro há alguns. Por causa do computador, do fato que fomos largados em casa com aparatos eletrônicos e tivemos menos contatos humanos do que no quando dele.
Mesmo que essa idéia dele seja bobeira, que o homem sempre teve a mesma dependência em todas as épocas, acredito que somos sim influenciados pelo mundo que nos cerca, pela cultura que consumimos desde pequenos - compartilhamos um mundo diferente dos nossos pais. A visão sobre o amor é algo cambiante.




É disso que estou falando. Influenciado pelo que nos é propagado desde sempre, somos impelidos a achar o amor ideal. Por que não posso ter um final feliz como teve Sakura -ignorando os engraçadinhos que falam que dois meses depois eles se separaram- ? Nos esquecemos de que o amor de verdade se desenvolve no que não é perfeito, esquecer isso nos leva a desvalorizar quem está do nosso lado e realmente se importa conosco. Não acredito em alma gêmea, é muita ilusão pensar que há alguém certo pra gente. Nós fazemos o agora ser certo, e amamos respeitando as diferenças, os erros, as fraquezas. Ao menos buscar isso.
E quanto ao amigo magoado, se ele entendesse que as pessoas são solitárias e, de erro em erro buscam o que é bom para elas, não seria tão duro com a ex. Espero que ele tenha mais cuidado de agora em diante ao se envolver com outras garotas, para se machucar (decepcionar) menos.
Não existe fórmula.
[fim]

PS te amo, Rá (-

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Senhora das Armas


Não era pra ter sido assim. Ao menos não naquela hora. Ano novo, discutia meu namorado e uma amiga engenheira (estudante), a Irma. Quando menores, influenciadas pelos mangás, brincávamos de simular eventos no futuro, e nos correspondíamos em meio a uma guerra que aconteceria em 2011. Uma longa guerra, e cada uma estaria em um local do mundo, realizando determinada atividade. De médica acabei em uma faculdade de jornalismo, e longe dos uniformes militares, passei a pensar modos de cultivar um mundo pacífico. Minha amiga também, a seu modo.

Mas nessa conversa imprevista, Irma comentou como quem nada quer seu desejo de trabalhar construindo armas. Essa declaração me impressionou, mesmo que eu já conhecesse seus pressupostos e influências, e me vi obrigada a usar toda minha força argumentativa de final de noite para convencê-la a não insistir nesse sonho. Imaginei que já estava tudo na minha manga, que daqui a poucos minutos a teria para meu lado. Afinal, tão senso comum, não, ser contra as armas? Elas não ajudam o mundo a ser um lugar melhor, mais habitável - foi assim que comecei. E continuei falando que havia muito a se fazer, importante e difícil, cujo objetivo não era destruir vidas.

É fácil entender os motivos despretensiosos de uma mulher que viu o pai crescer fazendo mísseis e ogivas, a beleza da mecânica, a eficiência, um projeto sem erros. E o principal, ela vive em paz, tentei convencê-la de que, se vivesse em uma situação de violência, talvez ela não quisesse alimentar isso. Recentemente em uma bela universidade do interior, onde ao invés de tiros de balas cortando o silêncio das suas noites, o que ela ouve é violão ao vivo na praça, algum amigo tocando.
Porém, me surpreendi com o rumo que tomou a falação, "quando digo que quero fabricar armas eu não penso em ataque, mas em proteção. Sou uma patriota além de tudo, não penso primeiro nos problemas de fora".

Não adiantava eu falar que as armas não eram usadas só para proteção, que elas eram exportadas para todos os locais onde as guerras intermináveis acontecem. Inclusive voltam para o país no comércio ilegal e vão para a mão da bandidagem. Tentei continuar no argumento de que moralmente não era razoável contribuir com isso, mas se ela não o fizesse outros iriam fazer, nunca vai acabar. Ela é do tipo que não acredita em uma melhora gradual do mundo, nem eu, infelizmente. Tento, às vezes. Diferentemente do meu namorado, que estava do meu outro lado, ajudando Irma nos argumentos. Não por que concordasse com ela, mas para testar meus limites e idéias, justo.

Ele fala uma coisa legal, que é uma certa obrigatoriedade em melhorar. Que a humanidade tem que caminhar para um quando onde todo trabalho manual e degradante é feito por robôs. Como se fosse uma espécie de jogo corrido pela tecnologia e justiça. É bonito, e gostaria de compartilhar de alguma parte desse otimismo, mas como disse antes, só às vezes.

Conforme a conversa foi ganhando comprimento, e ela jogou o argumento de que as armas sempre serão construídas, ao invés de insistir no meu ponto de vista, ou achar outro que estava guardado em alguma dobra do cérebro, desisti de defender meu ponto de vista e me juntei ao coro que questionava meus valores. Por que parecia o mais certo a se fazer, não por que eu vi de antemão que não convenceria ninguém ali - o desfecho mais razoável.

(em voz alta) Falo essas coisas com propriedade como se eu fizesse alguma coisa contra as guerras. Como se jornalismo ajudasse alguém. No fim todas as profissões não alimentam o status quo - jogou o namorado - todos só querem enriquecer e viver bem aqui. Momentâneamente não tive forças para continuar. Me lembrei dos meus próprios problemas existenciais de carreira e escolhas de vida e me calei.

Cheguei a me arrepender depois, ou me sentir pateticamente redimida quando assisti, dias depois, a ficção Diamante de Sangue. A personagem de Jennifer Connelly, jornalista investigando a verdadeira origem dos diamantes que chegavam em Londres, confessou que o que escrevia poderia não ajudar os refugiados, mesmo que emocionasse alguém nos Estados Unidos. É por isso que precisava de fatos. Para que não ficasse apenas na narrativa, mas que tal reportagem tivesse uma consequencia mais profunda, podendo incriminar alguém, ou fazer a preocupação ir além da comoção das lágrimas. Mas que se transformassem em ações maiores, políticas.

O que mais gostei no filme foi a refutação do TIA (This is Africa), extenuamente repetido pelos africanos do filme, a desculpa eterna para os problemas e violências causado por conterrâneos: "Assim como não é toda garota americana que quer um diamante quando fica noiva, não é todo africano que não se importa com seu lugar". Era algo assim. Que nem todos queriam embarcar no crime e sobreviver a QUALQUER custo.


[Tistou les pouces verts]