sábado, 28 de fevereiro de 2009

Espaço para protesto

A última polêmica envolvendo a Folha de S.Paulo, foi um editorial que criticava Chavez, e continha a palavra ditabranda, classificando o governo militar comparativamente à outros governos totalitários do mundo. Claro que houve [felizmente] milhões de protestos, e aqui abro espaço para um história que já tinha ouvido na minha disciplina de faculdade, História do jornalismo. Para os colegas que quiserem se informar sobre um causo da imprensa na época.
As cartas abaixo, que recebi por e-mail, foram enviadas ao jornal por Ivan Seixas, um dos cidadãos torturados no período.

POR QUE A FOLHA NÃO PUBLICA CARTAS DE IVAN SEIXAS?
VEJA O QUE ELE CONTA SOBRE A “DITABRANDA”

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009 às 14:15

Ivan Seixas tinha 16 anos quando foi preso pela ditadura, ao lado do pai, Joaquim Alencar de Seixas. No dia 16 de abril de 1971, os dois foram levados para o DOI-CODI/OBAN, em São Paulo, e barbaramente torturados.

Ivan ficou indignado quando leu o editorial da “Folha de S. Paulo”, definindo a ditadura brasileira como “ditabranda”. Falei há pouco com ele por telefone: “É muita arrogância dos Frias, ainda mais com os pés de barro que eles têm. Os Frias não têm direito de pontificar sobre a ditadura, até porque colaboraram com a ditadura”.


Ivan foi torturado pelo regime que tinha (e tem) apoio do jornal de Otavinho

Ivan Seixas mandou duas cartas para a Redação da “Folha”, protestando. Nenhuma das duas foi publicada. Escreveu, também, para o Ombudsman. Nada.

Nesta última, fez referência ao passado nebuloso do grupo “Folha”, jornal que “empregava carros para nos capturar e entregar para sessões de interrogatórios, como sofremos eu e meu pai. Ninguém me contou, eu vi carro da “Folha” na porta da OBAN/DOI-CODI.”

Ivan sabe do que está falando quando diz que a “Folha” tem pés de barro nesse tema.

Na madrugada do dia 17 de abril de 1971, poucas horas após a prisão dele e do pai, policiais a serviço da “ditabranda” tiraram Ivan da prisão para um “passeio” por São Paulo. Tomaram o caminho do Parque do Estado, uma área de mata fechada, próxima ao Jardim Zoológico. Lá, o jovem (algemado e desarmado) foi ameaçado várias vezes de fuzilamento. Os policiais - polidos como só acontecia na “ditabranda” brasileira - dispararam várias vezes bem ao lado da cabeça de Ivan. Ele fechava os olhos e tinha certeza que morreria: tortura terrível. Mas, deixaram-no vivo, pra contar a história.

No caminho para o Parque do Estado, os funcionários da “ditabranda” pararam numa padaria, na antiga Estrada do Cursino. Desceram pra tomar café, deixando Ivan no “chiqueirinho” da viatura. Foi de lá que Ivan conseguiu observar a manchete da “Folha da Tarde” (jornal do grupo Frias), estampada na banca bem ao lado da padaria: o jornal anunciava a morte do pai dele, Joaquim.

Prestem bem atenção: a “Folha da Tarde” do dia 17 trazia manchete com a morte de Joaquim – que teria ocorrido dia 16. Só que, ao voltar de seu “passeio” com os policiais, Ivan encontrou o pai vivo e consciente, nas dependências do DOI-CODI. Joaquim só morreria – sob tortura – no próprio dia 17


Joaquim Seixas, morto e torturado: vejam como era branda a ditadura apoiada pelos Frias

Ou seja, o jornal da família Frias já sabia que Joaquim estava marcado pra morrer, e “adiantou” a notícia em um dia. Detalhe banal.

A historiadora Beatriz Kushnir publicou um livro em que conta essa e outras histórias mostrando os vínculos estreitos da família Frias com a ditadura. http://www.viomundo.com.br/opiniao/unidade-caes-de-guarda-fala-da-midia-e-de-jornalistas-que-colaboraram-com-a-ditadura-militar/

Ivan está se movimentando para que o livro de Beatriz seja relançado este ano, em São Paulo. O ato serviria também como desagravo às vítimas da ditadura, e como protesto contra a família Frias, que quer reescrever a história recente do Brasil.

O velho Frias, antes de ter jornal, se dedicava a criar galinhas. Não tinha pretensões intelectuais.

Frias Filho – o Otavinho – acha que é um pensador. Devia criar galinhas.

Pensando bem, melhor não. Deixem os bons granjeiros fazerem o serviço deles honestamente...

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Prezado Senhor

Enviei o email abaixo e não obtive resposta. Ao contrário, vi desaparecer das páginas do seu jornal qualquer referência ao assunto DITADURA VERSUS DITABRANDA, e nem mesmo o ombusdman se dignou a me dar alguma resposta.

Com certeza não esperava que o senhor fizesse agora alguma sugestão do que os algozes da DITADURA (repito, DITADURA - para que não haja dúvidas) deveriam fazer de acordo com seu refinado gosto, ou conforme os critérios do seu infográfico que mede a intensidade de ditaduras. Para ajudar VS, visto que a foto do cadáver de meu pai não lhe pareceu suficiente para sua opinião abalizada, envio agora a de outros dois militantes políticos, igualmente assassinados por sua DITABRANDA, que nós, democratas, continuamos a chamar de DITADURA mesmo.

As três fotos são: meu pai, o mecânico Joaquim Alencar de Seixas, o arquiteto Antônio Benetazzo e o operário químico Virgílio Gomes da Silva.

Observe as fotos anexas e reflita. Apenas isso.

Em seguida, mostre aos seus pares de redação: Clóvis Rossi, Eliane Cantanhede, Kennedy Alencar, Nelson de Sá, Mônica Bergamo e Gilberto Dimenstein, entre outros. Pergunte-lhes o que têm a dizer a respeito do assunto. Depois, peça-lhes que enviem suas opiniões para o meu endereço eletrônico (...) Certamente, eles devem ter algo a acrescentar a este debate. O Fernando Barros e Silva já se manifestou. Mas foi obrigado a concordar com sua tese de retaliação e grosserias contra os professores Fábio Konder Comparato e Maria Victória de Mesquita Benevides. Provavelmente com medo de perder o emprego.Senhor, sua democracia é bem curiosa. Frente à condenação pública, suspende e proíbe o debate. Não permite que o ombusdman exerça seu papel - e este se acomoda, enquanto o senhor corta as cartas ao Painel do Leitor, tal qual a dona Solange Hernandes fazia nos áureos tempos do seu pai e do seu jornal cedido ao pessoal da OBAN-DOI/CODI. Ou seja, o senhor cuida de seus funcionários como seu pai cuidava de suas galinhas.

Como o senhor há de supor, vou enviar este email para o maior número possível de amigos. Mandarei, inclusive, para a Doutora Beatriz Kushnir, que conhece bem esse assunto.

Espero que, desta vez, o senhor tenha a dignidade de autorizar aos seus subordinados, a publicação da minha carta.

Democraticamente,

Ivan Akselrud de Seixas



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INSULTOS AOS DEMOCRATAS

Senhor editor

Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que teriam sido até brandos com os inimigos. Vocês chegam até a cunhar o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como DITADURA. Hoje vi a redação insultar o professor Fábio Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Uma dessas irmãs sofreu uma violência sexual por parte dos agentes da DITABRANDA de vocês. Eu fiquei preso por longos 6 anos.

Diante disso, convém perguntar: O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras de vocês da redação da Folha.Saudações democráticas.

Ivan Akselrud de Seixas

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Caro Carlos Eduardo

Há um tempo atrás te escrevi para protestar contra a postura e as mentiras da Folha contra as indenizações aos ex-presos políticos e, uma segunda vez, contra o comportamento preconceituoso contra a Senadora Marina Silva.

Volto a te escrever, mas não é para protestar. Vejo na página editorial da Folha loas ao bom comportamento dos ditadores brasileiros, que foram até brandos com os inimigos. Cunham até o neologismo DITABRANDA para designar aquele período que todos os democratas definem como ditadura. Hoje vi a redação insultar o professor Comparato e a Professora Maria Vitória Benevides de CÍNICOS E MENTIROSOS.

Te escrevo para te lembrar que eu te disse que a foha tomava o perigoso rumo de defe3sa dos torturadores e de ataques às suas vitimas e você me dizia o contrário.

Vou escrever uma carta à redação, mas te coloco antes disso a mesma pergunta que farei a eles. Tenho a certeza que não publicarão o que escreverei, mas mesmo assim cumpro meu dever democrático. A pergunta é a seguinte:
A DITABRANDA de vocês me prendeu junto com meu pai, quando eu tinha 16 anos. Nos torturaram juntos e o assassinaram no dia seguinte a noite. Naquela mesma manhã, uma nota oficial foi publicada dando conta de sua morte ao resistir à prisão, quando ele ainda estava vivo. Minha casa foi saqueada, minha mãe e irmãs foram presas e ficaram 1 ano e meio presas, sem acusação sequer. Eu fiquei preso por longos 6 anos.
O que mais vocês gostariam que fizessem conosco?

Para sua informação, envio foto de como ficou meu pai após a DITABRANDA tê-lo interrogado brandamente, nas palavras da redação da Folha. Aliás, a mesma Folha que emprestava carros para nos capturar e entregar para as sessões de interrogatórios como sofremos eu e meu ´pai. Ninguém me contou, eu vi carro da Folha na porta da OBAN-DOI/CODI.

Saudações democráticas.

Ivan Seixas

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

reparação

e se você escrevesse um poema fingindo ser eu
para que o mundo perdoasse minha falta nos últimos meses
(serão meses?)
ou um poema pensando em mim já vale. é pouco o material que tem alguma coisa comigo espalhada pelo mundo
em meio a quantidade pode nascer uma flor rara.

tenho tido ódio à quantidade do mundo
e um jeito covarde de fazer esse ódio é validando as diferenças que sempre senti
conforme vou reafirmando os erros dos meus mundos me afasto subindo
sempre ficando mais alta, indo pra um lugar em cima

disfarces da imbecilidade.

só queria que alguma coisa bonita saísse hoje
ou de mim ou de alguém perto
e eu tivesse aquele lampejo de esperança cotidiana

a vida correndo e eu do alto do meu apartamento
pedindo para que o universo me impressione
as pretensões e tristezas de ser autor de uma titica qualquer

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Da dor da separação

Sei lá, me arrependi de ficar com ela. Um amigo me disse essa frase e outras antes e depois que não valem a pena serem registradas aqui, aquela é suficiente para dar uma noção da amargura pós relacionamento. Ou melhor, pós decepção da pessoa que já foi querida. Isso é certamente uma coisa triste - quase escrevi umas das coisas mais tristes, mas o último livro que li foi Maus, então não me atrevo a tal. Não o aconselhei a pegar a primeira que ver pela frente, por amor às vítimas de seu ódio, que tem sentimentos e ressentimentos iguais aos dele, e nenhuma culpa. Ou devo assumir que todos os habitantes tem culpa pela convulsão emocional, pelo campo de ovos que a Terra se tornou?
Todos vivem esperando alguém para tirar da solidão, para ser amado, estar no centro das atenções da emoção de outrem. Precisamos disso não sei porque, uns mais conscientemente, outros menos. Mas é interessante pensar que talvez nem sempre tivemos essa relação com as emoções, somos influenciados por um monte de coisas que vieram antes de nós - quando nascemos ganhamos um mundo inteiro de presente, de conceitos pré estabelecidos, de relações sociais semi prontas, só precisamos nos convencer de que estavam certos ou que somos fracassados, depende da alma.
Um chefe que eu já tive comentou uma vez da diferença que percebia nas gerações. Ele acreditava que a minha era mais emocionalmente dependente que a dele. Se bem que, hoje em dia, imagino que pode ser só pose de machão independente que ele fazia (com o perdão, ex-chefe) - era um rapaz de cinquenta anos e solteiro há alguns. Por causa do computador, do fato que fomos largados em casa com aparatos eletrônicos e tivemos menos contatos humanos do que no quando dele.
Mesmo que essa idéia dele seja bobeira, que o homem sempre teve a mesma dependência em todas as épocas, acredito que somos sim influenciados pelo mundo que nos cerca, pela cultura que consumimos desde pequenos - compartilhamos um mundo diferente dos nossos pais. A visão sobre o amor é algo cambiante.




É disso que estou falando. Influenciado pelo que nos é propagado desde sempre, somos impelidos a achar o amor ideal. Por que não posso ter um final feliz como teve Sakura -ignorando os engraçadinhos que falam que dois meses depois eles se separaram- ? Nos esquecemos de que o amor de verdade se desenvolve no que não é perfeito, esquecer isso nos leva a desvalorizar quem está do nosso lado e realmente se importa conosco. Não acredito em alma gêmea, é muita ilusão pensar que há alguém certo pra gente. Nós fazemos o agora ser certo, e amamos respeitando as diferenças, os erros, as fraquezas. Ao menos buscar isso.
E quanto ao amigo magoado, se ele entendesse que as pessoas são solitárias e, de erro em erro buscam o que é bom para elas, não seria tão duro com a ex. Espero que ele tenha mais cuidado de agora em diante ao se envolver com outras garotas, para se machucar (decepcionar) menos.
Não existe fórmula.
[fim]

PS te amo, Rá (-