Há 14 anos
sábado, 7 de março de 2009
Espaço para protesto II
[Ah, comunicação]
A respeito do caso do post anterior. Ditabranda. Sabe, não me espantei com essa "mancada" da Folha. Reeditar a história, amenizar situações insuportáveis: tudo isso e mais é esperado de uma empresa de comunicação dentro do mundo atual. Primeiro, por serem empresas, elas vendem um produto privado, falam o que querem, com ou sem compromisso. Há que se ganhar dinheiro, mas a principal função ou compromisso ideológico, é manter a ordem na sociedade. A fim de que os que estão no poder possam continuar enriquecendo com a mão de obra brasileira.
Por serem empresas e não as vozes das comunidades que por aqui vivem, não publicarão o mais relevante, informações preciosas para que as medidas corretas possam ser tomadas pela população. O que entra é a distração, o bonito. Ou o maquiado, tomadas políticas e econômicas apresentadas de modo distanciadas. Ah, Brasília! O FMI, o PAC, o Celso Amorim, é tudo distante.
O jornal não se preocupa em informar a sociedade sobre como ela pode se aproximar disso tudo - de um jeito racional, não o anarquismo erroneamente corrente de todo mundo opinando sobre todas as decisões nacionais. E um jeito de aproximar as pessoas do centro seria uma cobertura dos movimentos civis. Das atitudes concretas de pessoas e grupos que querem opinar sobre as diretrizes econômicas, querem questionar as medidas políticas, ter voz em consultas abertas à população. Pessoas que querem se informar, para que haja democracia de fato.
É por isso que as empresas de comunicação (o alto escalão), preferem mostrar as celebridades. Por que no site da Folha, na página inicial, as notícias daquele mundo (distante também mas cheio de gliter e strass e coroas de flores) ficam no canto esquerdo, na parte mais alta? Acho que é conhecimento de muitos de que esse é o primeiro lugar que a totalidade olha em uma página. Não sou excessão. Mesmo sem querer, por exemplo, fiquei sabendo que Angelina Jolie esqueceu jóias em um hotel inglês. E que quando chegou em Los Angeles ligou correndo para lá e, benza Deus, eles tinham guardado os apetrechos milionários. Fim da história, boa noite.
[protesto em frente ao prédio da Folha de S.Paulo, mais aqui]
Causo pessoal sobre a "mancada" da Folha
Pra quem não me conhece pessoalmente, estudo em uma escola pública de comunicações e artes, mais exatamente no departamento de jornalismo e editoração. Bom, até em memória de professores que tiveram parentes mortos no regime tínhamos de nos juntar ao coro de protesto pela Opinião demais da conta do jornal que falamos até aqui. E por que não fazer uma intervenção na aula optativa ministrada pela tal empresa no nosso departamento? Que acontece há cinco semestres às sextas feiras nove horas da manhã? Sim, nós estudamos aqui e não vamos deixar que pensem que não estamos inconformados. Que concordamos com qualquer coisa que opinam porque queremos trabalhar lá (falo em nome de muitos, como verão a seguir). Cartaz um aqui, na entrada, dois aqui, na sala de aula. Tudo pronto. Antes das nove chegam dois jornalistas, palestrantes do dia.
"Ah, hahah, erraram, a aula de hoje não será sobre a ditabranda", comentou a editora de treinamento Ana Estela sobre um cartaz irônico que nomeava a aula. O colega dela preferiu não se manifestar à esse respeito.
Os dois deram a aula impedindo perguntas acerca do editorial, pois além de não ser o tema da aula, eles não tinham a ver com a diretoria, autora de fato. Mas quem quisesse conversar sobre a opinião pessoal deles, poderia fazer após a aula. Meus colegas que foram intervir também, tiveram que sair para trabalhar, mas eu pude aompanhar uma boa parte da palestra. Os dois foram simpáticos, e humanizar o jornal - ou quem está por trás dele - é um dos objetivos da matéria na escola. Vide o trabalho final: por meio do manual de redação mais aulas, ter idéia do que a Folha considera u jornal perfeito. A partir daí analizar alguma notícia e perceber os pontos que vão contra as idéias da empresa. A última parte é a conversa com o autor da notícia escolhida, para que ele se "explique".
Oras. Isso provará ao aluno a boa vontade tanto do jornal quanto do profissional por trás. Humaniza-se os problemas, e o problema começa a ser melhor. É claro que isso é interessante, que os jornais são feitos de gente também. Mas perdem-se os detalhes (não seria ruim se sempre fossem detalhes, pequenos). O profissional tem razão de achar que, sair no jornal do dia seguinte que caiu uma ponte não sei onde é informação relevante e que isso dará poder de escolha aos que vão viajar por aquele trecho por exemplo.
Mas e o resto que não foi publicado? E quem não tem dinheiro pra comprar o jornal e acabou indo por aquela estrada? E agora, o que tem a ver com o mote do post, porque diabos Hugo Chavez no editorial?
O referendo na Venezuela, ok. NÃO! NÃO apenas isso. Fala-se de Chavez o tempo todo. De Ronaldo também, e isso especificamente me deixa louca. Isso é um recorte ideológico, ele (o presidente) não sai muito na mídia porque é mais importante do que outras coisas que acontecem no mundo. Isso pra mim é distração, é destoação de foco, é desinformação, impedimento à outras informações. Além desse recorte de assunto, que é um detalhe que acaba distraindo os jornalistas, o detalhe do preço do jornal também diz muito. Essas coisas fazem parecer que o sagrado jornal diário é quase um produto lúdico para os clientes. O ganha pão dos donos, além do reconhecimento pelo serviço público, nessas terras de condecorar quem realmente fez algo bom, muito bom. E finalmente uma peça do quebra cabeça mundo, que as pessoas continuam a montar despropositadamente.
É o que tenho a dizer dos presentes na aula que rechaçaram a manifestação. Ainda bem que não foram todos. São alunos que querem trabalhar nos mesmos meios e fazer as mesmas coisas que há tempos se fazem. Querem continuar repetindo o presente, alimentando essa coisa toda. Ou algum deles acha que vai mudar alguma coisa seguindo os passos em caminhos já construídos? Qualquer pensamento de mudar a sociedade dentro das instituições rígidas é piada.
*
nota, direito à educação
Ana Estela pediu para que eu e meus colegas nos retirássemos da sala de aula, por não estarmos matriculados na optativa. Só que na USP você não precisa estar matriculado para assistir à alguma aula (se ela não for laboratorial e necessitar aparelhagem ou algo do gênero) ou ter acesso às informações. Existe a opção de aluno ouvinte até. Minha colega explicou que o espaço era público, e ficou tudo bem. Mas os matriculados, que mandassem um e-mail para ela a fim de terem a programação das aulas e acesso ao banco de dados da Folha. Oras, isso não seria o equivalente à bibliografia? Não pode qualquer um ter acesso à essas informações?
*
nota, direito à comunicação
"Você sabia que canais de televisão e rádios são concessões públicas? Você sabia que 9 famílias controlam 85% da informação que circula nos meios de comunicação de massa? Você sabia que a Constituição Federal afirma que, no Brasil, deve haver um sistema público de comunicação? Você sabia que iniciativas legítimas de comunicação comunitária são fortemente reprimidas por conta dos interesses das empresas comerciais?"
intervozes.org.br
Rádio muda é destruída por PFs
http://muda.radiolivre.org/
Uma rádio comunitária que funcionava no Campus da Unicamp é destruída por ordem judicial, por se tratar de uma rádio pirata.
"Qual é o papel da radiodifusão hoje?
As rádios comerciais, consideradas legais, integram o território nacional a partir de interesses comerciais e culturais homogeneizantes. As rádios livres, consideradas ilegais, permitem que a pluralidade cultural seja livremente expressa. Tudo aquilo que não encontra espaço na lucrativa e monopolizada mídia comercial tem a possibilidade de vazão nos meios geridos pela própria população.
Mundialmente a mídia é controlada por 10 conglomerados. 40 empresas estão ligadas direta ou indiretamente a eles. No Brasil, 90% da mídia é controlada por 13 famílias. Em Campinas, a RAC (Rede Anhanguera de Comunicação) controla os principais meios de comunicação da cidade e região.
Centenas de rádios não comerciais espalhadas pelo Brasil e pelo mundo atuam no sentido contrário a essa situação de monopólio, reafirmando a capacidade de toda e qualquer pessoa de produzir informação", trecho do manifesto.
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