Sozinha, na labuta, música de teclas
[o silêncio falso recheado de dedos batendo volumosamente]
E espia da janela os anos velhos, com um olhar cheio de lágrimas de saudades
com o rosto enorme ele assopra bafo que me pega desprevenida
e o cheiro é antigo mas é bom. não mofo, juventude.
a brisa dos outros anos me alcança, penso em esquecer a labuta e o desprazer
me entregar ao frívolo mais importante, que era o da não-preocupação e descanso.
o shorts-e-chinelo em tarde de sol, conversas despretensiosas e cheias de esperança quando o assunto era futuro. Eram só possibilidades, e tudo dependia da gente, da nossa força e vontade.
Agora, por mais que eu tenha vontade tudo parece que o mundo empaca. Não depende mais só de nós. Depende do resto do mundo, e esse é que é o problema que nos impede de voar rápido e longe.
[Voltando à cena]
ignoro os velhos anos, o vejo com o canto dos olhos mas não viro meu rosto para o mirar.
a brisa que me alcança docemente é tempestade disfarçada
sei que se me virar e mirar
[ainda que não o faça]
aqueles olhos melancólicos dos outros anos
eles estarão cheios de ventos furiosos
desejo me entregar à tempestade disfarçada de brisa mas
daqui a algum tempo quem me virá incomodar na janela será a música feita por teclas
e não me esquecendo disso é que continuo exatamente onde comecei
Há 14 anos
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