domingo, 4 de maio de 2008

The não-word

Alguém já ouviu falar do cara que foi pro mundo oposto e se perdeu? O mundo oposto, digo, aquele dos nãos: não ditos, não feitos, não telefonados, não respondidos, não olhados, não lembrados... é infinito, e por isso mesmo é um mundo inteiro. Mas tem um detalhe assustador em tudo isso: se você acha esse mundo grande é porque não viu o mundo oposto. Imagine tudo que existe nesse mundo, todas as coisas que foram feitas, decisões tomadas, coisas construídas, caminhos escolhidos. Para cada e-mail escrito existe pelo menos dois não escritos. Para cada carta enviada existem dez não enviadas. Para cada copo de água engolido existem 20 não engolidos, e isso é mais que exponencial, é imensurável. E pra você que achava que esses copos não engolidos se dissipavam no ar como palavrões, saiba que existe um lugar feito do não-feito daqui. Acho que todos já entenderam porque esse outro lugar é bem maior, não? E porque nosso amigo do conto antigo não voltou para casa ainda: são poucos e bravos [e suicidas] os que se aventuram em conhecer o não conhecido.



-------------------


Desde sempre vivemos do não-dito, do não-olhar. E assim crescemos, e ficamos amigos pelas nossas não-intenções de aproximação e descobrimento. É claro que nos enxergávamos como uma selva, e disfarçávamos nossos olhos ávidos e gestos ímpetos, amparados pelo nosso orgulho - pai dos nãos que eram tudo o que tínhamos -, comíamos da mesa farta da não-abundância, em tantos não-encontros que tivemos.
Não sei se nosso abraço foi conseqüência natural, reverberação dos milhões de não-abraços dados, ou se foi flagra do nosso orgulho. Não sei se tudo o que existe é tão pobre perto do que deixamos de fazer, e essa bolha enorme de deixar de fazer e/ou atos deixados para posterior está crescendo pesada, e me engolindo. Esmagando-me com toda a culpa acumulada nessa história de cristã imunda pelo não-pecado.



-------------------


O que sobra de nós, disse ela jogando como azeite a frase filosófica que correu garganta abaixo de todos no grupo que conversava coisas sérias inusitadamente. Até hoje não sei a resposta, mas tenho certeza que, o que quer que sobre, querida, sobra bem mais no mundo oposto. Está gravando? Não? Escreve então, minha linda, que é a última de hoje.

10 comentários:

Unknown disse...

hum, será

Lia Lupilo disse...

claro que sim, oras!

Murilo disse...

não entendi nada. e eu tomo os 20 copos de água, pode deixar.
beijo, e leia mais muras =]

Daniel disse...

Olá moça,
Passei pra fazer uma visita, gostei do que li e ainda notei um link pro meu blog aí no canto :]
Que beleza!
bjs

Tefo disse...

Lia, talvez possa ser animador: toda dia as pessoas fazem coisas novas que estavam no não-mundo. É um lugar bom porque tudo que ainda não foi feito está lá. Pare de pensar em tudo que você não fez ontem porque aí você está na jaula. Desenhe uma linha do tempo e coloque o não-mundo no seu futuro, o não é uma libertação.

Tefo disse...

tavez possa ser mais animador:
http://www.qwantz.com/archive/000233.html
eu adoro este quadrinho

Pedro Sibahi disse...

Lia usando as aulas de Ciências da linguagem! HÁ!
Eu não me importo com o não mundo.. ele fica lá.. e querendo ou não nos apropriamos dele.. É bom para os presunçosos conhecê-lo..
Mas é irrelevante para o que importa: o que dói bem no meio da barriga!

Lia Lupilo disse...

sério?

Anônimo disse...

achei lindo esse teu texto
...
de verdade
teu mundo sim e teu mundo não
são lindos lia

Unknown disse...

said dr xavequinho
q viagem