quinta-feira, 3 de abril de 2008

Metalinguagem cotidiana ou à procura de identidade blogueriana


Esse blog não passou por fases suficientes para eu ter preferido alguma delas. Mas não ligaria também se ele fosse experimentação até o fim. Blogs não precisam ter linha, eles são razoavelmente livres para se postar o que der na telha, mas é fato que às vezes pensamos sobre o que se é postado.

Antes de resolver fazer jornalismo, eu lia jornal e outras coisas, e sempre queria comentar com meus amigos, fazer um desenho a respeito, me expressar de algum modo em relação às coisas bizarras que aconteciam. Esse blog surgiu para que eu pudesse me posicionar em relação a todas as outras coisas, mas vários motivos me levaram a abandonar essa função que, por tabela, seria informativa, onde colocaria meus amigos/leitores(?) a par de coisas que julgava importante. Função um pouco pretensiosa, como fui percebendo.

Objetivando essa função, postava impressões a cerca de coisas horríveis e maravilhosas que me tinham tocado em algum sentido. Mas sempre ouvia críticas que diziam que meu blog estava ficando "chato" - me importo mais com críticas do que deveria, mas isso é outra história -, ou, segundo crenças pessoais, não via sentido em dizer tais coisas. Crenças pessoais subentende-se reflexão sobre o jornalismo em si: é fato que minha anaforia crescente tem relação com alguma desilusão,
[desilusão talvez seja palavra muito forte, é preciso algo menos impactante, que mostre como a função informacional foi se tornando cada vez menos interessante, inútil, a ponto de ser desprezível...]
desimportância.

A desimportância social no jornalismo tem a ver com o seu jeito esquizofrênico, mantendo-se sempre alinhado aos interesses dos grupos aos quais interessa a estaticidade do país em quase todos os sentidos, e como instrumento da manteneção da ordem vigente... Coisas realmente odiosas e tristes. Um meio cruel onde não importa o que é veículado (nunca teve importância), que nunca mudou nada. Ao contrário.

É claro que não se trata apenas de jornalismo, mas sim de toda produção cultural. "Você quer acabar com a fome fazendo um documentário?", disse em tom de rir-para-não-chorar, o documentarista João Moreira Salles, na primeira palestra que vi quando entre na faculdade. Toda a função do documentário é para com ele mesmo, toda a novidade. É uma pretensão babaca querer mudar alguma coisa por meios indiretos. Claro que isso não tira a beleza de uma bela obra, não a desmerece - só um pouco. A mesma coisa a música, as instalações artísticas: nenhuma faz diferença nenhuma.

[Enquanto escrevo isso ouço muitas vozes que me vêm à lembrança, para buscar uma imparcialidade de merda - porque em nenhum momento acreditei em imparcialidade, e qualquer busca por ela é nociva - mas vou dar forma à algumas dessas vozes de algum jeito, nesse grande parênteses/chaves?:
*Mesmo que não tenha mudado o mundo, o rock dos anos sessenta mudou muitas mentes, que fizeram a revolução sexual, algo muito significativo. Se não fosse pelo rock aquelas mentes não teriam feito o que fizeram, e o mundo não teria trilhado o caminho pelo qual trilhou
adaptação de trecho do livro Cibercultura, de Piérre Lévy, entusiasta tecnológico (já ouviram falar de anarquia digital, o futuro político? Haha, nessa altura do campeonato nenhuma teoria é inviável, estou aberta a ouvir atentamente qualquer coisa, bring it on, baby)
*-Eu sei que não muda nada, mas se minha música deixar alguém alegre depois do trabalho, já é um motivo para eu continuar fazendo-as.
-Mesmo que isso ajude-os a serem mais explorados estando de boas condições psíquicas?
-Sim. Não vou abrir mão de fazer músicas que julgo belas...
trecho adaptado de conversa com um amigo músico mais-bossa-nova-que-cinema-novo - como costumava provocá-lo
*Jornalismo é só mais uma profissão. Todas as que existem tem o mesmo dever, de buscar uma vida melhor para a humanidade, elas não se diferenciam nesse quesito. Se quiser essa palavra, muito bem, use-a. Luta. Todos devem lutar para que todos os homens tenham condições básicas de dignidade.
brainstorm adaptado
*Quem disse que os nossos atos não tem validade? Eles têm. O que acontece é que, desde que você se entende por gente, tudo conspira para que você acredite que não pode fazer nada, que seus esforços são inúteis no mundo. E é com essa técnica, de fabricar uma geração desiludida e inerte, que eles continuam no controle. Se ninguém acreditar que pode fazer algo, ninguem vai fazer, e as coisas continuarão do mesmo jeito.
adaptação de bate papo com amigo militante e muito corajoso
*Existe eles? O controle desse mundo é de alguns ou de todos?
brainstorm adaptado
*Será meu desânimo fruto de mensagens subliminares ou discursos diretos/indiretos que pregaram minha fraqueza?
brainstorm adaptado
*Não importam os resultados
se dará certo, se é ilusão
se outros já tentaram, se é inédito
nada disso importa se não a luta, o único caminho é o da ação. Dever de todo homem desde o momento em que nasceu. Assim, não importa a forma escolhida, tudo o que deve fazer é algo, e toda inativez é vergonhosa.
interpretação pessoal de escritos samurais]

A par de tudo isso, comecei a postar entretenimento. Coisas leves ou não, que apenas tentassem divertir quem entrasse - era a única coisa que poderia fazer. Para que encher o saco escrevendo coisas inúteis? E acreditava que, através do que postava nas coisas inúteis ou leve, estava subentendido toda a minha tristeza em relação as coisas que se passam. Porque eu continuo sendo essa pessoa que toma conhecimento de algumas coisas, que se emociona com elas, só não sou evidente em relação à isso. Não preciso escrever longamente sobre a injustiça com o tibet/palestinos/camponeses/mulheres/cubanos. Os leitores desse blog sabem o que se passa no mundo, eu também, aqui é somente um respiro através de um galho, em meio à tudo.
Aqui é um silêncio no oceano informacional,
onde por meio de histórias sem sentido ou personalistas,
fazemos nosso luto ou nosso louco júbilo
brindando o universo ao mergulharmos nele.



A busca por um sentido do blog se confunde com a minha. E hoje eu só vou contar uma história bonita em memória de toda a desgraça ou graça nos pequenos, nas pequenas coisas.
[Um amigo meu disse ser contra as pessoas melancólicas pois elas são burras de não ver que existem tantas coisas boas. Eu concordo às vezes, amigo querido, e me esforço para nunca perder de vista as coisas que valem a pena.]

A revolução do amor

adaptada de bate papo

Disse que era contra os colegas "revolucionários-clichês-marxistas-x-istas".
-Não acha importante o movimento estudantil? - perguntei - Eles tentam fazer alguma coisa para parar com o desrespeito...
-Acho que os meios são atrasados. E a ideologia. Não dá mais pra não fazer releituras modernas desses teóricos pais da esquerda. Não daria certo, é preciso achar outro caminho mais conivente com o contexto atual.
-Concordo em parte, mas o que acha que daria certo? As ONGs? - tentei inutilmente provocar
-Sim, porque não?
-Por que, apesar de não existirem só ONGs picaretas, elas tentam fazer algo dentro do sistema, dentro das leis de funcionamento vigentes. E isso, querendo ou não, é abaixar a cabeça para o que acontece. É como se fosse um jeito de intervenção muito humilhate, conivente com a situação. Uma luta calada.
-Mas me diz, se todos fizessem trabalho voluntário, e cada pessoa que existisse fosse assistida de algum modo, o que aconteceria?



Pensei que ele era um louco que nem os que tentam mudar no cerne. Mas não deixa de ser uma história bonita.

[Não há nenhuma conclusão nesse post, mas sim milhões de aberturas bem vindas e discutíveis]