segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Nota do dia

Palestra da Mostra Ecana de Cultura e Arte (MECA)

[Lívio Tragtnberg]
Tomem cuidado com marqueteiros. Essas ONGs que põem violino na mão de meninos pra fingir que ensinam cultura. Cultura não se ensina, cultura se tem. Chama-se cultura de aeroporto trazer alguém de fora pra fazer um puta show, e depois o cara vai embora. Violino é cultura em Salzburg: o pai e o avô do menino de cinco anos tocavam. Mas aqui é cultura de fachada, feita para ONGs se promoverem. Para instituições privadas se promoverem e falarem que estão fazendo um trabalho pra essa população. É o governo, por meio da educação, que tem que ensinar. Pois cultura tem a ver com o cotidiano das pessoas. Os projetos sociais uniformizarem as crianças é algo indigno, para fazê-las parecer limpas.
É preciso tomar muito cuidado com eles, principalmente os que tem a fachada impecável, politicamente corretos. É como um aluno meu disse em uma composição: nada de graça é de graça. Por isso, tomar cuidado com isso também, desconfie de tudo que é de graça: têm por trás os maiores interesses.

[Ferdinando Martins: adendo]
O Zé Celso quis por que quis levar Os Sertões para Canudos. Foram e fizeram um grande espetáculo, que mobilizou a cidade inteira. Além de quererem exibir para toda a cidade, tinham que exibir para o mundo inteiro, então ia ter transmissão pela internet. Eu fiquei da minha casa, aqui em São Paulo fazendo os links, e na época eu não sabia que para transmitir aquilo a cidade inteira ficou sem energia. E que só aquele espetáculo gastou o equivalente ao orçamento anual de Canudos. Isso é arte? Arte hoje em dia não muda, só reafirma valores. Para quem é essa arte da Oficina?

[Lívio Tragtnberg encerra]
Cuidado com as ilusões. Percam-nas o quanto antes, se eu tivesse noção do tamanho das ilusões em que me meti... leiam “Ilusões Perdidas”.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Nossos amigos, os transeuntes

Devemos valorizar todos aqueles que cruzam nosso caminho. As pessoas que pegam o mesmo ônibus que você, páram do seu lado no semáforo, estão no mesmo vagão de trem ou metrô. É enlouquecedor o tamanho da coincidência de cada um deles em cruzar com você. Um fenômeno realmente notável.

-Nossa! Uma pessoa!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Toda a esperança do mundo

Eu sempre achei que os melhores momentos de se escrever eram os momentos de fossa. Sempre dizia que era quando ficamos mais sensíveis, e buscamos refúgio no ato de criar. Besteira. Sou sensível o tempo todo. Tenho um amigo que associa a fossa com a produção artística justificando que quando está feliz vai fazer outras coisas. Também não é assim que funciona comigo.
Eu sei lá quando tenho vontade de escrever. E tempos ruins não são necessariamente épocas de vacas gordas, cansei de estar mal e querer fazer nada. É difícil levantar da cama até quando temos compromisso. Como se o cotidiano fosse muito custoso e sem sentido, a verdade é que nessa época realmente não compensa levantar.
Então durmo de persiana arriada (daonde eu tirei essa palavra? nunca falo) para que o sol me incomode de manhã. E fico feliz com essa luz entrando, e quero levantar.
Hoje fiquei feliz com um pássaro que atravessava uma pista onde treino corrida. Em vez de dar a largada eu me sentei e fiquei olhando os olhos vermelhos e o jeito dele chacoalhar torta a cabeça, como se houvesse entrado água. Eu sorri em um dia que estava sendo bastante ruim. E pensei que tudo que é ruim era pequeno.
Pode ser que todo esse otimismo de coisas naturais (ah! a natureza) seja fruto de uma educação que recebi de uma penca de filmes e livros. Não nego. Mas aí tudo é educação, e tem coisas que nós só chutamos.
Não sei por que dos relacionamentos, já falei disso em outra oportunidade. Por que de outra pessoa. Não sei por que isso é tão natural e estranho ao mesmo tempo. Estranho como um cruzeiro. Eu não faço a mínima idéia de como se dirige um cruzeiro.
Quando pensei nisso na viagem de ônibus pra voltar pra casa eu fiquei calma. Em um dia notoriamente estressante com direito a sequelas físicas - o problema não era mais do distrito da alma.
Então eu quis me transformar em uma bola. Pegar os meus problemas e minha dor bastarda (segundo um amigo, a dor que eu sinto não é só minha, eu pego de outros e legitimizo) e encolher tudo num enrijecimento de membros e torcer de tronco. Iria me dobrar para frente e sair atropelando tudo o que é ruim. Não iria mais ficar triste, eu só iria me divertir se alguma coisa com penas ficasse no meu caminho e me fizesse cócegas.
E se eu não falasse mais nada e o deixasse livre para vir a mim quando se sentisse melhor? Não era mais questão se nós éramos um casal, e eu tinha de pensar em toda a complexidade que dois junto exige. Eu só queria que ele se sentisse bem e amado. Uma rosa? Eu poderia levar uma rosa e esperar ele sair de manhã no horário em que sai. Uma rosa é um pouco clichê, mas é bonita.
Alguma coisa, desde que estivesse escrito "toda a esperança do mundo".
Não que contivesse toda a esperança do mundo, mas toda que eu tenho no mundo, aonde eu moro.
Não esperança nele como partido, livre-me D-s dessa palavra horrorosa, ou em nós como instituição social. Mas esperança que vale a pena levantar. Uma rosa é bonita né? Principalmente com sol na cara? Não sei.
Esperança de que essa fase triste vai embora se olharmos pra coisas que realmente interessam.
O que realmente interessa?
E sei eu?
Bom.
Essa pena veio de longe. Não é só uma pena. Ela contém toda a esperança do mundo, e eu trago pra você.

[Se o autor dessa frase é a filha mais nova, americana, de uma geração inteira de mulheres chinesas que só sofreram antes e depois da imigração, acho que eu posso falar a mesma coisa e ter um pouco disso também]

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Tipos por aí

tipo forte
forte de maneira tal que tinha atitudes que faziam os outros desgostarem um pouco dele, mas não ligava pra isso e agia desgostosamente

tipo inseguro
tirava o corpo fora até quando não cabia corpo nenhum, num show alucinante e esquizo

tipo máquina
tipo, processava informações e repassava, e fazia novos cálculos e emitia e de novo. e não tinha paciência para palavras cujo sentido não estava escancarado

tipo móvel
andava