quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Coisas do meu brasil

Infração
"Conduzir motocicleta, motoneta ou ciclomotor sem capacete, viseira, óculos ou vestuário exigido por lei ou ainda fazendo malabarismo ou equilibrando-se em uma roda, transportar passageiro sem capacete ou fora do banco ou carro lateral, transitar com faróis apagados, ou com criança menor de 7 anos ou sem condições de cuidar-se."

[fragmento retirado de apostila de auto-escola para preparação da prova teórica de direção do DETRAN]

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

histórias, contos e causos

[01/12]
Tinha mais duas semanas, segundo um amigo. Duvidava, mas mesmo assim, quando ele me disse isso no começo do feriado, involuntariamente relaxei. Não adianta, parece que é minha sina fazer as coisas em cima da hora. E daí se estou "lendo" para escrever o artigo há mais de um mês? Sempre é nas coxas, já mudei duas vezes desde o tema original. Foi conversando com dois colegas, numa recente noite de quinta-feira que tive a idéia em que segui firme: escrever sobre narrações náuticas!
Não sei se é justo dizer que desde criança sou apaixonada por elas. Talvez a primeira coisa adulta que li do gênero foi quando tinha dez anos: chamava-se "Mar Sem Fim", do Amyr Klink. Tive sorte. Não era o primeiro livro dele, mas com certeza o melhor entre os que vieram antes ("Cem dias entre céu e mar" e "Paratii: Entre dois pólos"), e que depois tive a oportunidade de ler. E não foi só Amyr Klink, li mais uns bons livros de expedições, incluindo "Viagem de um Naturalista ao redor do Mundo", diário do jovem Darwin de carona no Beaglle. Esse último, claro, foge da regra. Mesmo tendo sua narratividade, é mais um diário das espécies coletadas e impressões quase antropológicas dos moradores por onde passam - muito interessante, mas chato pra burro.
Os de Amyr Klink, não à toa, são classificados em várias livrarias como "romance de aventura". Comecei a ler o último livro lançado por Klink, “Linha D’Água”, esses dias para fazer o trabalho, e poder classificar também o único que não tinha lido (porque o que não tenho, “Janelas do Paratii”, é fotográfico, e vou ter de esperar alguém me presentear com ele). É interessante como, propondo-me uma leitura diferente, percebi como os livros dele são tão...narrativos. Como a história do nosso querido Joanorzim (contada uns posts atrás). Ou ainda como a de Azur e[t] Asmar: filme adorável que vi outro dia, com novos elementos em um esqueleto senil.
Sim, um esqueleto senil: um herói, um cúmplice que passa a rival e depois novamente a cúmplice, os cúmplices que presenteiam com os adjuntos (objetos mágicos que terão seus momentos milimetricamente apropriados – como uma chave dos cheiros para abrir o portão dos cheiros), as provações (antes e depois da viagem), e principalmente o crescimento do herói. E é por causa desse crescimento que tomei a liberdade de olhar para os quatro livros de expedições do autor como uma única série, intitulada Relatos de Amyr.
O engraçado é que sem pretender (acredito) escrever pela literatura, mas sim pela aventura, pela vaidade – que seja! – ele utiliza fórmulas tão tradicionais, como em Cinderela, Senhor dos Anéis, Os Doze Trabalhos de Hércules etc. O que me levou a pensar se a narrativa do herói surgiu na aventura da vida, ou se, incucados com histórias tradicionais, contos e fábulas desde pequenos, nossa vida torna-se um narrativa, torna-se uma história (um pouco do que acontece em Lisbela e o Prisioneiro: a vida da moça vira uma história de filme, como os que ela tanto gostava), ou pelo menos a enxergamos como uma.
(acabei escrevendo só sobre o Amyr mesmo, pra quem quiser, fique à vontade)


[18/11]
Ela contou que tinha sido criada pela avó. Isso durante a infância: ia para o colégio, e passava as tardes brincando com o avô, contou até um causo quando ela, pequenina que era, convenceu-o de sentar-se naquele berço que na verdade era um barco. É claro que o tal do barco arrebentou, e quando a avó viu estavam os dois rindo no meio daqueles pedaços de madeira. Sim, gracioso. Então a outra amiga falou que ela não, devia ser legal passar as tardes de pequenez com a vó, mas ela tinha passado com empregadas: via novela, ouvia pagode e tudo que tinha direito – engraçado também.
Aí uma outra muito inconvenientemente se lembra, mas não fala pra ninguém – por que falaria, afinal? – da cena daquele filme, A Ilha (que ela gostava tanto), quando a Jordan Two Delta fala que o técnico estava errado. Eles sabiam que, além do núcleo de desintoxicação e convivência pré-Ilha, só A própria eram lugares seguros, onde se podia ao menos respirar. Mas estavam fora do núcleo, e definitivamente aquela casinha pequena em algum centro árido dos Estados Unidos não era A Ilha; mas mesmo assim Jordan falou que ele estava errado. Como poderiam ter sido enganados, por D-s, ela se lembrava da sua infância, das coisas antes de tudo “se contaminar”. Tinha sido criada na fazenda, e ainda podia sentir o cheiro dos morangos e E tinha um bicicleta com cestinha na frente, sim eu conheço essas histórias, diz o técnico, elas são poucas, eles só mudam alguns detalhes. E a inconveniente se lembra dessa história de carochinha enquanto ouve as amigas contarem como tudo era antes. Algumas histórias que mudam os detalhes, Ah que bobeira

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Azur et Asmar



Duas crianças criadas juntas por uma babá: Asmar é filho da serva tunisiana, Azur é filho do senhor do castelo, mas até uma certa idade passa todas as horas do dia em companhia da babá e do irmão (são uma família), inclusive dorme lado-a-lado com este. Mas como herdeiro do nobre, Azur logo é arrancado dos cuidados da estrangeira, e começa a dividir seu tempo, forçosamente, entre aulas de dança, equitação e literatura, até ser levado definitivamente para ser educado na cidade.
Já a serva e seu filho são expulsos do castelo, entregues à própria sorte naquele continente estranho.

Os anos se passam, mas o jovem Azur não consegue esquecer as histórias contadas por sua mãe, e convence seu pai a financiá-lo em uma viagem até o outro lado do mar onde, segundo as histórias da mãe tunisiana, morava aprisionada a "Fada dos dihns". O belo rapaz considera-se preparado para a jornada, mas por uma fatalidade do destino, torna-se náufrago após cair do barco durante uma tempestade. Acorda em uma praia feia e tenta estabelecer algum tipo de contato com os moradores que falam a mesma língua da sua mãe; mas nem um grupo de mutilados nem uma família pobre suportam sua presença, todos fogem, temerosos, provavelmente alguma fobia relacionada a seus olhos azuis, como consegue captar. Por isso finge que é cego, e até aceita ajuda de um mendigo (Abul) que quer fazer parceria com ele, "você pode me carregar, e eu vejo por você".



Depois de tropeçarem em várias barracas de vendas na cidade, devido à estranha anatomia de dois homens como um, chegam por acaso em frente a casa da comerciante mais rica da cidade. O garoto fica atônito e sai correndo, depois que pede para Abu descer, É ela! Tenho certeza que é a minha mãe! Ouvi a voz dela!
Você está louco? É a mulher mais poderosa da cidade depois da princesa, não faça escândalo!
Mas ele o faz, e consegue que tragam sua ex-babá até sua presença. Ela se faz de difícil, mas logo lembra do seu filho que tinha ficado do outro lado do mar e, como filho, é recebido com todas as honrarias que lhe são de direito. Todas as comidas, bebidas e sons daquele pedaço de mundo - como não poderia deixar de ser.
A conversa avança e Azur fica sabendo que seu irmão também sairá em breve para tentar libertar a Fada que há tanto conheciam. O irmão, Asmar, até chega a dar as caras, mas não o perdoou pelo abandono. A mãe, no entanto, põe em ordem: Vocês só serão rivais quando no último percurso até a Fada (uma caverna). Até lá terão muitos inimigos em comum, e será melhor se ajudarem.

É o que eles fazem. Mesmo começando a viagem carrancudos, eles se salvam assim que o outro cái em alguma emboscada, de modo que chegam juntos até a Fada.
O final é esperado apesar de detalhes que fazem toda a diferença. E não estou falando apenas de cenas lindas de morrer (ou quase morrer se você dá valor à vida), em castelos, pássaros, um leão escarlate e cada detalhe desenhado por Michel Ocelot. A trama inteira é construída de modo a destruir preconceitos conhecidos, como o menino ariano que se volta ao oriente muçulmano e negro, valorizando seus encantos, apesar do seu pai ser terminantemente contra. Há cenas essenciais como numa ida noturna à cidade, quando a princesa mostra a Azur, entre outras construções, "ali é a mesquita, aquela outra é a igreja e mais para trás a sinagoga". Três religiões coexistindo pacificamente, um recado descarado, mas é preciso se lembrar de que se trata de um filme infantil. O mesmo quando nosso herói vai se aconselhar com um sábio local, que misteriosamente sabe sua língua européia, "eu já fui de lá, mas me expulsaram", "por que?", "minha religião era diferente", "mas aqui também é", "mas aqui eles não ligam" - o sábio é um judeu, claro.
Como já disse o final peca em alguns aspectos, mas é impagável estar no cinema apenas com uma excursão de escola, e ao invés de ficar com vergonha, rir ao ouvir as crianças batendo palmas tão alegremente, assistindo uma bela cena de um mendigo dançando com uma senhora rica.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Corrente




"O que aconteceu então? Fomos expulsos da Sociedade das Nações."



Le Corbusier, Precisões
página 161 5ª e 6ª frase.


[Droga! Queria que tivesse sido mais emocionante! Coloquei até duas frases, não sei se podia, mas só até a interrogação seria demais x-]

Instruções:
1ª Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure)
2ª Abrir na página 161
3ª Procurar a 5ª frase completa
4ª Postar essa frase em seu blog
5ª Não escolher a melhor frase nem o melhor livro
6ª Repassar para outros 5 blogs

blogs indicados:
*Pedroka
*Aline
*Rael
*Muras
*Bruneca

divirtam-se

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Materialidades azuis em um dia roxo berrante

.
.





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as pessoas são caixinhas de fazer doer
e às vezes vêm pintadas de arco-íris

se você tiver muitas pessoas queridas
pode fazer um móbile masoquista muito divertido


terça-feira, 4 de dezembro de 2007

domingo de wiki

o movimento é descompassado
meus dedos são ágeis
o único som que ouço são as teclas
a sequência delas formando palavras linhas imagens
permeadas de backspace
letras backspace letras letras backspace
no fim
colorimos de preto algum espaço branco no infinito mas nos enganamos
não há cores
não há nem números
não há nada

sábado, 24 de novembro de 2007

Brilhantes


PLAYBOY fevereiro de 1989

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Novembro

Ahh! Novembro!













[mês maldito
aniversário da minha mutilação.
mês ao contrário,
que faz na existência frenética, lugar vazio]

sábado, 17 de novembro de 2007

Anjinhos

Nome odioso para uma idéia não menos odiosa. Apesar deu achar uma proposta interessantíssima e de um altruísmo fantástico.

Imagine se os únicos humanos mortos a partir de hoje fossem aqueles que acabam de nascer. Eu não estou sugerindo que matem todos os pequenos. Mas sim, se é pra morrer alguém, que morram os mesmos; ou se for para matar alguém, que sejam eles.

Assim, dessa maneira, fariam um favor para todos aqueles que deixassem de viver aqui, e aos adultos poupados.
Agora, se acham uma maldade com os pais do bebê, bom, digo que isso é muito egoísmo. É pensar em si mesmo, ao invés de salvar uma pequena alma.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Carta aos que vêm depois

Se a faculdade é boa?
Não sei, eu nunca fiz outra. Pelo que eu ouvia de outros lugares, nenhum professor dá aula mesmo, se for esse o problema.
Se esses dão ou não eu não sei. O que um professor de graduação tem de ensinar? O quanto temos nós mesmos de descobrir?
É a mesma resposta de antes.
Olha, não é por nada, mas nunca gostei de aula, de ficar sentada prestando atenção. Talvez quando é uma história, mas se o cara está lá na frente falando coisas mais complicadas, eu prefiro tentar tirar isso de algum texto, o silêncio faz mais sentido nessas horas.
Se tem alguém na minha frente falando, eu quero é responder, conversar. Mas a graduação está cheia de pessoas inteligentes, você não pode falar o que vem à cabeça. Você tem que pensar muito bem em perguntas realmente instigantes, ou comentários reveladores. Vai que depois você é mal falado, sempre tem alguém que vai te achar estúpido, não é mesmo?
Ah, outra coisa. Na Escola você não pode estudar. Para entrar sim, qualquer tipo de bitolação é sempre bem vinda, e realmente não importa a quantidade de anos de cursinho. Mas a partir do momento em que você é aluno da Escola, você é vagabundo por definição. Lê clássicos? Maravilhoso. Mas só aqueles mais rebuscados, os clássicos normais você têm de ter lido antes de adentrar o recinto ridiculamente patético, mas que só é frequentado por pessoas do mais alto padrão.
Sim, todos os que pertencem à Ela têm de achá-la completamente obsoleta. E tudo que pertence à ela. Ela pode ser uma porcaria, mas seus filhos são todos reluzentes e completamente bem dotados intelectualmente, além de extremamente bem informados. Ficou claro?
Ahh, óbvio! Nunca diga que gosta de TV, ou que prefere filmes a teatro. Não é de bom tom. Você fica parecendo..como se diz? Ah, qualquer um [que não é de lá]. Não é a coisa mais inteligente a se fazer, concorda? A mesma coisa em relação aos clássicos: se você não os leu, abstenha-se de comentários. É de bom tom e de bom gosto manter-se calado.
Você pode ser uma boa pessoa, de bom coração, mas quem liga pra isso? Você tem é de ser muito bem informado e extremamente bem dotado intelectualmente - acho que já dissemos isso. A Escola tentou ser acolhedora, mas ela é tão estúpida (é assim que se diz?)... Diz que é diferente de fora, mas pecou por tentar ser pelas aparências. É como aquele paradoxo, do alternativo que é moda (se é moda não é alternativo e blá blá blá).
Definitivamente, lá é uma merda (porque todas as pessoas inteligentes dizem que são, quem sou eu para dizer que não é? Eu que nunca fiz outra faculdade inteira, que não pesquiso os outros lugares do mundo). E seus habitantes, absolutamente maravilhosos. Isso eles são mesmo, e se você fica feliz com aparências, pode ter certeza de que se sentirá muito bem na Escola.
Ela, afinal, é como todos nós: leva amarrada ao corpo um pedaço de bicho morto, mas leva atrás, escondido. E na frente penteia o cabelo, dá um sorriso... Ops! Penteie o cabelo mas não sorria, sim, sim. É isso! Ninguém é idiota o suficiente para acreditar que você está feliz (naquele lugar tão - por D-s - medíocre).
Seja um fenômeno e despreze à sua volta, diga que é horrível.

Parabéns, você é o mais novo filho da Escola!!! =D ^^ ,-*****

[um beijo e um abraço]



[AHÁ! foto povocativa: digitei "novela" no google. Atitude igualmente vil]



obs. faltou eu tocar no quesito música. Mas se for ver por esse viés, faltou escrever sobre moda também, automobilismo, culinária...Bom, acho que toquei no ponto mais óbvio. Por ora é só.

obs.2. esse texto é autocrítico também.

sábado, 10 de novembro de 2007

103 minutos

103 minutos de legendas em português
falas em inglês
com pitadas vietnamitas.

Eu não entendi nada, Não consigo ouvir, Nem ler as legendas. No fim é isso mesmo, se não usamos aparelhinho, ficamos fora desse mundo. Precisamos de aparelhos para ficar no mundo...

Ah, vó, na hora eu pensei tão forte que talvez seria melhor ficar longe. Aproveite essa fase, quando no fim, você fica só com as coisas que importam.
O que te liga a nós não são os remédios
Ou os aparelhinhos.
Nada disso importa, nada mais, vó.
Por favor


Envelhecimentoé quando a pele acumula muita poeira do mundo.
[a pele que cai não é pele original,
é o que gruda e despenca com o peso,
e é seco, suga todo seu sangue.]

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Achei uma gracinha o menino que, travestido de homem aranha, salvou uma garotinha de menos de dois anos.
A casa pegava fogo, e a mãe da garotinha implorou para que ele não se arriscasse, aos prantos.
Achei muito estranho o fato da mãe não estar dentro do barraco, ardendo
dando a vida pela pequena. No fim da notícia,
ao ver a garotinha -quieta e com o olhar perdido- no colo da mãe
temi por ela. Mesmo.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Éter

Antes do céu virar a ducha mais potente do mundo,
onde eu moro o ar fica embaçado
como se a luz estivesse fosca.

eu tiro os óculos e tudo fica borrado
[como se visse com lentes de Renoir
os ponho e fica aquela materialidade quase amarela em tudo até onde a vista alcança

alcança os prédios e os cumes das árvores
as pessoas andam e não percebem que nadam
os carros atravessam e envelhecem mais rápido

e eu vou embora sem saber se sou uma iluminada

ou se eram meus óculos gordurentos.





terça-feira, 30 de outubro de 2007

O rolo do rolex

[texto interessante que li hoje de manhã]

ZECA BALEIRO


Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado?


NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.
Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.
Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.
Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado?
Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido.
Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime. Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração.
E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas.
Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram "comunistas" , "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao "Houaiss": "Elite - 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros] ; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o
grupo social [este, sim]".
A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.
Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate.
Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.


JOSÉ DE RIBAMAR COELHO SANTOS, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e
compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, "Pet Shop
Mundo Cão".

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Dúvida e olhar

Platão falava de 4 níveis de conhecimento, inteligência: (em ordem crescente de superioridade) eikasia - referente às artes -, doxa - linguagem -, epistemes -ciência, razão -, noésis - o que mais se aproxima do mundo das idéias, de Gaia, a origem de todas as coisas. Abstração suprema.

eikasia
mimesis
representação da natureza
O mais vil porque o mundo em que vivemos já é uma cópia imperfeita das idéias,
agora,
a mimesis é a cópia da cópia.

mas eu fico me perguntando se,
Platão tivesse visto algo de Cézanne,
ele não iria expirar e cair
- instantaneamente.


[Mont-Sainte Victoire. Diferentemente dos seus colegas impressionistas, Cézanne valorizava alguns contornos. Não todos, mas alguns são essenciais para entendermos as coisas, dizia, e estava certo.]

Depois de pintar a vida inteira como "via" as coisas,
Cézanne entrou em crise ao pensar que talvez passara a vida toda com um problema na vista
e por isso pintava daquele jeito.


[The great pine. Não é o artista que pinta a montanha,
é a montanha que o chama. O artista ao invés de buscar o mundo, deixa o universo transpassá-lo, e assim o concebe]


[end.]


e para não macular essa postagem de respeito, o top 1 putaria (com o perdão da palavra) é esse

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O Dia: flores, fotos e afins

Declaro aberta a temporada de postagens da série "Manual Para O Fim Do Mundo ou Manual do Começo Do Próximo Mundo".
Bom, aberta está.
e para começar,

[Esconderam de nós!]
Come flores e não é borboleta

Algumas flores comestíveis: viola tricolor, o amor-perfeito, capuchinho, agave-americana, calêndula.
Eu não sabia, mas é muito antigo o hábito de comer flores, e não só fervendo as pétalas para fazer chá (caso do borago), mas também em saladas (inclusive de frutas), geléias e como a fome ordenar.
É claro que as flores ideais para serem ingeridas são feitas organicamente ou achadas em jardins, sem venenos contra insetos, formigas e coisas do tipo.

[end]


O já tradicional violência top 2


cartaz publicitário da Itália contra a homofobia


pintinhos em feira na Indonésia

Revolução dos Bichos top 2


feira de novo


peru passeia pelas ruas de Massachussets


[é muito comum as fotos diáris do uol não estarem muito emocionantes. mas hoje achei algumas coisas interessantes]

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Post para constar

post para constar (ou para quem não sabe)

o drama da f$a (Fundação Santo André) em www.ocupacaofsa.blogspot.com

uma universidade pública que quer se tornar federal.
ultimamente houve até ocupação da reitoria, muito justo.

[esse blog apóia a luta dos alunos da fsa, especialmente da fafil (faculdade de filosofia, ciências e letras) pela destituição de Odair Bermelho =P]

sem mais.

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ainda são onze horas da manhã,
mas certamente já decidi qual a coisa mais idiota que vi hoje:
uma chamada na página inicial do msn - que, aliás, dificilmente noticia algo decente/decentemente -, sobre uma "tradicional" loja londrina (Harrods) que colocou uma naja para guardar um sapato incrustado de rubis e diamantes, exposto em uma vitrine.

agora, o já tradicional top 2 violência:
1- corpo de menino em alto estado de decomposição é encontrado por outros dois garotos em uma mala que boiava em riacho. Sidney, Austrália.

2- uma câmera de segurança em Moscou registrou, como quem nada quer, a cena de um motorista estressadinho, que atirou em uns pedestres que cruzaram seu caminho. O autor dos disparos estava aparentemente exasperado com a lentidão dos passantes, que sentiram na pele toda a virilidade estúpida que um homem é capaz.

sem mais, por favor, se não não sei mais
.
.
.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Amigo Imaginário

é aquele que você acha que é seu amigo mesmo, e confia nele positivamente; mas ele não confiaria a mesma coisa a você.


[end]


Palavras imaginárias

o legal de eu não conseguir escrever tudo,
é que eu sinto bem mais.
ou seja
se eu não consigo colocar em palavras
siginifica que ainda é indescritível,
porque quando você transfere, você perde, macula
quase inventa um outra coisa que te dá uma sensação próxima
só pra te deixar tranquilo.

o que estou sentido por esses dias não é algo que eu possa escrever
eu queria porque
talvez fosse me sentir muito melhor.
mas não consigo pensar em palavras, talvez elas até não existam,
foi quando essa idéia veio até mim.
mas em vez de me confortar,
ela aumentou minha angústia.

eu continuo sendo uma preguiçosa que não quer se dissecar
mas tem aquela pontinha de esperança,
vai que não é culpa minha
vai que é culpa de quem inventa as palavras.
gente de mente pequena.

sábado, 6 de outubro de 2007

To night I'm a rock'n'roll star

A noite nao esta charmosa, disse ela
e nao tinha nada a ver com a falta de acentos no odioso notebook emprestado.
por algum motivo,
ela [a noite] nao esta convidativa.
Outras ja me chamaram a atencao. Essa, eu nem sei qual lua e. Infelizmente, ela me parece nao muito charmosa.

Entao, a noite avancou. Nao, isso nao e um trocadilho, quando voltarmos ela nao vai ter envelhecido, nao vai ser uma bisneta dela continuando e tendo uma presenca antiga.
A coisa e bem mais simples que isso.
Digamos, bem mais...natural.

Ela foi contemplada com a morte.
Sim, estava mechendo com fotos de alguns que ja foram,
mas essa menina, ela foi contemplada com morte fresca.

Ela pode nao ter envelhecido, como ja informei antes
Mas amadureceu um pouco por ver que a vida e tao ridicula, e tao grande
Enquanto voce chorar por ela ela vai estar viva, disse, e continuou
E muito justo chorar por alguem maravilhoso. Tente continuar o que ela estava fazendo por aqui...

Disse friamente,
como se vivesse de um jeito conveniente.
Como se chorasse seus mortos como deveria
Como se fosse decente o tempo todo, com todos.
Como se nao passasse de um pinoquio

desejando ser menino de verdade.
Era so um pinoquio escritor, e de ma qualidade

A noite e ma
a lua tem alguma coisa de zombeteira
alguma coisa de chariou
de queimada.
Nao confiavel, absolutamente




(para um amigo que perdeu alguem querido. pode ser que ele nunca leia, mas eu escrevo pra mim mesma)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Fait Divers: Qian Xun

.
.


[o começo]
Police believe father abandoned NZ toddler at station

Victorian police believe a New Zealand toddler found abandoned at a Melbourne railway station on Saturday was left there by her father.
The little girl, of Asian appearance and dubbed "Pumpkin" by the police, was left by a man thought to be her father about 8am.
The pair were captured on CCTV cameras, the girl holding the hand of a man pulling a small suitcase.

The man disappeared and the toddler was found wandering around the station 15 minutes later by security staff.
Today police said they had identified the man and think he boarded a flight for the United States later in the day.

Police have confirmed that the three-year-old girl, named by police as Pumpkin as she was wearing a Pumpkin Patch top, and her father flew in to Melbourne from New Zealand last Thursday and stayed in the city for two nights. They were travelling on New Zealand passports.

A search is now on to find relations of the child and the New Zealand police and United States authorities are working with their Victorian
So far police in New Zealand have not been able to trace Pumpkin's mother.
A police spokesman in Auckland confirmed that three addresses in the city had been visited, but the child's mother had not been found.

He said that the Auckland Central police station would probably be dealing with the investigation tomorrow and more information would be available.
Pumpkin is currently in temporary foster care with the Department of Human Services.
Department spokeswoman Chris Asquini said Pumpkin had settled in well with a foster family.

But she said the little girl spent a restless night on Saturday and was longing for her mother.

"She's predominantly asking for her mother," Ms Asquiri said. "It's not to be unexpected that she would be distressed and when she has been distressed, the carers have comforted her.

"She's been watching children's DVDs over the weekend and was giggling and laughing," Ms Asquiri said.

The child had begun speaking after two days of silence.
"I believe she is saying `yes' and `no' when asked questions, and she is asking for her mum and that's all we are aware she is vocalising at the moment," a police spokeswoman said.

Inspector Brad Shallies, from the Transit Safety Division, said officers believe the man had boarded a flight to the US on Saturday.
"Our belief at the moment is that he has left Melbourne, in fact left Australia. Our belief is that he may be travelling toward, or may now be in, the United States," Mr Shallies said.

He confirmed the girl and her father travelled to Australia on New Zealand passports.
"That would indicate they have been in New Zealand for some time. What type of travelling has been undertaken since her birth I'm not in possession of yet," he said.

[o meio]




Qian Xun's grandmother thanks public, reunited with toddler

MELBOURNE/AUCKLAND/CHRISTCHURCH - Xiao Ping Liu - today reunited with her granddaughter Qian Xun Xue - has written a letter to the New Zealand public thanking them for their support.

In the open letter, Mrs Liu also pays special thanks to the police in New Zealand, Australia and the US.
Mrs Liu arrived in Auckland today from China and was whisked out of the airport to a meeting with three-year-old Qian Xun.

The toddler arrived in Auckland from Melbourne in secret yesterday with a caregiver on a Qantas flight.
The Herald Sun's website reported Qian Xun, who became known as Pumpkin after being abandoned by her father at a Melbourne railway station nine days ago, left the city at 10.30am local time yesterday (8.30am NZT) on a Qantas flight to Auckland.
Authorities in the United States continue to search for her father Nai Yin Xue. He is accused of abducting Qian Xun and murdering his wife and Qian Xun's mother, An An Liu.

New Zealand Chinese Herald editor Jerry Yang received Mrs Liu's letter. He said the it was originally written in Chinese by Mrs Liu and translated in China before being sent to an unnamed associate of Mrs Liu in Auckland.
Mr Yang said the man who gave him the letter is a close friend of Mrs Liu and comes from the same city in China.

"I think she wants to say thanks to everybody who helped her family and her only daughter," Mr Yang said.

Mr Yang said the English translation of the letter was literal and some of the emotion in the language had been lost.
"The English translation is what we call Chinglish. It's a word-for-word translation," he said.

Mrs Liu refers to Qian Xun Xue as "Xun Xun". Mr Yang said this was an affectionate modification of Qian Xun's name.
In the letter, Mrs Liu says she is writing on mid-Autumn Day, a day for family members to come together but for Mrs Liu, it is the day she leaves China to attend the memorial ceremony for her murdered daughter.
"At this very moment, anyone who has a conscience would understand the deepest pain in my heart," Mrs Liu said.

She writes she will take her grand-daughter back to China.
Mrs Liu said she is grateful to the authorities who have cared for her grand-daughter and expresses a desire to see justice done in the ongoing hunt for Nai Yin Xue - the man wanted in connection with her daughter's death.

Family reunited

Child Youth and Family officials have taken Mrs Liu and Qian Xun to an undisclosed location where they have been provided accommodation, Associate Immigration Minister Clayton Cosgrove said this afternoon.

[Madeline do mundo bizarro? Ao invés da criança, quem sumiu (um morreu) foram os pais. Ao invés de adultos precisarem de ajuda, foi a criança sozinha. Existem outras considerações, mas elas sã muito provocativas para esse blog, agora não estou com paciência (leia-se tempo) de me explicar ou me defender de desforra. Talvez depois]

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

24/09

Senador americano processa Deus por estragos

o que me surpreendeu nessa notícia não foi simplesmente a manchete, o tema (que é engraçado, sim), mas a foto: notem que o ventilador atrás da cabeça do Senador lembra uma auréola.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Six Feet Under

Six feet under, nome sugestivo para uma exposicao de arte. No site nao falava onde era, mas eu tenho quase certeza que se trata da Inglaterra.
Admiro os ingleses, eles me parecem um povo muito sabio ao serem tao loucos. Eles fazem coisas aparentemente sem sentido, engracadas e ridiculas, mas que dizem muito. Dizem como a nave dos loucos de Bosch (quadro colado em uma das minha primeiras postagens) e minha maxima atual, qual seja: nada faz o menor sentido.
Outro exemplo alem da exposicao a seguir, e a noticia de alguns meses atras. Um artista britanico, esqueci o nome, mas e um que e especialista em escorregadores (sim, voce leu certo, por Ds) estava com uma campanha para instalar escorregadores no Parlamento do pais. Os brinquedos, segundo o artista plastico, sao simples e sinceros, como deve ser a vida. Nao importa a idade, e dificil alguem segurar um sorriso em um deles. Genial.








segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Esquizofrenia

Movimento dos Sem-Mídia protesta em frente à 'Folha'

Diante da sede sede do jornal, os participantes do protesto leram um documento que leva o nome de “Manifesto dos Sem-Mídia”. O documento é organizado por Eduardo Guimarães, do blog Cidadania.com. Segundo ele, trata-se de um movimento pelo direito à informação correta, fiel e honesta. “Que a mídia fale, mas não me cale! Não nos cale! Não cale alguns e exponencie a voz de outros. Todos têm que dar opiniões. As pessoas querem confrontar opiniões!”
Conforme Guimarães postou em seu blog, “os sem-mídia se manifestaram por mais de duas horas sob um sol inclemente”. Sobre os signatários do manifesto, ele esclarece: “Alguma assinaturas foram colocadas no documento entregue à Folha e outras na cópia que foi protocolada na portaria do jornal”. Ainda assim, 191 pessoas assinaram o texto oficial.
Para o casal Jaqueline e Paulo — que levou os filhos —, desde cedo é preciso ter consciência da importância da informação correta. “Realmente não dá mais pra ler jornal. A grande mídia virou um partido político”, explicou a estudante Jaqueline Pascucci.
O organizador, Eduardo Guimarães, entregou uma cópia do manifesto do grupo, na sede do jornal. O site Conversa Afiada tentou falar com a Folha sobre o assunto, mas não encontrou nenhum representante do jornal.
[1509 vermelho online]

agora, a notinha da Folha (que estava no final de uma notícia sobre uma manifestação contra o Renan Calheiros)

"Sem-mídia"

Ainda ontem, cerca de 90 manifestantes, segundo a PM, participaram de ato batizado de "Movimento dos Sem-Mídia", em frente ao prédio da Folha.

Um manifesto --endossado por cerca de 190 pessoas, segundo os organizadore-- foi protocolado na portaria do jornal. O ato durou quase duas horas. "A mídia ataca o governo federal em benefício de seus opositores", discursou o gerente de vendas Eduardo Guimarães, organizador do protesto.

só isso.

sábado, 15 de setembro de 2007

28/08

II Semana temática de Oceanografia
Oceano: Riscos, Recursos e Registros
Poluição na Zona Costeira – palestrante : profª drª Cláudia Condé Lamparelli (Cetesb)

Mudanças no centro e na costa

A voz grave que prenuncia a avalanche de más notícias despista, de imediato, a real faceta de Cláudia Lamparelli, quarta palestrante da II Semana temática de Oceanografia do Instituto Oceanográfico da USP. “Sou otimista”, revela a bióloga depois de uma hora estonteante e até inesperada, visto se tratar de um tema relativamente conhecido e (ilusoriamente) discutido.
Pesca, turismo e lazer, atividades náuticas, maricultura (novidade em São Paulo), navegação e atividades portuárias: a palestrante começa citando alguns motivos menos óbvios pelos quais é importante preservar as águas costeiras, “Já existe uma preocupação, uma série de leis que protegem as águas de rios, mas pensar nas águas marítimas é um assunto recente”, reflete, “sempre teve na história da humanidade aquele mito de inviolabilidade do mar, afinal, ‘é tanta água’”, ironiza Lamparelli.

O mar cobre 70% da superfície da Terra, o equilíbrio e saúde desses milhares de quilômetros cúbicos de ecossistema são imprescindíveis para a vida no planeta. Esse assunto deveria ser de interesse e resolução de todos os países em ação conjunta, mas seis mil anos de caminhos errados levaram as nações a adotarem posturas mais egocêntricas e igualmente irresponsáveis. Apesar de que nem sempre o homem precisou se preocupar com isso. Digamos que a maior parte da culpa está mesmo concentrada a partir das grandes navegações, talvez exagerando, ou da Revolução Industrial pelos próprios resíduos industriais, e por ter propiciado um aumento nunca antes visto da população mundial, o que potencializou a quantidade de poluição doméstica – que é o principal responsável pela degradação das áreas litorâneas.

Juntamente com o famigerado esgoto caseiro, os resíduos industriais, os derramamentos de petróleo e os resíduos trazidos pela chuva são os principais responsáveis pelas plumas (manchas brancas usualmente superficiais que indicam poluição concentrada) e pela baixa qualidade do recurso discutido. Toda essa poluição atinge o mar pelos famosos canais ou emissários submarinos. Os canais são, na maioria das vezes informais, exceto alguns casos como os canais de Santos, que só são abertos quando chove (logo, a época da menor qualidade das águas e das praias coincide com o período de chuvas da região), e alguns de Praia Grande, cuja área municipal abrange 140 canais trazendo esgoto diariamente. Em vista desse problema, os emissários poderiam ser uma boa saída não fosse o descaso no tratamento do esgoto liberado, ou ainda o problema dos dutos curtos demais: o comprimento ideal, “seguro” para a população, seria a partir de 1km da praia. Em Ilhabela temos casos de dutos de 200 metros apenas, e o município ainda é o mais atrasado na rede de esgotos: apenas 5% dos canais são formais, ou seja, distribuídos em rede (e seria uma visão um tanto quanto otimista acreditar no tratamento do já pouco esgoto recolhido).

Mesmo quando os dutos de dejetos submarinos são considerados decentes, implicam uma série de fatores negativos: a matéria orgânica emitida a um ou dois quilômetros da costa apenas é filtrada e recebe cloro. A solução estaria na diluição pelos metros cúbicos líquidos, dando continuidade ao ciclo do carbono sem maiores choques. Essa medida protege a população que usa a praia, mas desequilibra o ecossistema localizado na boca do emissor (quando acontece o que Lamparelli chamou de poluição concentrada), o que pode trazer a longo prazo, conseqüências para toda a região, incluindo a praia (que é, querendo ou não, um eco do resto do corpo).

No século da conscientização ambiental (devido à proximidade do caos, certamente), a história não poderia parar por aí. Já que nunca fez parte do senso comum pensar em solução para a poluição da costa, resta às sentinelas do estado, vulgo legisladores, tomarem a iniciativa de cuidarem do patrimônio que foi largado às ONGs. É fato que o processo de elaboração e aprovação de uma lei é sofrível devido à demora, mas é extremamente necessária uma legislação moderna, que pelo menos no papel preveja as medidas necessárias para que possa haver qualquer mudança.

Considerando a necessidade de se criar instrumentos para avaliar a evolução da qualidade das águas, algumas questões já estão recebendo tratamento jurídico. É o caso da classificação dos meios aquáticos, que começou a tomar forma com a resolução federal 357 de 2005 - incluindo águas salobras nessa versão-, que estabelece classes de águas por padrão de qualidade (a primeira classe, por exemplo, são as águas que podem ser destinadas ao abastecimento para consumo humano após tratamento simplificado. As de segunda classe, à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho; terceira classe, à pesca amadora e à recreação de contato secundário; enquanto a quarta e última classe seria destinada à navegação), e a resolução estadual 274 de 2006, essa tratando dos critérios de balneabilidade. A doutora ainda ressalta a lei do credenciamento costeiro de 1997, e o decreto de zoneamento marinho de 2004.

Existe uma série de passos jurídicos para a manipulação de águas em território nacional, sejam para construção civil, industrial, complexos turísticos e outros. Além da classificação, credenciamento e zoneamento, há (a partir deste último) também o licenciamento ambiental, que seria dividido em licença prévia (os órgãos governamentais nessa etapa estudariam a viabilidade ambiental do projeto), licença de instalação caso a primeira etapa tivesse sido aprovada, e a licença de operação, sujeita à renovação.

A doutora encerra sintetizando o desafio do país na questão das águas para se livrar da poluição e para o uso geral, através das medidas que considera mais urgentes e já estão a caminho da efetivação (primeiramente no campo jurídico), quais sejam, quanto à qualidade das águas costeiras:

1- Classificação dos usos pretendidos (requisitos e poluição)
2- Legislação ambiental para licenciamento e zoneamento
3- Legislação ambiental de controle
4- Monitoramento e diagnóstico
6- Gestão ambiental

O caminho existe, enche os presentes de esperança, todos adoram o trabalho realizado por aquela mulher sincera, que com sua voz grave e necessária resume: “falta dados para que trabalhos básicos possam ser cumpridos. É necessária uma parceria com universidades, para que haja cooperação. Cansei de entrar em universidades e ver pessoas escondendo dados de suas teses, trabalhando apenas para a própria carreira”. É quase um convite.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Sem nenhuma esperança no mundo

Agonia
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Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Art. 225 da Constituição Federal).
.

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além disso ele citou algo como, têm direito sobre a propriedade, mas deve-se conservar as belezas naturais, algo meio piegas e necessário assim.

ouvi e pensei em levantar na hora e dizer pra ele ouvir bem, Posso te contratar por um real para abrirmos um processo contra Blairo Maggi, depois a Monsanto...? O que eles fazem é inconstitucional, não é mesmo?








Desmistificando
16/08/2007 - 08h19
Crise nos mercados globais afeta o Brasil, diz 'Financial Times'

da BBC
Os ativos financeiros brasileiros sofreram quedas significativas na quarta-feira (16), na medida em que a turbulência nos mercados globais ameaça chegar a uma parte do mundo que parecia relativamente intocada, afirma reportagem publicada na edição desta quinta-feira do jornal britânico "Financial Times".

Um analista ouvido pelo jornal diz que "o Brasil não é imune" à crise e que o país "está claramente mais exposto à economia global e aos mercados financeiros globais do que antes".

Segundo o jornal, grande parte das quedas nos ativos brasileiros é explicada pelas vendas dos investidores que precisam cobrir perdas em outros mercados. "Mas a extensão dessa queda sugere que os investidores podem estar sentido que os ativos são mais arriscados do que eles pensavam", diz a reportagem.

O jornal cita a desvalorização do real, com o dólar ultrapassando a barreira dos US$ 2 pela primeira vez em três meses, e a queda acentuada da Bolsa de Valores de São Paulo, que acumula perdas de 15% no último mês.

Dívida

"Há pouco tempo, na semana passada, administradores de fundos disseram que os mercados brasileiros eram imunes ao contágio, já que estavam livres de papéis de alto-risco, sem liquidez", afirma o FT.

O jornal observa, porém, que alguns analistas já "argumentam que investidores estrangeiros ficaram expostos a créditos de alto-risco no Brasil por meio de grande quantidade de dívida tomada no exterior pelas instituições financeiras do país".

"No ano passado, US$ 18,8 bilhões entraram no Brasil como dívida externa, a maior parte tomada por bancos. Eles investiram parte disso em títulos públicos de alto rendimento, mas uma grande quantidade foi repassada como crédito ao consumidor", diz a reportagem.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Sem nenhuma importância II

-Você vai lá sábado?
-Ah, vou sim. Eu estou querendo experimentar uns cafés diferentes agora, sabe, aqueles com aromas...

Não. As duas feanas* conversando não me interessam, não naquele momento. Meus ouvidos captam sem muita vontade aquele papo desinteressante, mas meus olhos estão atentos para algo mais sutil (ou tão escabroso que todos fingem que ninguém vê, e torna-se sutil desta maneira. Vamos fingir que é normal, estamos nesse lugar estranho afinal).

(Nome do clube)
Para sua segurança:
-Mantenha sempre seus pertences no armário com cadeado;
-Nunca deixe objetos pessoais sobre a bancada;
-Em caso de presença de pessoas estranhas, favor informar à direção.

Oi, com licença. Eu estava no vestiário quatro, aliás, sempre estou. Mas lá é cheio de pessoas estranhas, achei melhor comunicar-lhes. Tem umas mulheres muito peitudas que jogam vôlei e sempre ficam marcando churrasco, isso caracterizadas como vieram ao mundo. Ok, tudo bem. Mas o que dizer das meninas que entram depois de mim, saem antes, e de cabelo molhado? Isso é muito estranho só pode haver algo errado, não é possível. Eu não demoro muito, e juro por deus, elas saem arrumadas, de salto e brincos. Isso sem tocar na questão das que se trocam em cima das bancadas, no alto mesmo, como se desfilassem. É gracioso, eu sei, mas vocês pediram pra avisar sobre movimentações estranhas, e eu não faço essas coisas. Eu não seco o cabelo naquele lugar, se é que vocês me entendem.

Estou forçando, claro. Dessa maneira meia dúzia poderia reclamar dos meus rituais pós-treinos, eu não sou exceção, ninguém é igual.

Mas aquele dia meus olhos foram sugados para outra dimensão
eu estava me arrumando então
subitamente
aquela mulher me chamou a atenção.

Não são os muitos minutos gastos na frente do espelho grande apertando a gordura da barriga, deformada pela quantidade de tecido adiposo (deve ser por isso que usa blusas de moletom largas). Ela tem uma cor bonita, bem escura, e os cabelos são lisos e negros, bem escorridos... é uma mulher bonita.

Não são, novamente, os milhões de sacolas que ocupam, juro, metade da bancada central - não se tratam de malas ou mochilas, mas sim de dezenas de sacolas de supermercados diversos. Nem o fato de ter tirado um ralador de uma de muitas, e de outra uma cenoura e ter se posto a descascar aquela raiz no lixinho do banheiro.
E depois comido, acuada, com o umbigo à mostra.

Ela estava lá, de top, comendo sua cenoura. Eu já não ouvia mais nada de interessante, eu a lia, somente. Porque tanta vagareza? Não tinha sido a primeira vez que a vira, ela sempre estava com as suas sacolas espalhadas, e sempre com alguma fruta na mão, mas era sempre muito devagar, como se quisesse matar o tempo.

Foi isso. Que nem Ludvik e Lucy, ela bem devagar, tanto que o fez parar, o fez pensar e
Não.
É mais que isso. Sempre sinto pena dela, penso se alguém a está esperando, se ela é que espera alguém, se ela não tem nada pra fazer. Deve ser por isso que eu não paro: de certa maneira eu acho meio deprimente. Ou pena por simplesmente alguém a fazer esperar tanto tempo.
E ela tem de ficar com suas sacolas
E cenouras
Durante muito tempo mesmo.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sem nenhuma importância

Sexta feira
Algum lugar da Cidade Universitária

Geralmente sento mais na frente nos ônibus da vida, mas hoje, exepcionalmente resolvi sentar atrás, em um dos últimos cinco lugares - que eram mais altos do que os anteriores, por se tratar de um veículo com o meio rebaixado (esse detalhe é bem inteligível para a maioria dos leitores do meu blog, acredito). Na cadeira da frente tinha um homenzarrão/ um viking alto e loiro, de pele queimada. Não o achei bonito, não o achei feio, não sei se xingava a mãe, se fazia filantropia. Só lembro da mecânica do movimento que repetiu durante os metros em que convivi com ele/ tirava do bolso, enrolava com o indicador e o polegar e atirava as bolinhas formadas em dois garotos que estavam mais pra frente, na fileira oposta.
Inicialmente pensei que se tratava de um retardado, talvez tenha olhado até com alguma compaixão para o pobre diabo. Mas quando, em um certo ponto, subiu um sujeito e se pôs a prosear com o nosso protagonista, meu novo julgamento passeou entre serelepe e revoltado, infantil e vingativo.
E depois pensei que aquele cara de meia idade, jogando papéisinhos x em moleques, fazia tanto sentido quanto eu estar onde estava, dirigindo-me para onde me dirigia.

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Ao escrever sobre o amigo crianção/frustrado, impossivel nao imaginá-lo (mesmo na hora em que o vi) personagem de fábula, de algum conto europeu - daqueles que eu lia quando criança. Sempre tinha a menina de cabelos cor-de-cerveja e lábios botão-de-rosa, o velhinho maldizente que lançava pragas aleatórias, e vez por outra, um homem (quase sempre jovem) forte ou medroso ou vaidoso ou egocêntrico ou valoroso ou fanfarrão ou preguiçoso ou idiota. Idiota.
Esse não foi o único personagem errante que encontrei esses dias.
Acreditem ou nao, ontem, entrando no metrô, cruzei com um velho marujo tentado, ridiculamente, se disfarcar em roupas contemporâneas.
Aquele olhar azul torto inconfundível, de quem passou a maior parte de seus anos enrugando a testa por causa do sol, a toca curta mal posta na cabeca - um vício antigo que nao faz nenhum sentido nessa cidade-, o cachimbo pendente da abertura seca da cabeca (esse, assim como os outros, não tinha belos labios carnudos. nem faria sentido se os tivesse) se formando, ganhando cor, vida naquele corpo salgado.
Não, não era um simples mendigo. Era um velho lobo do mar que se aposentou e tentou viver como o resto do formigueiro.
É claro que nao conseguiu.



*

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Sem importância

liberdade é não se importar de levar na cara uma rajada de vento que vem da superfície de um rio poluído

perplexidade é pensar como a água de um lago artificial fica parada ao invés de se infiltar e vazar mundo afora

simplicidade é se impressionar com um pôr-do-sol horroroso, se pondo no cinza

alívio é ver outrem tropeçando pateticamente na entrada da livraria, exatamente como você fez minutos antes

depressão é ouvir Radiohead antes de dormir
ou ainda: sucumbir a uma poesia engraçadinha

medo é não ter certeza se andares de prédios não tem pretensão de formar sanduíches

liberdade é usar sandálias para caminhar.

domingo, 5 de agosto de 2007

Sem Sentido II









Sem título

nada
nada
nada.
não há vontade de fazer poesia
não há vontade de escrever com caneta ou com teclas
de um jeito odioso de cansado-velho
de quem fez pouco e acha muito.

a verdade é uma estrada
e a liberdade são escolhas de algemas.
a estrada é feita de feira, e você vai escolhendo os grilhões: eu quero esse, esse...
rosa peludo? clássico, mas quem sabe essa versão de silicone tecnológico que solta cheiro de ipê,
seria uma boa.
felicidade é uma escolha.
não é algo que é, que vêm,
é algo que você diz sim, agora, e se obriga.
é algo que você escolhe quando escolhe não pensar também,
é algo de procrastinação
de escolhas de agora que no futuro (que nem um outdoor de terceira categoria)
vão mudar sua vida.

me pergunto por que fazer isso agora,
por que ter certeza de algo depois,
se não dá mesmo pra viver do jeito que vai dando na cabeça
por que precisa ser planejado.
e me sinto defasada por não ter feito planos,
por não escolher cadeias, mas sim tomá-las emprestadas,
desfilando com pulseiras azuis em um domingo de sol,
despretensiosamente.

eu não sei o que eu quero
ou se é só preguiça,
perseguir um cheiro forte ao invés de ficar por aqui
tropeçar em um corpo caído
e se apaixonar por toda aquela simplicidade.
o mundo gira tanto que me deixa tonta,
me dá ânsia.

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e-mail de um amigo para a Detran:

"Venho por meio deste demonstrar meu desagrado com o regimento interno do Detran-SP. Fui impedido de realizar prova teórica no orgão por não estar vestindo calças, e sim bermuda. Tendo em vista que vestimentas refletem o gosto ou a cultura de um indíviduo, coloco que este impedimendo caracteriza-se como um preconceito socio-cultural. Enquanto as roupas cobrem o corpo o suficiente para não constranger aqueles próximos, cumprem seu papel. Restringir seu uso, além do caráter preconceituoso, leva à exclusão daqueles que não podem adquiri-las por motivos financeiros. Gostaria também de salientar que este tipo de posição perpetua costumes arcaicos, que há muito deviam ser abandonados pelos órgãos públicos brasileiros, muitos deles característicos de tempos nos quais a democracia e o respeito à pluralidade não eram valores sociais."

[Da primeira vez que li, eu ri, achei muito divertido.
Depois, pensei se seria melhor chorar por ver um exemplo tão bonito de fé, enquanto eu me revoltaria e, em vez de fazer algo, aumentaria o rancor contra o país que não deu certo.]


[esse post é tão sem sentido quanto essa foto. Tudo que há nela, tudo que diz respeito a ela. Com o perdão do amigo, e da imagem]

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Corpo-Sem-Alma


Havia uma viúva com um filho chamado Joanorzim. Quando tinha treze anos ele teve vontade de sair pelo mundo e fazer fortuna: a mãe disse que só quando ele conseguisse derrubar com um pontapé um pinheiro que ficava no quintal deles.
Dito e feito, todos os dias depois de acordar, Joanorzim tentava um pontapé, e como o menino era muito valente o feito não tardou a acontecer: um dia o menino derrubou o tal pinheiro e pediu a benção da mãe.
Lá se foi Joanorzim pelas estradas da vida, até que chegou em um reino cujo rei possuía um cavalo que ninguém conseguia montar. Observando as trapalhadas tentativas dos empregados reais, o esperto garoto entendeu que o bicho era assim porque tinha medo da própria sombra. Não demorou até o dia em que, sorrateiramente nosso herói chegou ao estábulo e, como-quem-nada-quer, pulou no lombo do mal-compreendido – que se chamava Rondó -, logo conduzindo-o para fora do recinto, mas com a cabeça contra o sol. Dessa maneira, Rondó não via sua sombra, e ambos cavalgaram felizes para surpresa do rei e dos empregados. O mancebo ganhou fama e o carinho real, mas não tardou a pisar na bola – como não poderia deixar de ser -, contando vantagem conforme o ego subia-lhe à cabeça. No caso, o alvo da língua grande era a filha aprisionada do rei: Joanorzim dizia por que dizia que iria libertá-la. Acontece que o boato chegou aos ouvidos do pai da donzela, que ameaçou de morte nosso herói, se ele se recusasse a salvar a querida filha.
Lá se foi Joanorzim para as aventuras mais memoráveis de sua jornada. No meio do caminho se deparou com uma cena no mínimo bizarra, que consistia em quatro animais (um leão, um cachorro, uma águia e uma formiga) velando o cadáver de um burro. Ao se aproximar, veio o leão tentar um diálogo:
-Joanorzim (sim, ele sabia o nome do nosso herói), você que possui uma espada, seja justo e divida esse corpo entre mim e meus companheiros.
Dito e feito: o mancebo deu a cabeça para a formiga (“assim você poderá usá-la como casa, e encontrará comida para toda sua família”), as patas para o cachorro (“poderá roê-las até se cansar”), as tripas para a águia (“essa parte é facilmente transportável até o cume das montanhas”), e o resto do lombo ficou com o leão, que comia mais que os outros.
Vendo a sabedoria do jovem, cada animal recompensou-o de alguma forma:
-Tome uma de minhas garras, começou o leão, quando usá-la se tornará o leão mais feroz do mundo.
-Fique com um de meus bigodes para que possa ser o cão mais veloz que existe.
-Já da minha parte dou-lhe uma pena: dessa maneira, ao usá-la será a maior e mais forte águia a voar pelos céus;
-Fique com uma de minhas patinhas, Joanorzim, elas lhe possibilitarão transformar-se na mais pequenina formiga, impossível de ser vista até mesmo com o auxílio de uma lente de aumento.

Feliz e premiado com os novos utensílios, o jovem seguia confiante para seu objetivo-sem-nome. Atravessou bosques, lagos, pontes, mais bosques até avistar um castelo. Era o castelo do mago Corpo-Sem-Alma. Joanorzim se transformou em águia e voou até o peitoril de uma janela que estava fechada. Transformou-se em formiga e penetrou no aposento através de uma fresta. Era um quarto bonito, e no (sempre) centro do quarto dormia a bela princesa em um baldaquim. Sempre formiga, passeou nas bochechas dela, até que a moça despertou, e se viu ao lado de um belo rapaz ex-formigo:
-Não tenha medo, bela, vim salvá-la!
Dito isso entra no quarto o mago Corpo-Sem-Alma para se afogar nas graças da moça. Fazendo cafuné no velho decrépito, que estava com a cabeça sobre o colo macio dela, a moça lamenta a sorte do guardião Oh temo pela sua sorte, se descobrem seu segredo; Ah minha princesa, olhe para você ver: só conseguem me matar se adentrarem a bosque do quintal, matarem o leão negro que lá habita. E não só isso, bela, teriam de vencer ainda o veloz cão que existe dentro do leão, e posteriormente, a águia que existe dentro do cão. E (só de sacanagem) teriam de quebrar na minha testa o ovo que sairia da águia. É impossível! Somente desta maneira minha alma retornaria a meu corpo, matando-me. Ficou mais tranqüila agora?
Joanorzim, a ouvir daquelas palavras não perdeu tempo, se dirigindo ao bosque, rapidamente encontrou o leão negro. Por sua vez, utilizou a garra para transformar-se no mais forte leão do mundo: rasgou o felino do mago. Como em profecia, da barriga aberta saltou um cão negro, mas nosso herói já estava na própria forma de cão, de forma que digladiaram-se até sucumbir aquele que nascera da barriga aberta. Era a vez da águia negra, que não teve chances contra o filho dos deuses, o escrito nas estrelas, o sortudo Joanorzim-águia, que pegou o ovo que saiu do cadáver e deu-o à donzela prisioneira.
É agora que a vingança ressentida acontece, a princesa, cansada daqueles anos de odiosos ais-bela-minha-querida, adentra o quarto de Corpo-(quase não mais)Sem-Alma com uma tigela de sopa.
-Eu sei que está se sentindo mal, ó grande mago, trouxe essa sopa para que se sinta mais forte. Tome e Ah! Espere, deixe cá eu colocar esse ovo dentro pra ficar mais substancioso e
É. A donzela amargurada quebra o ovo na testa do velho. O final já se sabe, a alma volta ao esqueleto, a idade pesa e o cadáver se cria. Joarnozim volta e como bobeira é pouco, se casa com a bela ex-prisioneira-de-mago.



Fico imaginando quantos sentem a mesma coisa que eu diante de certas histórias (tão antigas-sempre novas) naquele formato guerreiro valente e virtuoso que cresce ao longo da narrativa passando por pequenas provas, até que se encontra na missão de sua vida. Ás vezes apanha um pouco, às vezes não (como Joanozim), mas sempre é bem sucedido e recompensado: seja na forma de mulheres ou bom casamento com a filha de um herdeiro, seja na forma de riqueza espiritual como Galaaz e a morte que é a salvação. Ou até mesmo Buda que atinge o Nirvana, Cristo, Naruto e outros personagens superfaturados que de tantas missões, confundem o esquema.
Isso sem tocar no ponto arqui-inimigo. Quando a história é boa, esse é abstrato, podendo ser um alter-ego, uma fraqueza, uma mágoa ou a loucura - como de praxe nos contos orientais. O modelo mais batido é o daquele vilão que é mau sem nenhuma razão aparente ou humanamente inteligível. É mau porque tem parte com o demo, ou porque é louco e no final acaba transpassado por uma espada ou morto pelo próprio metabolismo rebelde com tanta malvadeza.
O que nessas historias tanto nos fascina a ponto de precisarmos de histórias “idiotas” que nada dizem além de reforçar velhos preconceitos e morais, de achar divertido ler os feitos de Tristão que mais parece um Jet Li roceiro usando tripas da mãe para laçar o filho boi?

Essas perguntas me vieram à mente depois de ler o conto Corpo-Sem-Alma, incluso em um livro de fábulas com o qual presenteei alguém querido. Só tinha lido o posfácio antes de comprar, achando divertida a idéia de alguém mundano ler coisas que fizeram tanto sentido para crianças de outra era, de outro condado (ahahaha). Talvez seja essa também, a minha resposta. A verdade é que abri o livro, li esse conto e primeiramente, não gostei. Não gostei de ter me sentido vazia ou “tapeada”. Mas isso é tudo uma grande bobagem, visto que tal história intrigou-me a ponto deu escrever mais de 3000 caracteres.
Com certeza lembrei-me das terríveis e necessárias palavras de Guillermo Arriaga em uma das mais fantásticas entrevistas que já vi no Roda Viva: (algo como) “quero que o leitor leia meus livros e depois se pergunte porquê o fez. É esse sentimento que quero induzir...”.
Eu sorri de raiva quando você disse isso, querido Guillermo. Não é aconselhável brincar de razões com quem precisa delas para viver, para presentear, para ler um livro, para ler um conto, uma fábula e por fim, para quem se diverte com as peripécias de Tristão, odeia o Jet Li mas simpatiza com Jackie Chan.

Abraços para o amigo que, assim como eu, se sentiu tapeado ao ler “As Aventuras de Momotaro”, jovem prodígio nascido de um pêssego gigante (Momotaro significa, aliás, filho do pêssego) que sai de casa cedo para salvar o mundo, é reconhecido como valente antes mesmo de sustentar a espada pela primeira vez, mata um par de demônios, salva donzelas e..só. É herói, lembrado, reconhecido. Pelo menos entre os meninos japoneses daquela região antes de Cristo. (Feliz aniversário, caro)



[aos mais revoltados: eu precisava contar Corpo-Sem-Alma inteiro para efeito de empatia e total inserção. Mas não pensem que não dei uma resumida onde foi possível.]

*
E para falar um pouco de hoje: revoltante os últimos dez segundos do jogo de basquete, quando o camarada bate bola durante todo aquele tempo, para “enrolar”. Já estava liquidado, mas não deixa de ser desrespeitoso. Dói ver, de fora, alguém levar uma surra. Quando se está dentro, eu sei, é gostoso demais vencer de muito, nocautear.
Mas além da bobeira humanística em relação aos jogadores porto-riquenhos, foi sofrível ver o Galvão engrandecendo o Pan, loureando os atletas; enquanto eu vejo no dia-a-dia brasileiros tão desiludidos com o curso do país, com as tragédias, com a economia, com a política. Parece que é até de propósito ver um desempenho tão bom em tempos de crises, é quase irônico. E me sinto tão conspiratória pensando em acordos, em circo, em picadeiros.
Parabéns aos batalhadores,
Mas considero encerrado o Pan (pelo menos nesse blog, até segundas ordens).

terça-feira, 24 de julho de 2007

Artigo para site

A saga da ética no fotojornalismo
Por Evandro Pimentel e Lia Segre

“O que fazer? Preciso fazer alguma coisa. Pego a câmera e me reprimo. Fazer uma foto seria o ato mais insensível que alguém poderia ter. Mas por que diabos ando sempre com uma câmera? Até quando vou à esquina comprar cigarro, levo uma comigo. Justamente porque alguma coisa sempre pode acontecer. E eu precisava fazer alguma coisa, pelo menos para acreditar que tudo não tinha sido um pesadelo”. Este trecho faz parte da entrevista que o fotógrafo e autor de As Cidades do Brasil Tuca Vieira concedeu à revista piauí em sua edição de abril desse ano, quando através de uma surpreendente narrativa pessoal descreveu sua atitude após presenciar um suicida se jogando do viaduto da Avenida Dr. Arnaldo, na capital paulista. Há fotos que são notícias inteiras por si só, mas todas elas, sejam elas ilustrativas ou informativas, passam pelo crivo da ética, que é nada mais do que o estudo, a consciência dos limites válidos, estipulada por um público ou comunidade. No caso de Tuca, a absolvição veio da boca de um bombeiro: “Fica calmo, você não poderia ter feito nada”.
Fotojornalismo é o ramo do jornalismo baseado em imagens. Ele surgiu como uma maneira de complementar as informações que antes nos eram dadas somente através de descrições. Nasceu com todo aquele mito da veracidade inquestionável: uma foto serviria para tirar possíveis dúvidas, nos isentando da responsabilidade de ter de interpretar a notícia. Os casos de manipulação ocorridos antes mesmo da popularização da fotografia jornalística já serviriam para refutar o mito. Como exemplo, o caso das fadas supostamente fotografadas, quando em 1917 duas adolescentes conseguiram enganar Sir Arthur Conan Doyle, criador de Sherlock Holmes. Até mesmo peritos da época declararam que os negativos não haviam sido alterados. Hoje, qualquer leigo percebe tratar-se de uma grosseira falsificação. Em 1902, foi fundado o movimento foto-secessão, por Alfred Stieglitz e Paul Strand, estabelecendo o direito da fotografia ser considerada uma das belas-artes Seja em casos extremos, como o da montagem das adolescentes inglesas, seja em casos mais discretos, como a escolha de um ângulo, percebeu-se que não só as fotos precisavam de interpretação, como o fotojornalismo envolvia toda uma ética a ser pensada. Mas, apesar disso, essa idéia ainda não está muito bem incorporada ao inconsciente coletivo e o mito da “verdade absoluta” sobrevive. Educar as pessoas para encarar a fotografia como uma pintura, ou seja, como uma linguagem carente de interpretação, torna-se então fundamental.
Segundo disse o estudioso e professor de fotojornalismo Boris Kossoy, em entrevista à revista História Viva, “A manipulação é inerente à construção da imagem fotográfica. A foto é sempre manipulada, posto que se trata de uma representação segundo um filtro cultural. São as interpretações culturais, estéticas/ideológicas e de outras naturezas que se acham codificadas nas imagens”. Fica assim explicitada a já citada importância da educação fotográfica: “A decifração das imagens vai além das aparências. Sua realidade interior deve ser desvendada segundo metodologias adequadas de análise e interpretação. Caso contrário, permaneceremos na superfície das imagens, iconografias ilustrativas sem densidade histórica”, completa.
Compartilhada por muitos fotógrafos, essa opinião não muda quando se fala em câmeras digitais: “Achava boba a discussão de que câmera digital permite uma manipulação melhor, mais apurada, porque a fotografia sempre existiu como instrumento político”, opina o fotojornalista João Bittar, responsável pela digitalização do arquivo da Folha de S.Paulo. “Corremos sempre o risco de sermos manipulados. No Rio, quando surgiu a discussão das digitais, reuniu-se uma assembléia que decidiu que quem fotografava de digital não era mais jornalista, sendo que preto e branco, típico do fotojornalismo, o [Sebastião] Salgado faz, e você não pode dizer que se trata da realidade. Aliás, o trabalho do Salgado é bom por causa disso: ele dá a opinião dele”, continua o fotógrafo, defendendo a parcialidade responsável dos profissionais de comunicação.
A National Press Photographers Association tem um código de ética para fotojornalistas que não condena a edição de uma imagem, “contando que a integridade da foto seja mantida”. Mas o que é integridade de conteúdo e contexto? Se houver uma superexposição, o fotógrafo pode - eticamente – editar a foto para restituir a ‘integridade’ que julgou originalmente ter captado? As circunstâncias que dizem respeito à atividade discutida são sem dúvida únicas, seja pela sua contemporâneidade, seja pela sua delicadeza e importância, tanto comercial quanto cultural.
É impossível falar de ética sem discutir limites: quanto vale uma boa foto? “Não é porque você é jornalista que pode ser diferente de outro cidadão qualquer. O ofício inclui o fato de você ser um cidadão. Você deve pautar suas atitudes nesses parâmetros: da ética, da solidariedade humana, do amor ao próximo. Esses princípios são pra valer e são pra todo mundo, inclusive pra nós”, acrescenta Bittar, na entrevista que nos concedeu.
A discussão da ética no fotojornalismo ganhou maior força em 1993, quando o fotógrafo sul-africano Kevin Carter fotografou um abutre observando e aguardando a morte de uma criança sudanesa subnutrida que definhava na relva, e mais recentemente este ano, quando o fotógrafo Tiago Brandão, a serviço do jornal Comércio da Franca, fotografou uma mãe salvando seu filho de um afogamento. Nos dois casos, a acusação foi a de não interferência do profissional no acontecimento. Ambos os fotógrafos são criticados até hoje, mesmo com o suicídio de Carter, apenas três meses após ter recebido o prêmio Pulitzer por sua mais famosa e polêmica foto. A atitude de Carter de fazer a foto, espantar o abutre e observar a criança por horas enquanto fumava e chorava é condenada por inúmeros blogs da internet. No caso brasileiro, algumas dessas páginas chegaram a colocar a foto do filho de Brandão e questionar se o pai retrataria o próprio filho se afogando ao invés de pular para salvá-lo.
Para João Bittar, cada caso é um caso. “Julgar as pessoas por elas terem tomado uma atitude depois que tudo já aconteceu é fácil.” O fotógrafo diz ainda que, no caso de Brandão, há dois aspectos importantes de serem analisados: “Um é que tudo teve final feliz, o que ajuda muito a pensar, o outro é que era um acidente doméstico, de alcance limitado. Se ele não tivesse feito as fotos e tivesse mergulhado com a mulher [Brandão afirma não saber nadar], a gente não saberia o que teria acontecido”. As fotografias, querendo ou não, conferiram veracidade ao caso, só que acabaram ganhando uma repercussão muito maior que a esperada.
A foto seria um produto mais rápido e instintivo do que ideológico, atitude-fruto da nossa sociedade imediatista e de vigilância. Há, por exemplo, quem ache válido mostrar o rosto de uma mãe chorando a morte de um filho, mesmo que a vida dela e de sua família não melhore propriamente, como forma de alerta. “É uma violência, realmente. Você me dá uma câmera objetiva, tiro a foto de uma mãe chorando, e no dia seguinte ela está em todos os jornais, todas as páginas de internet. Mas vai que isso incomoda a população, mobiliza o governo federal... Eu acho que aí, a foto cumpriu o papel dela, o papel social de denunciar”, diz Bittar, entrando em conflito com a visão mais cética do documentarista João Moreira Salles, que acredita que o respeito aos retratados vem em primeiro lugar: “Que direito você tem de dar um close no rosto de uma mãe que chora, de registrar aquele momento que lhe é tão íntimo?”
Há infinitas posições que se pode tomar frente à ética, mas essa talvez seja uma conversa sem fim, pois a ética está atrelada ao homem e ao seu conjunto, a uma sociedade que está em constante mutação. Mas parece difícil que a conclusão de Bittar tenha algo de inválido, mesmo com essa característica: “Eu acho que para ser um bom jornalista ou fotojornalista, você precisa ser uma boa pessoa. A ética está no pacote todo”.