domingo, 28 de junho de 2009

visita

Sozinha, na labuta, música de teclas
[o silêncio falso recheado de dedos batendo volumosamente]
E espia da janela os anos velhos, com um olhar cheio de lágrimas de saudades
com o rosto enorme ele assopra bafo que me pega desprevenida
e o cheiro é antigo mas é bom. não mofo, juventude.
a brisa dos outros anos me alcança, penso em esquecer a labuta e o desprazer
me entregar ao frívolo mais importante, que era o da não-preocupação e descanso.
o shorts-e-chinelo em tarde de sol, conversas despretensiosas e cheias de esperança quando o assunto era futuro. Eram só possibilidades, e tudo dependia da gente, da nossa força e vontade.
Agora, por mais que eu tenha vontade tudo parece que o mundo empaca. Não depende mais só de nós. Depende do resto do mundo, e esse é que é o problema que nos impede de voar rápido e longe.
[Voltando à cena]
ignoro os velhos anos, o vejo com o canto dos olhos mas não viro meu rosto para o mirar.
a brisa que me alcança docemente é tempestade disfarçada
sei que se me virar e mirar
[ainda que não o faça]
aqueles olhos melancólicos dos outros anos
eles estarão cheios de ventos furiosos

desejo me entregar à tempestade disfarçada de brisa mas
daqui a algum tempo quem me virá incomodar na janela será a música feita por teclas
e não me esquecendo disso é que continuo exatamente onde comecei

quinta-feira, 11 de junho de 2009

9 de junho

Não sou muito curiosa. Quando entraram no laboratório de redação gritando que a manifestação tinha virado quebra pau, amaldiçoei mas me neguei a ir até lá ver. Quando meus colegas começaram a deixar a sala, tentei lembrá-los da reunião que tínhamos - e que deveria ter acontecido há tempos -, mas na balança deles esse fato pesava mais. Então segui o caminho mais feito no momento por não entender de fato o que estava acontecendo, e planejar fazer uma reunião rápida enquanto as outras coisas rolavam.

Não vou contar o que houve, porque acho que já viram suficiente nos meios de comunicação (e coloquei uns links abaixo). Mas estou animada com a resolução da minha classe de fazer um jornal especial, com esse tema do confronto na USP com plano de fundo para todo o resto. Se tudo sair como planejado na reunião da pauta, será um exemplar pra ser guardado!

Quando mais tarde me perguntaram como foi a confusão, consegui resumir em uma palavra que fez muito sentido pra mim: humilhação. Sim. Enquanto, na praça do relógio, corria assustada da tropa de PMs em meio a fumaça e barulhos de tiro, a minha sensação era de um desrespeito que nunca tinha sentido.

Pela primeira vez em meio a um ataque da polícia (não, não costumo frequentar estádios de futebol), tremi compulsivamente desde o primeiro barulho de tiro que ouvi. Na fuga pelo microcosmo de cerrado representado imbecilmente na praça, quando um funcionário reclamou que desde o começo deveriam ter pego pedras pra se defenderem, me segurei pra não chorar.

Ok, relato muito sensível. Mas pra mim, a invasão, perseguição e acuação que os alunos sofreram pela polícia militar foi isso. Ver a ilha de sonhos a qual estamos acostumados se transformar em palco de guerra.
Não concordo com tudo que acontece por aí, com todas as posições estudantis, com toda resolução da Adusp, do Sintusp... Mesmo por que não existem pautas de reinvidicações fechadas, tudo é contestado a todo momento, e deve, é assim que são feitos os caminhos. De muitas falas. Mas se existe algo que eu não concordo, é ver uma manifestação ir para o buraco desse jeito, perseguição política e a postura autoritária da reitoria e do governador. Mas aí já é assunto para outro post. Peço perdão pelo mistério, mas não quero lavar roupa suja (imunda) agora. E também sinceras desculpas pela quantidade absurda de links, bem mais do que o normal, mas é um jeito de organizar as coisas muito conveniente!

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arquivo sobre o ocorrido, quem quiser mandar boas matérias escreva nos comentários que eu adiciono.

Fotos
pessoais no flickr.

Galeria de imagens do Uol

Textos

Professores da USP pedem saída de reitoria, UOL educação

Comunicado da Adusp sobre pedido de renúncia da reitora, Tatiane Klein

Estudantes da USP São Carlos fazem protesto

Entre bombas e cacetetes na USP, Paulo Moreira Leite

Após conflito, vice-reitor da USP promete tirar Tropa de Choque do campus, Camila Souza Ramos (colega e amiga)

Sindicalista é preso, Carolina Oms (também amiga e colega!). Só esclarecendo, na mesma noite ele foi solto junto com os outros funcionários e aluno.

PM transforma USP em praça de guerra, Caros Amigos

Vídeos


Fora PM do Campus

A repressão da PM na USP 2009


Charges










de Carlos Latuff

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Renúncia de reitora

Professores protocolam declaração pedindo renúncia de reitora
Declaração foi protocolada junto à Reitoria na tarde de 10/6, por deliberação da assembléia dos professores



Declaração da Assembléia da Adusp de 10/6

A Universidade de São Paulo tem desrespeitado, há anos, no seu cotidiano e nas suas instâncias de decisão, o Artigo 206 da Constituição Federal que define o princípio da gestão democrática do ensino público. O desrespeito fica evidenciado pela ausência de diálogo sempre que deliberações de Conselhos de Departamentos, Congregações e do Conselho Universitário acontecem sem a devida participação de alunos, docentes e funcionários. Nos últimos meses testemunhamos algumas dessas deliberações que, no lugar do diálogo, impõem de maneira autoritária suas decisões, gerando conflitos e desgastes desnecessários entre as partes envolvidas: demissão política de um dirigente sindical, o ingresso da USP na Univesp, a reforma estatutária da carreira, as mudanças no exame vestibular, entre outras. As três últimas, aliás, foram tomadas sem razões acadêmicas que as sustentem.


A crise atual vivenciada pela USP, originada pela negociação de data-base, como vem acontecendo nas negociações dos últimos anos, a ausência de diálogo exacerbada pela ruptura por parte do Cruesp da continuidade da negociação, culminou com a solicitação, por parte da reitoria da USP, da presença da Polícia Militar, provocando a violenta repressão que vivenciamos na tarde de ontem no campus Butantã da USP.


Em função dessa sucessão de acontecimentos:


“Os professores da Universidade de São Paulo, reunidos em Assembléia no dia 10 de junho de 2009, em face dos graves acontecimentos envolvendo a ação violenta da Polícia Militar no campus Butantã, vêm a público exigir:

1.a renúncia imediata da professora Suely Vilela como reitora da Universidade de São Paulo;
2.a retirada imediata da Polícia Militar do campus;
3.que a nova administração adote uma medida firme para impedir que as chefias e direções assediem moralmente os funcionários que exercem o direito de greve, de modo a criar condições objetivas para que os funcionários possam suspender os piquetes;
4.que se inicie também imediatamente um processo estatuinte democrático.



São Paulo, 10 de junho de 2.009.



Adusp-S.Sind.

Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

terça-feira, 2 de junho de 2009

Previsão de tempo

Quando percebi com empatia, o esforço que as luzes faziam para atravessar a atmosfera, sabia que uma palavra conseguiria expressar tudo que sentia. Esta palavra demorou a vir à minha cabeça: pastoso. Sim, é a melhor palavra para descrever o ambiente noturno do meu caminho.
A viscosidade da noite - das partículas de noite - pesava na luz, e estava até difícil respirar. Basta saber se ar pesado faz mal a alguém.





*
-Não sei se te entendo muito bem, queria poder ajudar mais.
-Acho que não dá mesmo, você tá do lado de fora.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

notícias de um campus sombrio


Segunda feira, 8h da manhã. A USP acordou invadida. Reitoria chama a polícia para reintegração de posse de algo que não estava ocupado.


Tentavam enfraquecer a greve dos funcionários impedindo o piquete nas entradas administrativas. Os chefes dos locais abertos (reitoria, antiga reitoria e Coseas) pressionavam seus funcionários para voltar à labuta.


funcionário do Sintusp amarra faixa. "A última vez que entraram tantos PMs aqui foi em 89", gritava Brandão no microfone do carro de som.


16h DCE ocupado da USP. O diretório central dos estudantes, tão disputado e discutido até um ou dois meses atrás, encontra-se meio abandonado e sem planos. A movimentação geral da USP engoliu o assunto. É uma pena que um lugar com tanto potencial está esvaziado.


Não sei quem ou quando.


Mas espero que algum dia isto seja parte das idéias de muitos que estiveram ali pela primeira vez desde a reforma, ao invés de quintal destruído de guerras e disputas sem um fim claro.