domingo, 5 de julho de 2009

Rom rom

Andavam de carro como muitas vezes faziam. Quando chegaram na altura da Rebouças com as Clínicas, o que dirige comenta do ato de banalizar aquele momento. Quando crianças, dirigir era tudo que a gente queria, e agora, andamos sem prazer nenhum. Imagine um brinquedo desse tamanho! O companheiro riu e concordou.
Quantos não sonharam em ter um buggy, ou o tiveram?
Lembro que uma vez, aos oito anos, discuti com alguns amigos da classe sobre as vantagens e desvantagens de ser adulto. Eu e uma amiga defendíamos que o melhor seria ser sempre criança, não queríamos crescer.

[E mesmo que não fizesse diferença, tentamos torcer para que isso não acontecesse, ou outra coisa supersticiosa]

Um amigo, no entanto, queria crescer, e um dos argumentos que ele usou foi que queria dirigir. Na hora falei que deveras seria bom dirigir, que valia a pena ser adulto para fazê-lo. Hoje acredito que nem naquela hora me convenci.
Voltando ao cruzamento da Rebouças com as Clínicas. O motorista acelera, Iupiiiiii!. A carona acompanha na empolgação, e os dois gritam tentando buscar o prazer que uma criança sentiria nisso. Os gritos acabam perto da Brasil.
A responsabilidade quando se adquire um automóvel pesa tanto que hoje em dia não faz diferença, defendeu a carona, buscando a solução mais próxima para o constrangimento que foi se esquecer como se diverte uma criança.

Eu nem vi quando foi a transição... era pequeno, pagava pau pro buggy do meu amigo, um quadriciclo na verdade. Daí, em equitação pensava como era bom cavalgar, ser impulsionado como nas costas do meu pai. Constantemente sonhava com meu poder de voar, batia os braços de levinho pra impulsionar e alcançava os maiores andares do meu prédio, era fantástico se mover.

Porém nunca associei essas sensações ao andar de carro com os pais, era mais como um quarto parado. Talvez por estar sempre no banco de trás, não sentia como se o carro fosse extensão do meu corpo.

O tempo voa mais que eu-no-sonho e quando lembrei de cavalos, já estava com o ronco da motobike entre as pernas, tinha 18 anos. E sim, foi muito divertido no começo, cada ladeira que pegava era um sorriso e arrepios. Daí fui pra São Paulo aos 20, e tive de pagar a gasolina, mostrar documento pro guarda, andar na chuva, derrapar na chuva, estacionar na chuva. Aos poucos foi ficando mais fatigante se deslocar dirigindo, com toda responsabilidade implicada. Vou à aula de metrô.


Por Lia e Rael]