segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Da dor da separação

Sei lá, me arrependi de ficar com ela. Um amigo me disse essa frase e outras antes e depois que não valem a pena serem registradas aqui, aquela é suficiente para dar uma noção da amargura pós relacionamento. Ou melhor, pós decepção da pessoa que já foi querida. Isso é certamente uma coisa triste - quase escrevi umas das coisas mais tristes, mas o último livro que li foi Maus, então não me atrevo a tal. Não o aconselhei a pegar a primeira que ver pela frente, por amor às vítimas de seu ódio, que tem sentimentos e ressentimentos iguais aos dele, e nenhuma culpa. Ou devo assumir que todos os habitantes tem culpa pela convulsão emocional, pelo campo de ovos que a Terra se tornou?
Todos vivem esperando alguém para tirar da solidão, para ser amado, estar no centro das atenções da emoção de outrem. Precisamos disso não sei porque, uns mais conscientemente, outros menos. Mas é interessante pensar que talvez nem sempre tivemos essa relação com as emoções, somos influenciados por um monte de coisas que vieram antes de nós - quando nascemos ganhamos um mundo inteiro de presente, de conceitos pré estabelecidos, de relações sociais semi prontas, só precisamos nos convencer de que estavam certos ou que somos fracassados, depende da alma.
Um chefe que eu já tive comentou uma vez da diferença que percebia nas gerações. Ele acreditava que a minha era mais emocionalmente dependente que a dele. Se bem que, hoje em dia, imagino que pode ser só pose de machão independente que ele fazia (com o perdão, ex-chefe) - era um rapaz de cinquenta anos e solteiro há alguns. Por causa do computador, do fato que fomos largados em casa com aparatos eletrônicos e tivemos menos contatos humanos do que no quando dele.
Mesmo que essa idéia dele seja bobeira, que o homem sempre teve a mesma dependência em todas as épocas, acredito que somos sim influenciados pelo mundo que nos cerca, pela cultura que consumimos desde pequenos - compartilhamos um mundo diferente dos nossos pais. A visão sobre o amor é algo cambiante.




É disso que estou falando. Influenciado pelo que nos é propagado desde sempre, somos impelidos a achar o amor ideal. Por que não posso ter um final feliz como teve Sakura -ignorando os engraçadinhos que falam que dois meses depois eles se separaram- ? Nos esquecemos de que o amor de verdade se desenvolve no que não é perfeito, esquecer isso nos leva a desvalorizar quem está do nosso lado e realmente se importa conosco. Não acredito em alma gêmea, é muita ilusão pensar que há alguém certo pra gente. Nós fazemos o agora ser certo, e amamos respeitando as diferenças, os erros, as fraquezas. Ao menos buscar isso.
E quanto ao amigo magoado, se ele entendesse que as pessoas são solitárias e, de erro em erro buscam o que é bom para elas, não seria tão duro com a ex. Espero que ele tenha mais cuidado de agora em diante ao se envolver com outras garotas, para se machucar (decepcionar) menos.
Não existe fórmula.
[fim]

PS te amo, Rá (-

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Senhora das Armas


Não era pra ter sido assim. Ao menos não naquela hora. Ano novo, discutia meu namorado e uma amiga engenheira (estudante), a Irma. Quando menores, influenciadas pelos mangás, brincávamos de simular eventos no futuro, e nos correspondíamos em meio a uma guerra que aconteceria em 2011. Uma longa guerra, e cada uma estaria em um local do mundo, realizando determinada atividade. De médica acabei em uma faculdade de jornalismo, e longe dos uniformes militares, passei a pensar modos de cultivar um mundo pacífico. Minha amiga também, a seu modo.

Mas nessa conversa imprevista, Irma comentou como quem nada quer seu desejo de trabalhar construindo armas. Essa declaração me impressionou, mesmo que eu já conhecesse seus pressupostos e influências, e me vi obrigada a usar toda minha força argumentativa de final de noite para convencê-la a não insistir nesse sonho. Imaginei que já estava tudo na minha manga, que daqui a poucos minutos a teria para meu lado. Afinal, tão senso comum, não, ser contra as armas? Elas não ajudam o mundo a ser um lugar melhor, mais habitável - foi assim que comecei. E continuei falando que havia muito a se fazer, importante e difícil, cujo objetivo não era destruir vidas.

É fácil entender os motivos despretensiosos de uma mulher que viu o pai crescer fazendo mísseis e ogivas, a beleza da mecânica, a eficiência, um projeto sem erros. E o principal, ela vive em paz, tentei convencê-la de que, se vivesse em uma situação de violência, talvez ela não quisesse alimentar isso. Recentemente em uma bela universidade do interior, onde ao invés de tiros de balas cortando o silêncio das suas noites, o que ela ouve é violão ao vivo na praça, algum amigo tocando.
Porém, me surpreendi com o rumo que tomou a falação, "quando digo que quero fabricar armas eu não penso em ataque, mas em proteção. Sou uma patriota além de tudo, não penso primeiro nos problemas de fora".

Não adiantava eu falar que as armas não eram usadas só para proteção, que elas eram exportadas para todos os locais onde as guerras intermináveis acontecem. Inclusive voltam para o país no comércio ilegal e vão para a mão da bandidagem. Tentei continuar no argumento de que moralmente não era razoável contribuir com isso, mas se ela não o fizesse outros iriam fazer, nunca vai acabar. Ela é do tipo que não acredita em uma melhora gradual do mundo, nem eu, infelizmente. Tento, às vezes. Diferentemente do meu namorado, que estava do meu outro lado, ajudando Irma nos argumentos. Não por que concordasse com ela, mas para testar meus limites e idéias, justo.

Ele fala uma coisa legal, que é uma certa obrigatoriedade em melhorar. Que a humanidade tem que caminhar para um quando onde todo trabalho manual e degradante é feito por robôs. Como se fosse uma espécie de jogo corrido pela tecnologia e justiça. É bonito, e gostaria de compartilhar de alguma parte desse otimismo, mas como disse antes, só às vezes.

Conforme a conversa foi ganhando comprimento, e ela jogou o argumento de que as armas sempre serão construídas, ao invés de insistir no meu ponto de vista, ou achar outro que estava guardado em alguma dobra do cérebro, desisti de defender meu ponto de vista e me juntei ao coro que questionava meus valores. Por que parecia o mais certo a se fazer, não por que eu vi de antemão que não convenceria ninguém ali - o desfecho mais razoável.

(em voz alta) Falo essas coisas com propriedade como se eu fizesse alguma coisa contra as guerras. Como se jornalismo ajudasse alguém. No fim todas as profissões não alimentam o status quo - jogou o namorado - todos só querem enriquecer e viver bem aqui. Momentâneamente não tive forças para continuar. Me lembrei dos meus próprios problemas existenciais de carreira e escolhas de vida e me calei.

Cheguei a me arrepender depois, ou me sentir pateticamente redimida quando assisti, dias depois, a ficção Diamante de Sangue. A personagem de Jennifer Connelly, jornalista investigando a verdadeira origem dos diamantes que chegavam em Londres, confessou que o que escrevia poderia não ajudar os refugiados, mesmo que emocionasse alguém nos Estados Unidos. É por isso que precisava de fatos. Para que não ficasse apenas na narrativa, mas que tal reportagem tivesse uma consequencia mais profunda, podendo incriminar alguém, ou fazer a preocupação ir além da comoção das lágrimas. Mas que se transformassem em ações maiores, políticas.

O que mais gostei no filme foi a refutação do TIA (This is Africa), extenuamente repetido pelos africanos do filme, a desculpa eterna para os problemas e violências causado por conterrâneos: "Assim como não é toda garota americana que quer um diamante quando fica noiva, não é todo africano que não se importa com seu lugar". Era algo assim. Que nem todos queriam embarcar no crime e sobreviver a QUALQUER custo.


[Tistou les pouces verts]

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Gaza em chamas

Feliz ano novo.

Quem acha que a desgraça fica no Oriente Médio tem que se lembrar das enchentes de Minas Gerais, região metropolitana de BH (é aqui que eu amo). E de como prefeituras do Rio Grande do Norte deixaram centenas de produtos doados aos atingidos empoeirando em depósitos. É problema da nova administração.
O que mais é problema da nova administração?
Deveria ter um jeito deu deixar os meus para a Lia do ano que vem. Método velho, costumo deixar pepinos para a Lia do dia seguinte, e não necessariamente ela é uma versão melhorada. A mesma coisa o eu dos próximos 300 quase 400 dias. Só uma versão modorrenta, mau humorada de sono após a meia noite.
Canso rápido em festas. Quando estou em casa é pior ainda, pois me dou ao luxo de ceder aos meus apelos mais íntimos. "Deite naquele sofá. Você pode tirar as sandálias. Você está em casa, para que maquiagem?"

O que eu de agora posso fazer é um brinde, e desejar boa sorte à versão 2009, que ela venha com ânimo! E claro, paciência para descascar os abacaxis passados deixados de presente. Feliz administração nova!

domingo, 14 de dezembro de 2008

Aqui em Itaobim

Para quem não sabe, em dezembro estarei na cidade de Itaobim, em Minas Gerais. Era para eu ter escrito isso antes, já está quase no final da expedição(ficamos até quarta feira, hojeédomingo). Mas deixo aqui o endereço do blog do projeto.
Espero que ao fim desse mêsele esteja cheio de coisas!

Até aqui a experiência tem sido peculiar. Vi coisas que nunca vi, e no começo estava impossível, extremamente cansativo. Desde ontem eu não sei se peguei o ritmo ou se ficou mais tranquilo, estou até conseguindo me divertir. Pode ser uma fase que dure até meia noite, e amanhã a correria ensandecida volte.

Mais experiências depois, quero colocar muitas fotos, pois elas resumirão muitos dos meus pensamentos.
Só posso adiantar que algumas particulariudades da cidade tem me encantado. E deixo aqui uma postagem minha no blog:

Visita domiciliar, bairro São Cristovão

A primeira foi Maria, 83. O ônibus parou e fomos encaminhados até um boteco - na versão mais real que a palavra pode expressar. Um homem com olhar perdido estava sentado olhando para fora e não se abalou quase nada com a chegada de nove uniformemente encamisados. Passamos pelo balcão e entramos à direita, logo no próximo cômodo estava a primeira paciente do dia: dona Maria, em seu leito de definho.

A visão daquela figura pequenina com os braços e pernas mais finos do mundo chocaram-me, mais do que a fisioterapeuta Lílian, acredito. Ela, o que chamamos de discutidora de casos (graduados) acompanhava o grupo, e as outras sete pessoas fora eu eram todas macacas velhas no atender pacientes nas suas áreas e pretensões. A cito, pois foi a que primeiro interagiu com Maria, demonstrando muita liberdade e doçura, tratando-a como se fosse uma rainha.

A velhinha dos cabelos brancos e pontas vermelhas rapidinho se soltou, e até ria das bobeiras ditas. Não só ela, o grupo inteiro respirou aliviado com o quebra-gelo, e cada um pôde interagir com ela da melhor forma possível. Algo que me chamou a atenção na hora foi o mutismo dos alunos frente aquela figura esquálida. Nós fazemos a bandeira inteira, realizamos triagem, atendimentos, coletamos sangue... Mas naquele momento falou a experiência de uma que há muito pouco deixara de ser aluna. Mais tarde me contaria ter paixão por atender idosos, então naquela hora estava fazendo algo que lhe dava prazer, o que explica tudo.

A sua cuidadora, Carmen, não era parente. 49 anos, gentil e simples, nos repetia que a velhinha não dava por que não dava trabalho, que comia bem igual todos da casa, as mesmas coisas. E que aquele quarto era por que ela queria estar ali. Após os exames, tanto do residente Filipe (clínica geral) e das fisios, ficou claro que a mocinha não estava tão ruim assim. Por mais que não conseguisse esticar as pernas bem e elas doessem, e seu sentar era tão corcunda que a deixava com o tronco desproporcionalmente pequeno; tinha solução. Lilian diagnosticou síndrome do imobilismo.

Três ou quatro anos antes, quando ela quebrou a bacia, começou a ficar cada vez mais na cama e, sem motivos físicos, parou de andar. Passava o dia inteiro lá, só saía para ir ao banheiro (carregada por Carmen ou seu marido, devia pesar no máximo 40 kg como uma criancinha enrugada). Acho que demais problemas decorrentes da condição de parada dela não cabem aqui. Uma senhora que ficou encamada de bobeira, triste e curioso. As meninas ensinaram alguns alongamentos, orientaram alimentação e limpeza da prótese (chapa, a popular dentadura) e seguimos.

Os próximos do dia foram uma senhora de idade muito avançada e um senhor encamado. Ana nasceu em 1913, e fez questão de mostrar para todos a certidão de nascimento – plastificada. O problema dela era bem simples, mas aproveitando a visita a fisio e a nutri também fizeram recomendações. Todos se divertiram com ela pois, quase cem anos, ficava brincando de jogar as pernas pro ar quando deitada na cama, quase alcançando a cabeça.

Enquanto isso, do lado de fora de sua minúscula casa – quase da zona rural, fogão a lenha, sem geladeira e esgoto da pia que dava para a hortinha no quintal, não achei o banheiro -, Priscilla da odonto conversava com duas meninhas vizinhas que tinham chegado da escola. Por costume, a aluna pediu para ver a boca delas, e mesmo com alguns dentes de leite, uma delas tinha perdido um molar – último dente da boca das crianças. “Banguela com oito anos”, repetia Priscilla, inconformada e didática. Ensinou-as a escovar os dentes com uma dentadura falsa enorme.

O último encamado foi deliberadamente o caso mais complicado. O homem era novo, caíra do cavalo anos atrás e quebrou o fêmur. Por falta de informação, não fez fisioterapia e cicatrizou errado. Suas pernas estavam deformadas, e não seria possível recuperar com fisioterapia, como com Maria. Quando o vi achei que tratava de um caso parecido de distrofia muscular por estar parado. Pela ausência de um procedimento muito simples esse homem não podia nem sentar mais. A única coisa que podia fazer naquele quarto era ouvir rádio (não que se tivesse uma TV sua vida seria melhor).

Mas o que mais incomodou todos era o fato de viver sozinho. Sua irmã cuidava dele, mas trabalhava a maior parte do dia. Ele passava os dias sozinhos naquela casa, não conhecia nem o quintal nem a cozinha – com geladeira! - nem a sala. Pela sua condição, foi fácil entender por que não fazia questão de se alimentar mesmo com comida disponível. Seu quarto cheirava mal, pois tinha de se virar sozinho em vários aspectos. Porém, seu abandono não era o pior concretizado naquele lugar: no quintal havia vários focos de dengue, pondo em risco ele e seus vizinhos.

Priscilla foi atendê-lo mesmo achando que as outras especialidades já tinham sido bem claras no diagnóstico. Mas se surpreendeu. Além de ter uma doença na gengiva por falta de limpeza, estava com guna. Me explicou que é quando um dente apodrece, e forma uma bola de pus na gengiva, para expulsar o corpo morto. A falta de cuidado era tanta que o dente chegou a ser expelido, ou seja, explodiu a bola de pus na boca dele. Ela disse que o deve ter sentido dores terríveis. Outro aspecto da guna é a baixíssima imunidade do paciente, mas ela não achou que se tratava de um aidético.

Dos pacientes da VD, apenas o último caso era cuidado por parente – a irmã. Os outros dois recebiam auxílio dos vizinhos. Isso dificilmente aconteceria em uma cidade maior, em bairros fora da periferia e favelas. Quem recebeu orientação para os cuidados com Ana – a de quase cem anos - foi sua vizinha, Geni, de meia idade.

Quanto à risonha dona Maria, Carmem que vai fazer os exercícios de fisioterapia junto. Mas foi o marido dela quem convidou a senhora para se juntar a eles, dez anos atrás – e antes dela quebrar a bacia. Carmem contou meio cantando brincando o quanto ela era travessa antes. Tinha aparecido no bairro trazendo pela mão um ceguinho, e pedia esmola com ele nas portas. Depois, recebeu convite de uma vizinha para ajudar a arrumar a casa, e abandonou o ceguinho pra ficar com outro. Esse último foi o que faleceu quando ela se juntou aos atuais cuidadores no boteco.

[Lia C S]

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ato abstrato em algum pontinho colorido

Último feriado de novembro, volta. A ressaca é menor que o stress que deixamos na cidade. Não adianta, é só voltar para São Paulo que todo espírito de festa e descanso vai embora. O cinzento e o clima de chuva nos obriga insistentemente a não tirar da cabeça o que deixamos de fazer antes de ir embora - em uma vã felicidade de largar tudo. Falsa.

O dia da volta foi domingo, tinha viajado 4h direto na mesma posição no carro lotado. Minha aparência de quem dormiu 3 dias em barraca e tomou banho como pôde não era das melhores. E a toca de lã preta que enfiei na minha cabeça não era a mais bela já vista em cabeça de menina mas estava lá, e estava quente, e eu não iria tirá-la.

Essa era a imagem que eu tinha de mim naquela hora, honesta para as condições que enfrentei. Mas nunca saberei o que aquela mulher viu em mim. Nossa relação foi quase instantânea, quase longa demais, e quase tive saudades. Era uma dessas mulheres de metrô, que você nunca saca. Eu não faço a mínima idéia sobre as pessoas em metrôs em ônibus sim, mas quando elas estão nos trens subterrâneos se tornam um mistério.

[Talvez estações sejam mais distantes e abstratos que pontos nas ruas. A maioria das estações que não páro são pontinhos coloridos e a imagem das palavras de seu nome em minha cabeça. Os pontos tem cheiro, movimento e tudo que já está nas ruas. Ele faz parte do contexto, mais que as estações, que parecem mais enfiadas em qualquer lugar que estejam.]

Essa mulher entrou no trem em que eu estava, e escolheu dentre os locais vagos, um perto de mim. Eu não ía saber que era japonesa e que tinha sotaque se ela não tivesse puxado assunto me oferecendo uma rodela de pão com alho e óleo. Achei esquisito. Virei e encalhei seus olhos para me certificar de que realmente tinha alguém no metrô me oferecendo comida. Quando a mirei vi de relance que ela tinha acabado de enfiar um naco na boca, e me senti segura para encarar aquilo.

Eu não tinha fome, nem sou a maior fã de pão com alho e óleo. Mas o que eu queria experimentar era a gentileza. Testar aquela situação. Assim, mandei goela abaixo o desespero de confiar em outro ser humano que eu nunca vi. Talvez não tenha nada de estranho nisso. Mas para mim foi uma prova, e seja lá o que ela achou de mim, me senti satisfeita por mostrar a ela que confiava nela. Comi o pão, conversei gentilmente e quis que ela ficasse feliz de ter tido um feedback.

Não quis acompanhá-la no almoço, ía ser mais do que eu podia aguentar ela me pagar um rolinho primavera ou algo que o valha. Já estava bom demais ter saído na mesma estação e subido, juntas, as escadas para fora.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

novembro roxo extremidades azuis

alguma coisa deve ter mudado na água
ou uma coisa nova no ar
quando as pessoas dão para sonhar em massa.
passa-se o ano inteiro no marasmo de acordar limpinho sem nenhuma recordação das vivências do duplo
e de repente, em algumas épocas tipo novembro
[mês mágico de quase fim de ano, de correria, de desespero, de respirar antes da rajada violenta de vento na cara. se fosse eleger uma cor, seria roxo azulando em extremidades esse mês
o povo se põe a sonhar
é a fertilidade da noite que muda. como se o ano quisesse tirar o atraso de um abril, ou um agosto, monótonos.
e só faltava mesmo a minha persiana temperamental começar a se correlacionar com o contador de lembranças falsas. acontece que nesse mês ela não quer abrir, quer que o quarto fique escuro. me empurra para a cama, me faz refém dia inteiro da vontade de ficar lá e alimentá-la. como se eu não tivesse nada mais o que fazer fora cuidar dos caprichos de um parador de sol que se acha importante

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama

Muito bonita a festa americana, as lágrimas nos olhos, as bandeirinhas. É importante um jornal mostrar isso. Mas a cena mais dispensável que vi até agora, foi transmitida pela rede Globo agora a pouco, enquanto esperava ser atendida em uma clínica
"E agora, vamos ver como o mundo reagiu à eleição de Obama"
[Uma cena com negros dançando pulantes]
"Festa, dança e celebração no Kenia, vila natal do pai de Obama".
Estava uma verdadeira festa, com o perdão da palavra da jornalista. Mas foi uma cena tragicômica. Duvido que essa tribo vá mudar radicalmente com a eleição do democrata.
Eu não me lembro de ter lido ou sido noticiada sobre qualquer pauta do novo governo para a África. Não procurei também, mas é fato que o continente esquecido não vai receber muita ajuda se a crise americana continuar nos moldes atuais. E mesmo se estivesse bem, não basta a boa vontade de um homem, todas as esferas realmente poderosas estão cagando e andando para as tribos da vida.
Enfim, essa cena ilustra bem o desespero mundial. Essa esperança é comovente.