domingo, 25 de outubro de 2009

Como conscientizar roomates

O sr. K. preferia a cidade B à cidade A. "Na cidade A", disse ele, "as pessoas gostam de mim; mas na cidade B foram amáveis comigo. Na cidade A colocaram-se à minha disposição; mas na cidade B necessitaram de mim. Na cidade A me convidaram à mesa, mas na cidade B me convidaram à cozinha".

Histórias do sr. Keuner,

Bertolt Brecht


Eu não quero que você só frequente essa casa. pra você se sentir mesmo em casa, você tem que ajudar a construir. Então você pode limpar a geladeira, por exemplo. vamos dividir as tarefas! vou compartilhar com você essa experiência maravilhosa de se sentir parte de um lugar. você tem tanto direito quanto eu. Um brinde!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O falso madrugador

Todo dia é igual.
Acorda às 5h30 sem chance de reclamar. Engole o pão com manteiga de mal humor, e se arrepende de ter se deitado tarde. Mas é sempre assim, é impossível ir pra cama cedo. As tarefas urgem, se não abrir os livros a fúria da necessidade os consumirá sozinho. Sem chance.
Nessa luta quem sai perdendo é o sonho, a vitalidade e a juventude.
Às seis da manhã, com o café já engolido, volta ao quarto para pegar o que falta e se mandar de casa. Senta na cama, aquela que ele a princípio despreza e luta para se afastar. Mas ela envolve tão quente com a sua maciez, e ele resolve ceder, voltar arrependido ao lugar que nunca gostaria de ter deixado
[algum lugar dentro da sua mente, no mundo dos sonhos.
E com a luz acesa, meia roupa vestida, mochila na mão, dorme como um menino. Não levanta antes que o sol esteja totalmente vertical.
Essa noite será a mesma coisa, e em algum momento ele amaldiçoará a sina de ter que acordar cedo, de novo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Poema fundador

Entra ano, sai ano e continuo ligada ao centro acadêmico da eca, o calc. Estamos - eu mais nove ou dez colegas amigos - encerrando a gestão elefante, cujo manifesto inicial eu colei neste blog. Estou participando de uma nova formação de chapa, que tem vários elefantes, mas há várias novidades esse ano.

A principal delas é que estamos competindo! desde 2004 não tinha mais de uma chapa concorrendo. Por enquanto o debate foi tranquilo, mas todos da chapa já perceberam as nossas diferenças. Mesmo que, no começo, achava que as chapas deveriam se unir. Eis nosso poema fundados, trazido pela colega cênicas Lira. Divirtam-se!

Canção do não tempo de lua

(Mário Lago)



Amada não me censure, se sou de pouco falar

Nem se esse pouco que falo não faz você suspirar

É tempo de vida feia, de se morrer ou matar

De sonho cortado ao meio, de voz sem poder gritar

De pão que pra nós não chega, de noite sem se acabar

Por isso não me censure, se sou de pouco falar


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A lua é bonito? É

A rosa é bonito? É


Mas criança chega a homem se a bomba quiser

A mulher só tem seu homem se a bomba quiser

Homem sonha e faz seu sonho se a bomba quiser

Não é tempo de ver lua nem tirar rosa do pé

Amada minha não chore se nunca falo de amor

Nem se meu beijo é salgado, que é beijo chorado em dor

É tempo de vida triste, de olhar o seu com pavor

De mão pro último gesto, de olhar pra última flor

De verde que era esperança trazer desgraça na cor

Por isso amada não chore se nunca falo de amor


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A Lua é bonito? É

A rosa é bonito? É


Mas criança chega a homem se a bomba quiser

A mulher só tem seu homem se a bomba quiser

Homem sonha e faz seu sonho se a bomba quiser

Não é tempo de ver lua nem tirar rosa do pé



Amada não vá embora se eu trouxe desilusão

Se aumento sua tristeza, tão triste a minha canção

É tempo de fazer tempo, de pegar tempo na mão

De gente vindo no tempo em passeata ou procissão

No mesmo passo de sonho pra bomba dizendo "não!"

Amada não vá embora, mudou a minha canção!


Pois criança vai ser homem porque a gente quer

A mulher vai ter seu homem porque a gente quer

Homem vai fazer seu sonho porque a gente quer


Criança é bonito? É

Mulher é bonito? É

A lua é bonito? É

A rosa é bonito? É

Vai ser tempo de ver lua e tirar rosa do pé

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Café da manhã com o presidente

Empresa. Alguns funcionários tiveram a idéia de fazer um café da manhã coletivo e socializador. Afinal, no dia a dia a redação quase nunca entra em contato com o comercial, e vice versa.
Agora de manhã, estavam todas as hierarquias reunidas, comendo. E entre mastigações, aparecia uma frase aqui, outra ali, mas nenhum assunto integrava.
Olhares explorados miravam desconfiados, e devoravam pedaços de bolos, pães recehados, croissants, doces. A mesa farta era cenário da peça.
No que estavam todos unidos e ritmados, era na digestão do silêncio.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

futuro

nos matar de trabalhar agora para descansar depois.

esse descansar seria na verdade ocupar uma posição desejável e confortável, ter sucesso. O que não significa, absolutamente, descansar mesmo.

Companheira, isso é conversa fiada. Nos mataremos agora, e nos mataremos depois. Se é essa a escolha que fazemos agora.

Sempre permitiremos, sempre seremos insatisfeitos.

Não acho que é tão fácil a opção de não prestar atenção no mercado... É só que deve ter um outro modo de encararmos as coisas. Sabe, dar uma roubada no jogo.

Eu trabalho ok, mas... eu não me mato, eu tento fazer o que eu quero também. dedicar tempo ao que me faz feliz.
Dá pra roubar assim?

Nunca teremos uma vida completa se só nos entregarmos... Mas existe felicidade na resistência? Relutar sempre faz a vida de alguém ter mais sentido?

Alguém mais respira apressadamente com a mente em turbilhão, tentando achar razões para toda a nossa complexidade?
Quando faço isso tento afastar o sentimento de resolução de problemas, imaginando que não é mais pensamento que me ajudará a organizar minhas razões.

pensamento confuso de trajetod e ônibus.
Aliás, o ônibus. Isso é outro tópico... Boa noite

domingo, 5 de julho de 2009

Rom rom

Andavam de carro como muitas vezes faziam. Quando chegaram na altura da Rebouças com as Clínicas, o que dirige comenta do ato de banalizar aquele momento. Quando crianças, dirigir era tudo que a gente queria, e agora, andamos sem prazer nenhum. Imagine um brinquedo desse tamanho! O companheiro riu e concordou.
Quantos não sonharam em ter um buggy, ou o tiveram?
Lembro que uma vez, aos oito anos, discuti com alguns amigos da classe sobre as vantagens e desvantagens de ser adulto. Eu e uma amiga defendíamos que o melhor seria ser sempre criança, não queríamos crescer.

[E mesmo que não fizesse diferença, tentamos torcer para que isso não acontecesse, ou outra coisa supersticiosa]

Um amigo, no entanto, queria crescer, e um dos argumentos que ele usou foi que queria dirigir. Na hora falei que deveras seria bom dirigir, que valia a pena ser adulto para fazê-lo. Hoje acredito que nem naquela hora me convenci.
Voltando ao cruzamento da Rebouças com as Clínicas. O motorista acelera, Iupiiiiii!. A carona acompanha na empolgação, e os dois gritam tentando buscar o prazer que uma criança sentiria nisso. Os gritos acabam perto da Brasil.
A responsabilidade quando se adquire um automóvel pesa tanto que hoje em dia não faz diferença, defendeu a carona, buscando a solução mais próxima para o constrangimento que foi se esquecer como se diverte uma criança.

Eu nem vi quando foi a transição... era pequeno, pagava pau pro buggy do meu amigo, um quadriciclo na verdade. Daí, em equitação pensava como era bom cavalgar, ser impulsionado como nas costas do meu pai. Constantemente sonhava com meu poder de voar, batia os braços de levinho pra impulsionar e alcançava os maiores andares do meu prédio, era fantástico se mover.

Porém nunca associei essas sensações ao andar de carro com os pais, era mais como um quarto parado. Talvez por estar sempre no banco de trás, não sentia como se o carro fosse extensão do meu corpo.

O tempo voa mais que eu-no-sonho e quando lembrei de cavalos, já estava com o ronco da motobike entre as pernas, tinha 18 anos. E sim, foi muito divertido no começo, cada ladeira que pegava era um sorriso e arrepios. Daí fui pra São Paulo aos 20, e tive de pagar a gasolina, mostrar documento pro guarda, andar na chuva, derrapar na chuva, estacionar na chuva. Aos poucos foi ficando mais fatigante se deslocar dirigindo, com toda responsabilidade implicada. Vou à aula de metrô.


Por Lia e Rael]

domingo, 28 de junho de 2009

visita

Sozinha, na labuta, música de teclas
[o silêncio falso recheado de dedos batendo volumosamente]
E espia da janela os anos velhos, com um olhar cheio de lágrimas de saudades
com o rosto enorme ele assopra bafo que me pega desprevenida
e o cheiro é antigo mas é bom. não mofo, juventude.
a brisa dos outros anos me alcança, penso em esquecer a labuta e o desprazer
me entregar ao frívolo mais importante, que era o da não-preocupação e descanso.
o shorts-e-chinelo em tarde de sol, conversas despretensiosas e cheias de esperança quando o assunto era futuro. Eram só possibilidades, e tudo dependia da gente, da nossa força e vontade.
Agora, por mais que eu tenha vontade tudo parece que o mundo empaca. Não depende mais só de nós. Depende do resto do mundo, e esse é que é o problema que nos impede de voar rápido e longe.
[Voltando à cena]
ignoro os velhos anos, o vejo com o canto dos olhos mas não viro meu rosto para o mirar.
a brisa que me alcança docemente é tempestade disfarçada
sei que se me virar e mirar
[ainda que não o faça]
aqueles olhos melancólicos dos outros anos
eles estarão cheios de ventos furiosos

desejo me entregar à tempestade disfarçada de brisa mas
daqui a algum tempo quem me virá incomodar na janela será a música feita por teclas
e não me esquecendo disso é que continuo exatamente onde comecei