sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Azur et Asmar



Duas crianças criadas juntas por uma babá: Asmar é filho da serva tunisiana, Azur é filho do senhor do castelo, mas até uma certa idade passa todas as horas do dia em companhia da babá e do irmão (são uma família), inclusive dorme lado-a-lado com este. Mas como herdeiro do nobre, Azur logo é arrancado dos cuidados da estrangeira, e começa a dividir seu tempo, forçosamente, entre aulas de dança, equitação e literatura, até ser levado definitivamente para ser educado na cidade.
Já a serva e seu filho são expulsos do castelo, entregues à própria sorte naquele continente estranho.

Os anos se passam, mas o jovem Azur não consegue esquecer as histórias contadas por sua mãe, e convence seu pai a financiá-lo em uma viagem até o outro lado do mar onde, segundo as histórias da mãe tunisiana, morava aprisionada a "Fada dos dihns". O belo rapaz considera-se preparado para a jornada, mas por uma fatalidade do destino, torna-se náufrago após cair do barco durante uma tempestade. Acorda em uma praia feia e tenta estabelecer algum tipo de contato com os moradores que falam a mesma língua da sua mãe; mas nem um grupo de mutilados nem uma família pobre suportam sua presença, todos fogem, temerosos, provavelmente alguma fobia relacionada a seus olhos azuis, como consegue captar. Por isso finge que é cego, e até aceita ajuda de um mendigo (Abul) que quer fazer parceria com ele, "você pode me carregar, e eu vejo por você".



Depois de tropeçarem em várias barracas de vendas na cidade, devido à estranha anatomia de dois homens como um, chegam por acaso em frente a casa da comerciante mais rica da cidade. O garoto fica atônito e sai correndo, depois que pede para Abu descer, É ela! Tenho certeza que é a minha mãe! Ouvi a voz dela!
Você está louco? É a mulher mais poderosa da cidade depois da princesa, não faça escândalo!
Mas ele o faz, e consegue que tragam sua ex-babá até sua presença. Ela se faz de difícil, mas logo lembra do seu filho que tinha ficado do outro lado do mar e, como filho, é recebido com todas as honrarias que lhe são de direito. Todas as comidas, bebidas e sons daquele pedaço de mundo - como não poderia deixar de ser.
A conversa avança e Azur fica sabendo que seu irmão também sairá em breve para tentar libertar a Fada que há tanto conheciam. O irmão, Asmar, até chega a dar as caras, mas não o perdoou pelo abandono. A mãe, no entanto, põe em ordem: Vocês só serão rivais quando no último percurso até a Fada (uma caverna). Até lá terão muitos inimigos em comum, e será melhor se ajudarem.

É o que eles fazem. Mesmo começando a viagem carrancudos, eles se salvam assim que o outro cái em alguma emboscada, de modo que chegam juntos até a Fada.
O final é esperado apesar de detalhes que fazem toda a diferença. E não estou falando apenas de cenas lindas de morrer (ou quase morrer se você dá valor à vida), em castelos, pássaros, um leão escarlate e cada detalhe desenhado por Michel Ocelot. A trama inteira é construída de modo a destruir preconceitos conhecidos, como o menino ariano que se volta ao oriente muçulmano e negro, valorizando seus encantos, apesar do seu pai ser terminantemente contra. Há cenas essenciais como numa ida noturna à cidade, quando a princesa mostra a Azur, entre outras construções, "ali é a mesquita, aquela outra é a igreja e mais para trás a sinagoga". Três religiões coexistindo pacificamente, um recado descarado, mas é preciso se lembrar de que se trata de um filme infantil. O mesmo quando nosso herói vai se aconselhar com um sábio local, que misteriosamente sabe sua língua européia, "eu já fui de lá, mas me expulsaram", "por que?", "minha religião era diferente", "mas aqui também é", "mas aqui eles não ligam" - o sábio é um judeu, claro.
Como já disse o final peca em alguns aspectos, mas é impagável estar no cinema apenas com uma excursão de escola, e ao invés de ficar com vergonha, rir ao ouvir as crianças batendo palmas tão alegremente, assistindo uma bela cena de um mendigo dançando com uma senhora rica.

Um comentário:

Pedro Sibahi disse...

Bom! Vc tinha me contado a história! Eu achei muito bonita! E com recados bem pertinentes ao nosso planetinha! ;)
Sem contar que é da terrinha! hehe