sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Desertos e espaços vazios

Não esperei muito tempo. Mas nem me importaria se tivesse que esperar mais. Aquela lanchonete decadente era um refúgio no meio daquela cidade apertada, como se seus croissants secos e seu café forte demais – de dar dor de cabeça – fossem enormes montes que poderiam me abrigar. Mas não importa se tinham cavernas ou mato alto, o que importa é aquela moça que entrou apenas dez minutos depois, aquela pela qual esperava, deixando a cama e a depressão num domingo de manhã (me enganava. Não a tinha deixado em nenhum outro lugar do mundo, mas só fui perceber tarde demais).
A protagonista entrou e nem bem tinha se acomodado já começou a falar e responder todas as minhas perguntas num frenesi não-vamos-perder-tempo-nós-duas-sabemos-porque-estamos-aqui. Ok, não foi bem assim, mas foi como gravei, pulando toda a baboseira sobre a mancha roxa embaixo do olho direito, porque é exatamente assim que eu queria que tivesse sido, nem que seja pra ficar mais fácil a tradução.
Se ela andava feliz? Não, não. Como sempre. Porque ele então, de novo – logo perguntei. De novo não - me respondeu muito séria -, pela primeira vez. Nunca o teve como tinha agora, nenhum outro, aliás, acrescentou. O que tem de diferente agora? Seria idiota falar que é sinceridade, mas a base é algo assim (ela sempre foi cheia de teorizar as coisas. Achei engraçado ver como continuava igualzinha). Porque você não está feliz? Essa é a questão, começa daí: paramos de fingir que éramos algo, entende? Que éramos suficientes e ríamos com nossos amigos, abraçávamos nossa família, líamos bons livros. Nós nos reconhecemos, foi isso. Reconheceram-se como vermes que se mereciam – tentando a fazer rir -? Eu vi a minha solidão nele, Lia.
E como sou eu que conto a história, ao dizer isso ela me deu um beijo sem emoção e andou e atravessou a porta de vidro e cobre envelhecendo. E foi, e eu a mirei até desaparecer na parede de vidro da lanchonete decadente que fazia de seus fregueses manequins de uma forma não muito inteligente ao servir aqueles croissants duros. Seria melhor se fosse fosco até a altura dos que sentavam mais perto da janela. Se assim, eu teria visto apenas metade dela desaparecer de perfil, com toda aquela solidão encontrada.
Era a mulher mais feliz do universo.

6 comentários:

ilana disse...

ô lia
nossa,
ganhei uma emoção

brigada com ela

um beijo!

Anônimo disse...

lugares abstratos são os melhores pra se pensar. 'ficaadica'

Tefo disse...

o velho, velho, truque de contar a historia como se fosse com outra pessoa!

"um meu amigo meu uma vez..."

Anônimo disse...

hey ste! do que tá falando? =P

Tefo disse...

dos croissants duros, você tinha me contado que teve que comer essa caca... hahahahhahaha!

Lia Lupilo disse...

=P