quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Errado

Em aula de linguagem, proposta de análise de discursos, tocaram no ponto das publicidades. A professora lembrou de uma delas, que foi feita para a TV: Johnson & Johnson, cabelos cacheados, musiquinha que fica na cabeça. Segundo a mestra, os que têm cabelos assim se sentiam bem de ver aquela propaganda, afinal não é raro as propagandas de produtos para cabelos lisos afirmarem sua superior qualidade rechaçando características (?) dos outros tipos de cabelo; é preciso "domar", "disciplinar" e por aí vai.

Nesse momento, lembrei de um inimigo que tive nos tempos de escola. Ele estava deitado em uma passagem estreita, e eu queria passar por ali, pedi licença. Em resposta, atacou "ahh, vai ô do...cabelo rebelde!".

"Rebelde são suas pernas", respondi sem pensar. Ou melhor, pensei tempo suficiente para que meus olhos baixassem até suas pernas. Ele estava de shorts, e as cicatrizes de queimadura enrugantes - famosas na escola - estavam à mostra.

Ele ficou em silêncio, eu também. Ele me deixou passar, mas não foi aliviante cruzar a portinhola da glória babaca dos infames. Mais tarde minhas amigas me repreenderiam dizendo que era sacanagem. Nenhuma delas achou a defesa justa, por algum motivo, estava sedimentado na cabeça delas que ele tinha razão. Que as publicidades tinham, e elas estavam lá em maior ou menor nível de consciência - opto pela segunda.

Nesse dia me achei forte. É claro que força tem algo de cruel, mas gostei da minha ingenuidade de não saber porque é que seriam rebeldes meus cabelos. Não entendi essa palavra, rebeldes. Como se fosse algo errado.



No fim as coisas deram mais ou menos certo: acabei gostando do meu cabelo e, de mim, o tal das pernas.

2 comentários:

Unknown disse...

wow, very creative!!
I always knew you had a cruel little bastard inside, lol
=* rebel

Lia Lupilo disse...

x-