Em aula de linguagem, proposta de análise de discursos, tocaram no ponto das publicidades. A professora lembrou de uma delas, que foi feita para a TV: Johnson & Johnson, cabelos cacheados, musiquinha que fica na cabeça. Segundo a mestra, os que têm cabelos assim se sentiam bem de ver aquela propaganda, afinal não é raro as propagandas de produtos para cabelos lisos afirmarem sua superior qualidade rechaçando características (?) dos outros tipos de cabelo; é preciso "domar", "disciplinar" e por aí vai.
Nesse momento, lembrei de um inimigo que tive nos tempos de escola. Ele estava deitado em uma passagem estreita, e eu queria passar por ali, pedi licença. Em resposta, atacou "ahh, vai ô do...cabelo rebelde!".
"Rebelde são suas pernas", respondi sem pensar. Ou melhor, pensei tempo suficiente para que meus olhos baixassem até suas pernas. Ele estava de shorts, e as cicatrizes de queimadura enrugantes - famosas na escola - estavam à mostra.
Ele ficou em silêncio, eu também. Ele me deixou passar, mas não foi aliviante cruzar a portinhola da glória babaca dos infames. Mais tarde minhas amigas me repreenderiam dizendo que era sacanagem. Nenhuma delas achou a defesa justa, por algum motivo, estava sedimentado na cabeça delas que ele tinha razão. Que as publicidades tinham, e elas estavam lá em maior ou menor nível de consciência - opto pela segunda.
Nesse dia me achei forte. É claro que força tem algo de cruel, mas gostei da minha ingenuidade de não saber porque é que seriam rebeldes meus cabelos. Não entendi essa palavra, rebeldes. Como se fosse algo errado.
No fim as coisas deram mais ou menos certo: acabei gostando do meu cabelo e, de mim, o tal das pernas.
Há 14 anos
2 comentários:
wow, very creative!!
I always knew you had a cruel little bastard inside, lol
=* rebel
x-
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