domingo, 20 de maio de 2007

Intertextualidade: o nome, a bruxa e o príncipe

Quando nomeamos algo, estamos fazendo essa coisa desaparecer.
Imagine um objeto inteiramente novo, que apareceu em sua sala de estar. Veio de outro mundo, não existem pressupostos ou subentendidos.
Toda vvez que você adentra o local, o objeto x te encara, faz pensar. Se não sempre, muitas das vezes você se encontrará perplexo para descobrir uma possível função.
Vá lá, a função do nosso objeto é a de coçador de cabeça. Pronto. Você o chama de coçador, ou coça-cabeça, coça-coça...o importante é que x deixou de ser estranho, ele agora faz parte da sala, da decoração, do resto.
X desapareceu, coça-cabeças ficou.

Imagino que a técnica de Yubaba para escravizar seus criados tenha alguma relação. Para quem não lembra, Yubaba é a chefe-toda-poderosa da casa de banhos dos deuses no filme A viagem de Chihiro.
A técnica é revelada na cena em que a portagonista acerta o contrato: em uma folha de papel, a pequena Chihiro luta para completar seu nome enquanto a mal-educada senhora puxa o documento. Ao tê-lo em uma das mãos, com a outra desgruda parte dos ideogramas que formam o nome da menina, que vão dançando flutuantemente para cima, sumindo logo entre as dobras da enrugada mão direita da bruxa. Chihiro deixa de ser Chihiro -agora é Sen.
Seu nome pertence à comercial, e de tanto não usá-lo mais, ela quase o esquece, e "é assim que ela os controla" -avisa o belo Haku, que será peça importante no desenrolar da história.
Yubaba nomeia seus empregados. Controla a verdadeira essência deles.
Nunca achei que nomes traduzissem alguém ou algo, mas sim que eram mais tentativas do que revelações. Como o coça-cabeças: uma convenção.
Essa convenção, porém, é o que nos descreve mais puramente, não somos nosso nome, um símbolo, mas ele nos é em parte.
E o som é mais importante que o significado. Cássia significa pobre? O que isso importa se, quando escuto esse nome me vem um rosto com uma voz melodiosamente grave na cabeça?






*
O príncipe Harry não vai ser enviado ao Iraque.
Parece que grupos armados daquele país já se pronunciaram, estavam até planejando uma recepção, com mulatas de biquinis brilhantes e penas nos cabelos, e muita música.
[Intertextualidade: O que Harry tem além do nome?]
Alguém mais acha a idéia de príncipe hilária? O mundo não é mesmo um lugar sério...
*
Cogumelos são soldadinhos
Corpos pequenos
Capacetes gigantes.
Eu os como, todos, e de uma só vez.
[Intertextualidade: será que eu gostaria que o mundo fosse um lugar sério? ou eu quero mesmo é escrever sobre cogumelos?]

9 comentários:

Anônimo disse...

Lembrei de um exemplo q me falaram sobre dar nome aos objetos estranhos(agor anao lembro se foi qunado eu vi sua aula ou aqui em campinas). Parece q quando os indios estavam na praia quando as caravelas dos portugues chegaram, eles nao o viram. Nenhum deles sabiam o q era um barco, logo nao conseguiram distinguir.
Ler sua nota sobre intertextualidade me deu mais vontade de ver Chiriro, vou pegar emprestado de vc.

vou ficar por aqui.
mas antes preciso dizer que gostaria de ser um principe, um pequeno principe, pois principe pequeno já não posso ser.

beijo
saudade

Lia Lupilo disse...

=]
shinji,
talvez vc tenha visto comigo, tem tudo a ver com a aula
te empresto a chihiro
e fica por aí, não tem jeito!

e relaxa que vc pode ser um príncipe pequeno ainda!
então vc não concorda comigo que a idéia é hilária...x-

saudades tb!

Pedro Sibahi disse...

Caramba! vai ter concorrência pelos filmes da Lia! hahaha
Nomear pra mim é mais fechar o objeto, paralisar ele... ele pode ser todo um mundo.. ai vc da um nome, associa à alguma atividade.. pronto.. é akilo... mesmo q seja pra outra coisa.. qnd vc ver algo q pareçe um coçador vc jah pensa.. "coçador".. ai tem que vir alguém te explicar que aquilo q pareçe um coçador pode ser usado pra bater ovos! (?)
o mundo é um lugar estranho
as pessoas normais são bizarras
viver é um estado ininteligível..
aiaiai

sabe oq eu descobri: q eu sou mesmo um soldado.
minhas armas são as palavras.
huhu!
será q eu sou tbm um cogumelo?

Murilo disse...

prazer meu nome é Murilo. Muras pra você. Acho que vem de muro, pequeno muro.

Escreva sim sobre comgumelos e suas cabeças grandes. Prefiro eu escrever sobre as pessoas que mascam chiclete de boca aberta do que impor ao mundo que ele erra mais que eu... humano.

Beijo Lia, quando sair sua aposentadoria, e as coisas ficarem menos agitadas, vem me fazer uma visita.

Lia Lupilo disse...

pedroka, para mim e ti, é melhor que vc não seja um cogumelo (por Ds! será que vou precisar passar a censurar os comentários?)

muras, prazer =]
espero que você não esteja dizendo para eu aparecer só daqui a muito tempo de uma forma bem sutil^^
vou te visitar de qualquer jeito, vai dar tudo certo.

beijos para todos!

Anônimo disse...

Lendo sua resposta l me lembrei de onde tirei esse exemplo do barco. Foi da oficina de filosofia.
O exemplo foi tirado do próprio Saussure na aula do Ciro.. pois bem, depois q ele utilizou-se do exemplo, ele nos questionou que poderíamos desenhar uma cadeira, não partindo da própria cadeira, mas desenhando tudo aquilo que estava envolta. Legal, não?
(foi nesse dia q ele explicou: consumo=linguagem).
o q eu quero dizer é: o nome em si da palavra não é nada, só é uma junção de letras, que somadas geram um son prolongado. O valor delas é dado por mim, de tudo que eu aprende da sociedade, pois foi ela que me ensinou os "signos".
falar "maça" em português para um brasileiro é uma coisa, e para um japoneis é outra. Um vai assimilar as palavras e(ou) som com o "objeto", já o japoneis com nada.(salve exceções de ambos =D)
falei de mais já. mas antes, o q isso tem haver com consumo? Bem, que os nomes já foram postos, e para q haja de fato uma revolução, esta deveria começar pela linguagem(e seus signos). pois ela já foi incorporada pelo sistema.

ler isso não acho q vai fazer diferença, mas se alguem quiser ter uma discussão mais aprofundade, estou disponivel.

beijo lia!

Unknown disse...

Cabelão, como vai td? =)
Viu, cogumelos sao grandes cabeças com franja, o que faz de vc uma emo
E digo mais,
"Princesa Mononoke" é muito mais lindo e animal que "Viagem de Chihiro", corre pra ver!
live long n prosper

Lia Lupilo disse...

shinji querido,
foi a sociedade quem ensinou o significa significado, concordo.
entendi também a idéia de que uma revolução deva começar pela linguagem , mas isso é extremamente teórico. no fundo a revolução deveria começar pela educação.
por que falar isso de revolução e linguagem, é dizer que a linguagem se sobrepõe às formas, ao mundo. que a palavra faz o homem, e eu acho que é o contrário^^
assim sendo, não compreendi ainda o negócio de consumo =linguagem..por favor, não se canse da sua amiga que ou anda lerda ou teimosa!

Rael, vulgo bigodão, vou correr atrás dessa princesa sim, obrigada!
suas palavras sempre são cjeias de doçura. tanto que é impossível retornar de forma amarga

Fernanda Braite disse...

Adorei esse post!!
Primeiro porque sou apaixonada pelo filme "Viagem de Chihiro" (ai meu deus, escrevi certo???). Ele é cheio de figuras psicológicas. Podem reparar: muitas das situações e dos "monstros" que aparecem no filme são assustadoramente familiares. Não sei se mais alguém sentiu isso. A profundidade dele é simplesmente fantástica!

Tá, mas agora ao texto. Não concordo plenamente com o fato de algo desaparecer quando nomeamos. As vezes, o que vemos é tão imenso, tão incrível, que temos a necessidade de nomear apenas para nos sentirmos confortáveis, para não enlouquecermos com a amplitude de certas coisas. Quando nomeamos, temos a falsa impressão de que definimos e entendemos o que é aquilo. O universo é um exemplo. Não sabemos o que ele é, de onde veio, nem onde acaba (e se acaba). Chamar tudo isso de "universo" nos deixa mais calmo acerca dessas perguntas, pois sabemos ao menos o que é aquilo. "É o universo, oras".
O mesmo acontece com sentimentos (com destaque ao amor, que inúmeros poetas já tentaram explicar), sensações e diversas outras coisas.
BEIJO, LIA!!