quarta-feira, 2 de maio de 2007

Da incerteza, da existência, da persona e do Second Life

Estava aquela loucura.
Um auditório cheio de universitários de comunicação: empolgados, jovens, esperançosos, animados. O que poderia ser ruim? Que venham os baixos salários, a falta de reconhecimento, eu quero mais é escrever! Não pára, mundo! Eu não quero descer!
E lá na frente, sentado, Joelmir Beting - com toda experiência que cabe em um senhor jornalista de 180cm e 25cm de raio em média. E naquela coisa toda de más e boas previsões, veio a bomba que todos suspeitaram sempre (aquela que faz um Beting suar, que faz um Larry gaguejar): inconstância.
Tem tanta coisa já, a convergência, a comunicação
está tudo tão grande que ninguém mais sabe de nada.
Essa era a notícia ruim?
Era aquele bolo de lanche enorme: ele está lá, você precisa comê-lo, Ele pode te render algum prazer, mesmo não tendo cobertura e sendo sabor baunilha. Mas se tornará uma obrigação, e só se pode escolher entre encará-lo ou sair distribuindo garfos.
O lado negro dessa força (bolo de lanche) é comê-lo de mau jeito: a nova mídia é ilimitada, mas muito antes de alguém ter alguma idéia de como fazer, já existem os que fazem mal. Que o fazem errado. E isso é preocupante.

Hoje fazemos tudo por internet, por celular, vivemos plugados...
Nisso, meu amigo , despreocupadamente [com aquele jeito simples de querer descansar] arrasta o quadril pela poltrona, deitando a cabeça no encosto e Olhou pra mim para ver o que eu estava falando. eu estava olhando pra ele e falando comigo mesma, como sempre faço- ele sabe. E com aquelas palavras reverberando na minha mente e nos meus lábios eu olho para aquele ser simples, mas o vejo de olhos fechados.
Medo.
Depois, além dele, todos da sala que estão de olhos fechados, e eles não vivem mais. Quer dizer, eles vivem, mas virtualmente.
Por Ds, vocês sabem o que eu vi, já o viram também. Algo como a cena do "berçário" no Matrix, colunas e colunas de seres humanos que acham que vivem mais estão plugados, e vivendo esquizofrenicamente. Nunca enconstaram em nada nem ninguém. Quase aquela cena de A Ilha também, os novos adultos na cama.
Estão todos deitados, mas há pura agitação dentro de suas mentes. A única coisa que sobra de material é uma poeira rosa, como pequenos brilhos piegas em cima dos olhos cerrados de todos.
Eu vi a humanidade toda que sonhava em viver, a partir desse amigo que estava do meu lado, que na verdade nunca tinha fechado os olhos durante a palestra.



Não deu outra: [jornal de domingo, caderno de Oportunidades] "Investindo no Second Life", "mais de 6 milhões de usuários...".
Fiquei com medo de entrar também. É claro que deve ser um jogo divertido, mas já faço cada vez menos coisas na vida real, e em vez de ler um livro, ver alguém em essência, em realeza, eu vou ficar algumas preciosas horas pra crescer em um lugar que não existe..
[existe se você acreditar que é real]
Mas eu sei que não é.
[você sabe?]
Eu quero que seja assim, então é.
[não é você que escolhe o que quer viver?]
Não quero viver isso. Não quero me tornar uma personagem. Você passa algumas horas sendo outro, várias vezes por semana, e lá você faz o que quer...pode demorar o tempo que for, algum dia, quando você menos esperar, vai tomar uma ou outra atitude que não é propriamente sua, que não fez parte de você durante tudo o que se lembra.
[você tem medo de se descaracterizar? se despernosificar?]
Tenho é de personificar. O normal é a gente viver sem persona própria, fixa. E qualquer coisa diferente disso é falso, construído. Não acredito em pessoas-personagens, não, não...

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E para comemorar ontem de verdade. Não ir ver um show do Wanessa Camargo ou da Ivete...

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Quem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída--
Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu? Sobre quem
Triumfaram os Cesares? A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?

Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?

Tantas histórias.
Tantas questões.

Bertold Brecht

15 comentários:

Anônimo disse...

Ainda vou fazer o final alternativo de Matrix, acho que já te disse.

Neo escolhe a pílula da ignorância e acorda sem rim dentro de uma banheira com gelo, achando que o negão é um traficante de órgãos.

Já tenho um amigo que vai assumir o papel do protagonista, se o Keanu Reeves não assinar o contrato.

Unknown disse...

haha
essa coisa toda nao me interessa
o que eu quero é voar
se bem q salvar o mundo é minha praia tb
poxa, das pilulas acho q pegaria a vermelha msm.. desculpe o cliche
Belão, second life é divertidinho, o legal sao os cliques e digitar o que quiser, é um passatempo razoavel
sempre gostei de jogos online, conversava enquanto rasgava abdomens de malfeitores, aprendi muito ingles assim, if u no wut i mean
Nao se preocupe q vc nao é a unica q quer descobrir sua personalidade, tb quero te conhecer + haha
beijo e dança comigo

Felipe Held disse...

Queria o Joelmir Beting pra ser meu avô, o velhinho é demais.

Mas com o tempo você vai ver que o Jornalismo é terrível, e a inconstância nem é tão do mal assim. Só que basta você conseguir um emprego legal pro bolo de baunilha sem cobertura ser uma das coisas mais prazerosas do mundo. Com alguns defeitos, claro, mas que no geral é muito bom.

E a falta de constância é profundamente ligada ao fato de todo mundo fazer mal. O que você vai ver de neguinho terrível brigando com uma vaga com você é duro. Ou não, porque acaba dependendo só de você.

:}

Aline disse...

lili =)

não gosto do second life. na aula de filosofia teve um grupo que fez um seminário sobre 'relacionamentos virtuais' foi muito interessante.
I wish you were here honey.

te vejo sexta? talvez não dê amanhã...vc pode sexta?

ai ainda precisamos conversar!

um beijo

Pedro Sibahi disse...

Hey!
a mídia como um todo passa por crise.. e nós? futuros jornalistas? passamos por uma crise.. bom.. o progresso, ou sei lá que palavra seria melhor(evolução? história?), é feito de crises.. nos perdemos para acharmos um novo caminho!
Quem nunca teve a impressão de viver numa realidade virtual? de talvez estar vivendo algo falso.. de experimentar pílulas coloridas pra ter certeza..
Por isso, na vida.. valorizar cada momento... de sofrimento, de paixão, de dor, de saudades, de luta.. vale por nos mostar q estamos vivos! e avida está passando ai! Cabe a nós escolher entre estar no turbilhão, deixar ela passar por nós ou fingir que se vive, aproveitando uma realidade onde não se machuca.. covardia.. é quase um estar morto..

Pedro Sibahi disse...

é um estar morto

Pedro Sibahi disse...

Ah! lia! vc colocou um link errado pro blog do tomiate..
o link manda sempre pro post das três leis.. e não pro blog mesmo..
q bobinha.. ou não.. vai saber.. eh a Lia..
vc sempre arranja um jeito de me surpreender!

Pedro Sibahi disse...

ahh.. fica ae uma letra.. não é Bertold mas eu gosto.. :D

Se eu não tiver emprego
mas tiver liberdade
Se eu não tiver dinheiro
mas cerveja à vontade
Enquanto houver vida
haverá um motivo pra lutar

Se tudo está perdido
nos sobra a esperança
Se não restarem amigos
nós teremos a lembrança
Enquanto houver vida
haverá um motivo pra lutar

Flicts

Murilo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Murilo disse...

Como todo jogo online, com o tempo, fica chato e cai.
Não sei por que diabos tanta gente fala do tal The Sims em tempo real. Só por que envolve dinheiro e ambições maiores que comprar uma armadura melhor ou quem sabe uma espada? Novidade pra quem não entende nada, afirmo que cai.
Se queriam dar tanta importância para um jogo de computador, deveriam investigar oque se passa por de baixo dos lençõis da Blizzard E. Aposto que envolve muito mais dinheiro... mídia bobinha.

Um grande beijo e aposto uma corrida até o próximo bebedouro, Muras.

dcs disse...

já está tarde e tenho uma mãe fungando no meu cangote...
Acho que a impossibilidade de viver uma vida "humana" faz as pessoas buscarem refúgio nesses subprodutos da modernidade.

Se não existem mais grandes reis, me resta ser um magnata. Caso não consiga, apelo para o mundo virtual. Não posso ser um grande guerreiro, mas posso jogar rpg e ser respeitado pela minha destra no mouse.

Que mundo é esse [virtual] que não existe? Por que ele tenta reconstruir o mundo [para parecer perfeito] e faz as pessoas se afastarem daquele em que existem de fato?

Na internet posso realizar mimnhas fantasias, ser aquilo que não sou, mandar, criar, matar, destruir. Cho Seung-Hui confundiu as duas realidades, ou apenas se cansou da superficialidade delas??

Será que a tecnologia faz as pessoas melhores, ou pelo menos alguém mais feliz? Anarco-primitivismo já! (manifesto de um anarquista faixa-branca desmaiado em cima do teclado...¬¬')

Lia Lupilo disse...

tom, gostei desse final alternativo... é simplesmente a sua cara!
rael, salvar o mundo é sua praia? que bonito isso! depois você me conta isso. eu não quero descobrir minha personalidade! você não entendeu: eu não acredito que existam personalidades fixas! e se existir, não quero tê-las!

fheld, suas palavras dizem a verdade, e eu agradeço -) mesmo a parte do velhinho... a inconstância, tenho de admitir: assusta e atrái. Hoje estava discutindo com um colega o perigo que é a internet está na mão de um órgão americano...não por ser americano, mas parece brincadeira que todo o mundo está por um fio: um apagão e a 3ª guerra mundial. [depois podemos voltar nesse assunto]

li querida, eu li sobre esse minisseminário, um texto da Aryana, que, aliás, estava muito legal =] e até amanhã!

pedroka, também acho que estamos em um eterno achar caminhos, e os detalhes acabei de falar pro fheld aí em cima. quanto a viver virtualmente, eu penso nisso muitas vezes. até agora não me convenci de nada, mas estamos aí, vamos tentar sentir cada realidade desse (ou não) sonho, acreditar nela, mas nunca esquecer a abstração. não você, não... "é um estar morto"--> não seria tão radical quanto você, meu amigo. para mim, são lampejos, sujeira de vivência é vil, é quase nada, mas nada...o que é algo morto, afinal?
e claro, obrigada pela poesia!

muuu*, mídia bobinha? eu acho que ela sabe, por isso que insiste em focar justamente nesse assuntos x)
e pra alguns é muito interessante que façam muito alarde, para que muitos entrem... um grande beijo em você também! agora, a corrida...já!

davizinhho, você é faixa branca em todos os sentidos, não é mesmo? e mesmo assim é maior que muitos que já vi
=) amo você

,-***

Tatiane Ribeiro disse...

Hey, Brecht é covardia...

Para onde iremos então?!
Para que gde jornal cheio de cubículos e loucos digitando freneticamente?
E o que virá depois? Casa, cachorro, filhos.. CONFORMIDADE!

E para que tudo isso? Pra entrar no sistema... e o q seremos no fim? Notícia velha....

Anônimo disse...

entao vc pois a foto gosmenta, hahaha!
bem, farei um comenterio mais profundo quando ler a nota inteira.
neijos*

Anônimo disse...

Lendo sua noto adequadamente, percebivarios traços do 'Evangelion'(ou vc havia me avisado). Vi, no pano de fundo, o Shinji voando, e logo mais uma linha o limitando.
Sobre o Matrix, nunca achei tão importante uma ou outro, mas sempre pensei sobre o poder de escolha(como vc já sabe, nao existeo tal 'destino' p/ mim).