domingo, 15 de julho de 2007

Versões do(s) século(s)



Os novos hedonistas
por Antônio Gonçalves Filho

Michael Onfray é um fenômeno capaz de vender 200 mil exemplares de um livro de filosofia só na França, o jovem professor é visto por seus pares como um Paulo Coelho com doutorado em Nietzsche. Com 48 anos já publicou mais de 30 livros, entre eles, Tratado de Ateologia(...). Como Onfray, identificado como o filósofo do prazer, outros pensadores franceses tem embarcado na nave dionísica do hedonismo rumo à conquista do espaço ocupado no passado pelos gauchistes de Saint-Germain-des-Près. A civilização de Apolo chegou ao fim, decretam novos hedonistas como ele e Giles Lipovetsky, que também lançou este mês seu livro A Sociedade da Decepção (Editora Manole) no Brasil.
Lipovetsky, que cunhou o termo hipermodernidade para definir a sociedade contemporânea, marcada pela cultura do excesso, não vê nada de mal em incentivar o prazer e o consumo. Serviu até de consultor de grifes (suspiro) de moda, seu assunto preferido. A exemplo de Onfray, é um bestseller em seu país com livros como A Era do Vazio e O Império do Efêmero. Parece estranho que títulos como esse, que traduzem a dramática falta de valores (dramática? =P) perenes, atraiam tantos leitores, mas o mundo contemporâneo, diz Lipovetsky, é mesmo paradoxal (nisso tenho de concordar com o moço). Seu hipermaterialismo relança, diz ele, exigências espirituais e éticas que vão mudar esse paronama (parece a busca pela redenção, pela cura do sentimento de culpa por estragar o planeta e a vida- a própria). O homem hipermoderno seria também um hiperindividualista que, sofrendo as pressões da vida profissional e privada, assume o papel de legislador da prórpia existência- daí a lógica hedonista que, garante o filósofo, vai continuar a organizar o nosso cotidiano.
Vivendo numa época de ceticismo, os jovens, observa o sociólogo Mafessoli, perseguem o gozo por desconfiança na política e nos políticos. Eles não querem o êxtase revolucionário, mas o "êxtase doméstico", tribal. Mafesoli é o pensador do nomadismo e do tribalismo. Acredita que as migrações vão alterar a face do homem do futuro. O mundo que está por vir, diz ele, não é o da razão triunfante, mas o do ventre (intertextualidade com aquela divisão platônica dos homens entre os regidos pela razão [cabeça], desejos [ventre] e violência [braços e tórax])

trecho da entrevista com Michael Onfrayn:
Sua filosofia celebra o hedonismo e os sentidos, mas que siginifica hedonismo num mundo cheio de guerras e intolerância? É possível, nesse contexto, separar hedonismo de consumismo? O que significa essa expressão cunhada por você, "sculpture de soi" (escultura de si)?
-O hedonismo não é a mesma coisa que o consumismo, é exatamente o oposto. É o antídoto. O consumismo é o hedonismo liberal e capitalista que afirma ser a felicidade a posse de bens materiais. Que filosofia defendeu uma estupidez dessas? Nenhuma em 25 séculos, muito menos a minha. O hedonismo é a arte de ser, não a de ter. E a arte de ser é a sabedoria ascética do despojamento: não se cobrir de honras, de dinheiro, de riquezas, de poder, de glória e outros falsos valores ou virtudes, mas preferir a liberdade, a autonomia, a independência. A escultura de si é a arte dessa técnica de construção do ser como uma singularidade livre.

Trecho da entrevista com Gilles Lipovetsky:
A Sociedade da Decepção fala de uma sociedade marcada pelo excesso e francamente hedonista. Como você analisa a defesa do hedonismo por filósofos como Michael Onfray? Você se identifica com ele?
Onfray é um apóstolo do hedonismo. Não é exatamente meu caso, embora defenda o consumo e o hedonismo. Não sou moralista. Veja, temos um mundo que camiha na direção de uma hipermodernidade e, por outro lado, um outro mundo que volta à religião. Há nisso uma nostalgia de época menos turbulenta, mas não acredito que essa seja uma nostalgia do sagrado. Por outro lado, desde os anos 60, o crescimento do consumo virou fonte de permanente frustração. Você sempre está sonhando com um produto melhor, e se decepciona quando não o tem, não se conforma com a falta dele. Daí a frustração infinita, a obssessão pelas grifes, pelas marcas de prestígios que poderiam garantir essa qualidade. O que defendo no livro é que essa frustração pode significar também uma oxigenação da sociedade.

trecho da entrevista com o sociólogo Maffesoli
Os filósofos franceses não se cansam de defender o consumo e propor a prática do hedonismo como saída para a crise. Como o senhor prevê esse fenômeno?
-Primeiro, devo dizer que há uma grande diferença entre o que penso e o que defendem Michael Onfray e Gilles Lipovetsky. Não sou catastrófico. o sucesso de livros como os de Onfray responde a uma expectativa popular, embora essa filosofia não tenha a dimensão de um novo existencialismo. O problema da pós modernidade não é como acabar com o monoteísmo, como pensa Onfray, mas como administrar o politeísmo numa realidade futura de tribalismo e nomadismo. Outro dia eu estava discutindo a barbárie com Umberto Eco e ele defendia que estamos voltando à Idade Média (como bom medievalista que é). Meu cenário é ligeiramente diferente. Defendo a sinestesia, termo médico que tomo emprestado para falar de uma experiência subjetiva ditada por sensações de outra ordem mas que trazem um ajuste entre todos os órgãos. Estamos deixando a homogeinedade da sociedade moderna, pautada por idéias de estabilidade, para abraçar a heterogeneidade pós-moderna. Como toda aprendizagem, esta também é cruel. Trata-se de buscar a conjunção entre hedonismo e exigência intelectual.[fim]
OESP17_06


[-Shinji, seu idiota...]

Para Lévinas,
"Talvez o fato mais revolucionário da consciência do séculoa XX(...) seja o da destruição de qualquer equilíbrio entre a teodicéia explícita e implícita do pensamento ocidental."

6 comentários:

Pedro Sibahi disse...

� minha filha...
� quase filosofia � servi�o do capitalismo, ou n�o.
Seja talvez apenas o reflexo desse mundo sem perspectivas no qual vivemos. Consumista, alienado, apressado.
As vzs eu fiko meio depre, nesse clima de curtir o m�ximo que der..
MAs fazer oq.. acho q iso eh meio instintivo at�..
Vamos resitindo e mantendo akeles ideais de sempre..
bom.. n�o escrevi td que queria.. mas qlqr coisa termino depois!
bjos!

Lia Lupilo disse...

só você mesmo pra ler tudo e ainda comentar^^
poucos tiveram paciência ao chegar e ver uma matéria que não era minha. não por eu ser melhor (por Ds!) mas sim porque leem (os amigos) para cumprirem a função de me apoiar (ahahahaha).
eu só ponho coisas que não são minhas quando gostei! e como sou uma "pirata", na verdade nada que é meu o é de fato.
mas se engana os que pensam que apenas copiei uma matéria. eu a recortei como quis, e a ilustrei. os desenhos fazem intertextualidade com o texto e explicitam meu ponto de vista x-

(acabei explicando o blog em vez de comentar sobre o post em sim, mas tudo bem. que fique para o futuro, uma hora eu ía ter que me explicar mesmo =)aos que já tinham sacado (a maioria, com certeza), perdão!
e valeu, ped =]

rox disse...

Olha, eu li inteiro, mas não absorvi nada - só que os caras brigam por que definem coisas diferentes com a mesma palavra. Falta matemática!!! =P

E apesar do emoticon eu tô falando meio sério; você vai me entender quando agente se cruzar de novo* pra eu explicar porque acho que a moral (ainda) deve ser axiomatizada.

Pra não dizer que esse é só um comentário preconceituoso exatóide (veja o caso Alan Sokal para um bem melhor), devo dizer que entendi a imagem do NGE =P (que é animal!).

* - mas acho que pra isso acontecer, vamos precisar de outro decreto safado, porque estar acordado junto com as pessoas normais tá difícil!

Beijos!

Lia Lupilo disse...

rox! HAHAHA, vc tb^^
certo, vamos lá:
falta matemática sim, é filosofia. é mais que exatas, é a mãe dela.
e não se trata de definir algo, não é necessário. o engraçado da filosofia são as discussões, os rompimentos, não existe aquele negócio de se chegar a algum verdade. hoje (é engraçado usar esse advérbio, estamos falando de séculos de pensadores) a filosofia é pra francês ler,
para publicar revistas sobre o assunto e alguns assinantes poderem se sentir melhor.
é um mundo diferente (ainda não sei, porém, qual é o real. talvez seja a mistura de todos esses feixes de sub-mundos que se entrecruzam formando uma película de 1 megapixel chamada "mundo real"), onde o importante não é entender, é vender seu nome.
e parece que estou traindo um pedacinho de mim sendo tão dura com alguns ilustres,
nem os conheço para saber de suas reais intenções...
mas é só olhar para um jovem gênio literário para adivinhar que ele é tudo o que o mundo pediu, tudo que precisava. não é nojento isso?
mas não me traio por completa
justamente por ir contra a atual definição de filosofia. sou infantilmente a favor da democratização,
ridículo, eu sei.
mas por hoje
é assim.

Anônimo disse...

a figura foi uma forma de intertextualidade ou uma critica.

Anônimo disse...

me refiro a figura do evangelion.