sexta-feira, 6 de julho de 2007

Conflito de Gerações II

"A mocidade é horrível: é um palco em que, representando tragédias com as roupas mais variadas, crianças se agitam e proferem fórmulas decoradas que compreenderam pela metade e às quais se agarram fanaticamente."
Ludvik de "A Brincadeira" se recordando dos tempos de juventude

"-É- disse Zemaneck-, eles são diferentes. Ainda bem que são diferentes! E seu vocabulário também, felizmente. Nossos sucessos não lhes interessam, nossos erros também não. Você não vai acreditar, mas, nos exames de admissão para a faculdade, esses jovens não sabem mais nem o que foram os processos de Moscou, Stalin para eles é apenas um nome. Imagine que a maioria deles não sabe nem mesmo que há 10 anos ocorreram os processos políticos de Praga.
-É isso justamente que me parece abominável- disse eu.
-O fato é que isso não depões nada a favor da instrução deles. Existe nisso, porém, uma liberação para eles. Eles se fecharam para o nosso mundo. Recusam-no em bloco.
-Uma cegueira substitui a outra.
-Eu não diria isso. Admiro-os justamente porque são diferentes de nós. Eles gostam do próprio corpo, nós negligenciamos os nossos. Eles gostam de viajar, nós ficamos parados. Eles gostam de aventuras. Nós perdemos nosso tempo em reuniões. Gostam de jazz. Nós copiamos sem sucesso o folclore. Eles se ocupam de si mesmos. Nós queríamos salvar o mundo. Com nosso messianismo, quase o destruímos. Com seu egoísmo, talvez eles o salvem".


Ainda em "A Brincadeira", conversa entre Ludvik e Zemanec, que refletem sobre a nova geração que os substituíram em idade, mas parecem negligencia o Partido, a Revolução e todo o nacionalismo (vá lá, ufanismo) decorrente, que estava tão em voga 10 anos antes. É como se agora eles quisessem usar jeans em vez dos trajes típicos, tocar violão em vez de clarinete e címbalo, cantar canções em inglês.

Após a 2ª Guerra Mundial, a República Tcheca ficou sob influência soviética, e o pacote veio permeado do autoritarismo stalinista vigente na União. O autor, Milan Kundera, foi expulso do Partido duas vezes (fator presente e que serviu de inspiração para seu primeiro romance - já citado) por discordar dessa faceta do comunismo real. Tanto que foi um dos intelectuais ativos na tentativa de mobilização política que ficou conhecida como Primavera de Praga - tentativa de humanização do regime.

Esse conflito é mundial e atual. Ainda não sei classificar nossa geração, e acho que não vou perder muito tempo com isso, por enquanto. Talvez me preocupe quando já tivermos sido substituídos (me lembrei agora daquela idéia de algum filme/música/livro, sobre "dar lugar" aos que vêm depois. Que isso faz parte da vida, "saber viver é também saber que o seu tempo já passou"), quando for o tempo real dessa discussão. Mas me desculpe Zemaneck: não acho mesmo que um mundo melhor pode ser construído com egoísmo.
E é por isso (egoísmo) que fiquei pensando se essas gerações não são coincidentes (mesmo que seja um povo envelhecido da Rep. Tcheca, como aqui no Brasil as coisas são mais demoradas...) em qualquer, algum aspecto, mesmo que as conjunturas tenham sido violentamente diferentes, antagônicas ao cubo.
Acho que o negócio do mundo é que ele vai continuar a mesma coisa,
com ou sem Partido
com ou sem egoísmo.

se não for egoísmo vai ser olho gordo, vai ser inveja.



[vista noturna de Praga]

A desculpa para a temática à parte, pouco atual

Estava me sentindo borocoxô por aquela antiga sede, vontade, ter desaparecido. Pelo menos por hora. Não cansei de ler os livros, mas abrir o jornal todo dia nas férias têm se revelado mais enfadonho do que revelador: as páginas não trazem nenhuma surpresa, elas são iguais, são combinadas. Minha mente, mais que meu corpo, recusa a pesquisa; e só quero que esse marasmo passe rápido,que o sal vá embora. Que tudo seja preguiça típica de início as férias, e não algo mais profundo que envolva gigantes como decepção, desilusão.

4 comentários:

Pedro Sibahi disse...

Hey Lia!
sobre o bom velho conflito de geraçoes, sò posso dizer o que pensei quando li essa parte de livro.
Que o grande problema esta em nao aprender com os erros dos que vieram antes de nòs, nao usa-los como exemplo.
Quanto ao egoìsmo, olho gordo, inveja e afins, nao steja sempre tao desiludidada com a humanidade, nem tao desalentada pela existência de sentimentos tao humanos, que tornam o mundo esse belo caos que conhecemos.
De màs, ferias sempre tem partes q sao um saco.. aproveite partes do tempo livre para fazer coisas inuteis como jogar videogame ou ler mangà.. (:P)
e nao deixe seu lado mais nerd te cobrar tanto.. mas deixe..
besos!

Pedro Sibahi disse...

dois acrèscimos:
Que hà sim, erros que temos de cometer em nossas vidas.
E que, ahà, fui o 1º!

rox disse...

A parte chata é que eu concordo com o primeiro parágrafo, quase completamente. Agente, às vezes, segue muito o "faz, depois pensa". Só que isso todas as gerações seguem, infelizmente...

A parte legal é que eu não vejo isso como verdade universal - já mudei de opinião tantas vezes sobre tanta coisa, acredito que o jeito da maioria pensar também pode mudar sobre muita coisa.

Egoísmo, porém, é vantagem evolutiva individual. Se não houver controle comunitário, aquele que não é egoísta tende a desaparecer. (comentário centralista do dia)

E você, des-desapareça!
Beijão

p.s.: pro inferno com a conjugação do subjuntivo!

Lia Lupilo disse...

pedrinho
obrigada, querido!
e ó,
não acredito que TEMOS que cometer erros em nossas vidas.
mas que sim VAMOS cometê-los, e não há como escapar disso. somos seres errados, querendo ou não.
mas acho que o "erro" é convenção da sociedade,
ou alguma atitude que tenha consequências desagradáveis x-

rox
vou tentar des-desaparecer, e não! não ficou tão ruim assim =]
HAHAHAHAHA
não é similar para todos mesmo aquele 1º parárafo?
o resto é meio assustador, mas é apenas um ponto de vista.^^'

beijos=0**