sábado, 21 de julho de 2007

Heróis e vítimas

-Porque eu vou torcer por aquele cara? Olha pra ele, que coisa babaca. Por que ele ganhar mais um ouro faria alguma diferença na minha vida? É a matrix cara! Matrix!- diz colocando a mão na frente dos olhos, depois de olhar por alguns momentos -virando o pescoço -a Tv daquele restaurantezinho que parecia uma padaria, mas que vendia espetos com linguiça e ovos fritos estatelados em cima de montanhas de arroz.
Olhei para meu prato com aqueles pedaços gordurentos, ainda me divertindo com a rebeldia de um cara de 40 anos que era apaixonado por música e por um baixo, bom marido, futuro pai.
-E o futebol? - provoquei, revirando aqueles pedaços no vinagrete - também é matrix, consagrado no país. E vivo lendo colunistas e cronistas que fazem aquela intertextualidade com a vida, "futebol é mais que arte, é mais que esporte". Tenho que reconhecer mas...Porque eu não gostaria de salto ornamental, por que é diferente?
-Eu adoro futebol - respondeu com o olhar meio distante, que nem a voz.

E todos da mesa concordaram, reconhecimento da minha incapacidade à parte, que entretenimento é importante, e que poderia, sim, ter sido salto ornamental a paixão nacional.
No fundo não importa se a escova é música ou esporte. O que importa mais agora, para mim, é saber se apóio essa iniciativa, até que ponto isso é importante para o Brasil.
Dizem os comentaristas que os atletas representam o país, seja em rasteiras e lutas em baixo centro de gravidade, seja em uma graciosa partida aparentemente amistosa de hóquei de grama, ou em um leve e equilibrado show de ginástica olímipica. Na trave, no solo...
Alguns povoados no Rio perderam as casas e o direito de morar,
utilizaram o triplo de grana que seria necessário
fora as falhas de sempre...
e eu fico imaginando porque participar dessa guerra silenciosa.
Toda competição é violenta, e nisso dou alguma razão ao meu camarada da fala escrita acima; para que vou torcer para alguém que treina 8 horas por dia para competições? Isso irá ajudar o país? Ah, auto-estima coletiva? Aí vem aquela conversa esquizofrência já conversada, e chegamos à conclusão de que temos de jogar o jogo do mundo.
Temos mesmo?!
Ainda não consegui me convencer de algo,
e enquanto me questiono em relação ao Brasil e ao mundo (porque eu sou brasileira, querendo ou não. Mesmo sendo contra nacionalidades, elas existem: serei conformista ou inutilmente revoltada?), me emociono com as propagandas de atletas
assisto os jogos de basquete
acompanho o judô.
Sempre odiando a violência, odiando a guerra biológica, genética
e lutando contra minha consciência
sendo vencida por alguma paciência inexistente,
O maior fantasma que já me atormentou.


[poderia ter colocado uma foto tradicional, mas essa é para lembrar o ridículo de qualquer cobertura de evento: achei essa foto do Flávio Canto na seção "musos do pan", no site terra. Mais um herói]


Notícias da Cidade de Fogo

Se vou bem?
pergunte a meus irmãos que agora têm sonhos vermelhos.
poderia responder por mim própria
me desvencilhando
mas não seria muito humano estar bem, feliz
combinar uma saída no celular do outro lado da cidade.
mas às vezes penso o contrário:
que me sentir bem
que ignorar
seria completamente, intrinsicamente humano.
então
me desespero,
choro um pouco
e atendo o celular.
só que não vou dizer que estou bem, não, não vou. mesmo que seja tão natural
[it's only natural]
vai pro inferno
mas deixe essa cidade fora dele.

9 comentários:

Murilo disse...

Te vi hoje, de chapéu branco.
Não sou duro comigo mesmo, aliás, quem sou eu pra ser duro com alguém?
E você, te digo pra gostar do que gosta, o resto não dá certo.
Por que torcer? Por que eu gosto. Pro resto... se apeguem ao circo, já que o pão vai demorar.

Beijo Bela, curta e se deixe curtir.

Felipe Held disse...

Bacana seu post, mas não entendi por que tantos conflitos com a esse lance de torcer pelo Brasil - que, aliás, é a parte mis legal do evento superfaturado.

A única coisa que me deixa meio assim é que o bom desempenho dos atletas no Rio de Janeiro vai servir pra dar uma maqueada nos podres que vêm rolando tanto nos bastidores do Pan como no restante do país. Só que é sempre assim, principalmente durante a Copa.

Ah, e quanto à foto do Flávio Canto, relaxa. Surpreendentemente, o Terra vem conseguindo fazer uma cobertura tão ruim do Pan quanto o Globo Esporte.com.

Se quiser ver uma cobertura legal do Rio-2007, vê pelo UOL, que tá mandando super bem. :)

Anônimo disse...

mu*
você me viu de chapéu branco e não me cumprimentou. porquê? =´ vc não gostou do modelo, foi isso?
obrigada pelos conselhos =] veja os que eu deixei pra você também, ok? é uma alternativa se apegar ao circo^^, e seria hipocrisia falar que não é o que acontece. mas eu não quero entregar minha alma ainda, não consegui =]

fheld!
[para quem não percebeu esse é o ilustre que escreveu o post linkado na palavra "falha", ao longo desse texto]
eu estou acompanhando o pan pela gazetaesportiva.net, pena que lá não tem muitas fotos ^^
é, os heróis sempre servem de maquiagem. é por isso que não sei se os apóio totalmente. fico imaginando de que forma o dinheiro investido neles vai nos ser útil...
é, uma postura muito chata etc
mas é, droga...

beijos =0**

rox disse...

A culpa não é dos atletas.. Agente torce pros caras porque é divertido, porque a mesma nacionalidade instintivamente nos coloca no mesmo time e nosso inconciente, que é bem burrinho, acredita. Qual é o problema com isso? Além, é claro, do fato de que o esporte é belo por si só! Foda-se o que diz o Galvão Bueno - dá muito bem pra torcer pelos atletas, que têm seu valor, e não ajudar em nada a Globo =)

E não acho, de jeito nenhum, nacionalismo um argumento válido pra coisa racional qualquer. Nacionalismo é um "valor" completamente arbitrário e não existe nenhuma razão moral pra eu dar mais valor a um brasileiro que um argentino, por exemplo. Tá, o Barão do Rio Branco negociou o Acre... e daí?!
(já peço desculpas por qualquer excesso de violência verbal)

Porém, se eu pudesse escolher pra quem torcer, não ia ter a mínima graça! Por isso eu aceito a decisão irracional, já que isso não afeta a vida de ninguém exceto a minha. Vai, Brasil!!!

Té mais!
:***

Anônimo disse...

Lili! minhas aulas começam quarta,vou pra sp na terça ( acho) ...meu problema é que meu currículo está no meu pc de são paulo!! que raiva,vou ver o que posso fazer...

e quando começam suas aulas ??

[ i'm sorry i didn't had time to read your post,but i'll do it later ok?! ]

Daniel disse...

Já eu, aquele meio-pessismista que você conhece, concordo. As vezes até torço, mas concordo :]
Adoro seu blog, bom ver que passou pela minha sala de aula muita vida pensante, mesmo que concentrada em poucas pessoas.

Pedro Sibahi disse...

sempre me pego pensando em assuntos como esses..
Tem coisas na vida que são moldadas e manipuladas.
Tem coisas cheias de "significado", que não valem nada.
Tem um monte de coisa confusa..
Eu acho que as vzs, fazer o que gosta eh bom, desde que se esqueça da vida.
Se perguntar os porquês é um saco, mas eh bom.
Acho que podemos torcer, se não esquecemos tudo que rola por trás do Pan, dos excluídos e prejudicados pelas obras miraculosas e caras, dos mortos em uma acidente aéreo e o porquê de tudo isso.
Acho até que os esportistas que dedicam suas vida à isso merecem, podem ser usados para manipular, mas merecem.
PedroKa, nada seguro sobre a vida, muitas vzs com vontade de viver sem se perguntar porque.

Fernanda Braite disse...

Pois eu também passei a semana toda do Pan me perguntando se deveria me importar ou assistir. E resolvi fazer o que sempre faço: ser contraditória.
Não vi nenhum jogo e fazia cara de desdém quando alguem colocava no canal. Mas vibrava quando o atleta do jogo "ignorado" marcava ponto, e fiquei feliz com o numero de medalhas. Eu estava fingindo? Não. Eu realmente sentia alegria e repulsa ao mesmo tempo.

Estranho...

dcs disse...

Lia, Lia. Competição é sinônimo de luta, rivalidade, antagonismo, emulação. Mas por que então é feio vaiar os adversários que ganham no esporte, se a competição é por inveja, ciúme mesmo? A gente pode querer esquecer, mas as competições até onde sei acabam com um vencedor exaltado e um perdedor humilhado. E ver o Brasil ganhando é sempre bom, mesmo que você não tenha nada a ver com a seleção. Até porque se você não foi escolhido, talvez seja uma "bad apple".

Qual evento que reúne todos os povos, se não a competição?
Se eu assito canal de esportes é porque sou violento nas profundezas de meu ser, e porque, sim, a sociedade vive uma política de pão e circo, mas sem a Pax Romana.

Mas não quero discutir agora. Tchau.