domingo, 1 de julho de 2007

A Puta

Por Lia Segre e Pedro Sibahi

Puta-que-o-pariu, puta-que-te-pariu, puta merda, putz grila, puta(!), putona, putíssima, putinha, filho-da-puta, filha-putisse, putaria, putada...

Gerúndios, particípios, superlativos, porque todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser e...não! Não estamos aqui para defender a língua, seus predicados, por mais prejudicados que sejam.

Nem aqui a intenção é ofender alguém, chocar.

Mas sim, tentem entender, a intenção é sim divagar sobre A Puta.

Não a, as da vida, aquelas da esquina... A.

O ser maior, místico, presente na boca do povo, da nata, das crianças mal-criadas, dos pré-adolescentes auto-afirmantes, dos jovens desencanados/encanados, dos adultos estressados/engraçados, na dos velhos boa praça/boca sujas/bocas de marinheiro.

Médicos, mendigos. filmes cults, brasileiros, italianos, espanhóis, chineses; populares, massivos, alternativos, para muita, pouca, média gente.

De tanto ela existir em todos os momentos, e vez por outra, e em todos os lugares do mundo, invocada, culpada...

O fato é que ela é adorada e odiada.

A culpa é sempre dela,

A ofensa pertence à ela,

E sem ela, muitos dos xingamentos que foram feitos não se fariam.

Quem seria esta mística mulher? Onde estaria?

Seria ela as putas de todos os séculos e milênios? Seria a materialização do desprezo dos puritanos e conservadores? Estaria condenada, carregando o peso do mundo em suas costas, todo um ódio, ou quem sabe inveja? Vontades não realizadas, paixões não vividas, aventuras que não passaram de planos?

Não. Ela iria além das gueixas japonesas, dos templos indianos de Shiva, cabarés franceses, pousadas de Gênova, tabernas inglesas, bordéis americanos.

A malfadada Puta poderia ser não mais que um simples reflexo de nosso ódio contido. Uma simples convenção oral pela expressão de raiva, de nosso instinto animal. Está, ou simplesmente veio da péssima imagem que o meretrício teve desde sempre. Mas mesmo que seja daí, ela já é mais que isso. Já não é um adjetivo, um substantivo. Já é um advérbio, quem sabe até um verbo. A Puta expressa mais do que imaginamos, ou nunca paramos para pensar. Ela expressa negação, felicidade. Expressa quem sabe uma forma de agir (putamente?). Ainda não ouvi ninguém falar que vai putar hoje, mas talvez não demore...

A verdade que alguns chegaram é que simplesmente não existe motivo para o gosto que as populações tomam por certos termos pejorativos, atuais ou passados. O começo entendemos: aquele temido nome, antes usado comumente por homens-feitos, marinheiros e cafetões, passou a ser falado pelos seus filhos, suas irmãs ouviram e...logo o mundo inclinou um pouquinho, (tenho certeza que sim!) no dia em que aquela menininha dava seus primeiros ensaios vocais pezais- “p..p..u...pu...pu!..”. Ela provavelmente espalhou para algumas colegas, que contavam para os colegas da rua e, é, não parou mais. E se as mães não gostavam, nada mais arriscado, era adrenalina pura reunir a meninada do bairro e citar aquele linguajar de porto. As mães ouviam, se enfezavam, mas longe dos filhos, usavam nas brigas com os maridos, talvez. E foi essa abstração que fez A Puta ser bem mais que uma qualquer por aí (Deus nos livre!). Essa menininha, por obséquio, não fez nenhuma ligação. Falar a palavra p era tão errado quanto não escovar os dentes. Tão errado quanto comer meleca, tão feio... Foi nesse momento –aquele mesmo, em que a Terra inclinou um tico- que a dita cuja se desprendeu, se redimiu, (quase, talvez) tornou-se verbo, tornou-se um outra idéia e foi flutuando para o mundo onde as idéias vivem felizes.

Aos fazedores de idéias (leia-se nós), resta gastar tempo pensando se a idéia Puta algum dia trombou com a idéia daquela da vida. Ou desafiar o bom-gosto, o bom-tom, a boa educação, o berço, o porto, o morro, o vento, o jardim, o das infâncias, o internato, a praça, a cozinha, o escritório, o bar, o bar sujo, o bar chique da Vila Madá..

E

Puta.

Puta-que-pariu, puta-merda, putz grila, putonga, putz, puta-vida, putaria, putanha, putisca, putei, putou, putaram, putais, putam, puta, puta e puta.

9 comentários:

Murilo disse...

tudo depende do tom.
tenta acordar cedo e dizer a uma fêmea com pouco bom humor:
-Sua puta.

explicações não vão adiantar de nada.
tudo depende do tom.

by the way, deviam lembrar do "puto", que recentemente vem sendo usado por muitos =]

beijão seus quengas.

Anônimo disse...

Nossa, que legal. Adorei o texto, fiquei com vontade de mostrar pra todo mundo dizendo... "OH, FOI MINHA AMIGA QUEM FEZ!" mesmo, que orgulho...
Se me permite a ousadia, acrecentarei o linguajar dos cultos... o esquecido e excomungado gerundio!! Vamos lan�ar modaa... putar-te-�o!!

UHAHUAUAUAUHAUHA.. beijos... parab�ns!!!

Felipe Held disse...

Caramba.

Já eu vejo puta como apenas o melhor advérbio de intensidade que já inventaram.

Cristiane Sinatura disse...

CADÊ O COMENTÁRIO QUE EU TINHA DEIXADO AQUI?!?!?!?!

Lia Lupilo disse...

muras, concordo! e sim, dorga, esqueci do "Puto"...mas acho que ele ainda está em segundo plano. os ouvidos precisam se acostumar;

aruan, você é um amor. mas mais que gentil, ler isso vindo de um artista como você é indescritível, me impulsiona! arigatô-domô-gozaimatsu^^

cris, bom...putaria te limite, desculpe querida.

Lia Lupilo disse...

aahh, claro! fheld, somos 2! ^^

dcs disse...

santa putaria!

Pedro Sibahi disse...

Ei! sò vc e Camila pra comentarem meu blog!
vou ficar complexado!
claro q nao tanto quanto vc com essa censura sobre a putaria nos comentàrios.
hehehe
entonces, temos que escrever mais textos desses!
muito bom, em varios sentidos!
besos!

Cristiane Sinatura disse...

Aahh, então vc não entendeu o que eu quis dizer, porque não tinha naaaada demais.

eu só quis dizer que já que eu não vejo putaria na ECA, eu vejo aqui no seu blog, num texto justamente sobre a Puta.


sua chata!
vai deletar esse também??


=PPPPPPPPPPPP