Estava aquela loucura.
Um auditório cheio de universitários de comunicação: empolgados, jovens, esperançosos, animados. O que poderia ser ruim? Que venham os baixos salários, a falta de reconhecimento, eu quero mais é escrever! Não pára, mundo! Eu não quero descer!
E lá na frente, sentado, Joelmir Beting - com toda experiência que cabe em um senhor jornalista de 180cm e 25cm de raio em média. E naquela coisa toda de más e boas previsões, veio a bomba que todos suspeitaram sempre (aquela que faz um Beting suar, que faz um Larry gaguejar): inconstância.
Tem tanta coisa já, a convergência, a comunicação
está tudo tão grande que ninguém mais sabe de nada.
Essa era a notícia ruim?
Era aquele bolo de lanche enorme: ele está lá, você precisa comê-lo, Ele pode te render algum prazer, mesmo não tendo cobertura e sendo sabor baunilha. Mas se tornará uma obrigação, e só se pode escolher entre encará-lo ou sair distribuindo garfos.
O lado negro dessa força (bolo de lanche) é comê-lo de mau jeito: a nova mídia é ilimitada, mas muito antes de alguém ter alguma idéia de como fazer, já existem os que fazem mal. Que o fazem errado. E isso é preocupante.
Hoje fazemos tudo por internet, por celular, vivemos plugados...
Nisso, meu amigo , despreocupadamente [com aquele jeito simples de querer descansar] arrasta o quadril pela poltrona, deitando a cabeça no encosto e Olhou pra mim para ver o que eu estava falando. eu estava olhando pra ele e falando comigo mesma, como sempre faço- ele sabe. E com aquelas palavras reverberando na minha mente e nos meus lábios eu olho para aquele ser simples, mas o vejo de olhos fechados.
Medo.
Depois, além dele, todos da sala que estão de olhos fechados, e eles não vivem mais. Quer dizer, eles vivem, mas virtualmente.
Por Ds, vocês sabem o que eu vi, já o viram também. Algo como a cena do "berçário" no
Matrix, colunas e colunas de seres humanos que acham que vivem mais estão plugados, e vivendo esquizofrenicamente. Nunca enconstaram em nada nem ninguém. Quase aquela cena de
A Ilha também, os novos adultos na cama.
Estão todos deitados, mas há pura agitação dentro de suas mentes. A única coisa que sobra de material é uma poeira rosa, como pequenos brilhos piegas em cima dos olhos cerrados de todos.
Eu vi a humanidade toda que sonhava em viver, a partir desse amigo que estava do meu lado, que na verdade nunca tinha fechado os olhos durante a palestra.

Não deu outra: [jornal de domingo, caderno de Oportunidades] "Investindo no Second Life", "mais de 6 milhões de usuários...".
Fiquei com medo de entrar também. É claro que deve ser um jogo divertido, mas já faço cada vez menos coisas na vida real, e em vez de ler um livro, ver alguém em essência, em realeza, eu vou ficar algumas preciosas horas pra crescer em um lugar que não existe..
[existe se você acreditar que é real]
Mas eu sei que não é.
[você sabe?]
Eu quero que seja assim, então é.
[não é você que escolhe o que quer viver?]
Não quero viver isso. Não quero me tornar uma personagem. Você passa algumas horas sendo outro, várias vezes por semana, e lá você faz o que quer...pode demorar o tempo que for, algum dia, quando você menos esperar, vai tomar uma ou outra atitude que não é propriamente sua, que não fez parte de você durante tudo o que se lembra.
[você tem medo de se descaracterizar? se despernosificar?]
Tenho é de personificar. O normal é a gente viver sem persona própria, fixa. E qualquer coisa diferente disso é falso, construído. Não acredito em pessoas-personagens, não, não...
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E para comemorar ontem de verdade. Não ir ver um show do Wanessa Camargo ou da Ivete...
PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊQuem construiu a Tebas de sete portas?
Nos livros estão nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia varias vezes destruída--
Quem a reconstruiu tanta vezes? Em que casas
Da Lima dourada moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros, na noite em que
a Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma esta cheia de arcos do triunfo
Quem os ergueu? Sobre quem
Triumfaram os Cesares? A decantada Bizancio
Tinha somente palácios para os seus habitantes? Mesmo
na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada
Naufragou. Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu alem dele?
Cada pagina uma vitoria.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande Homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias.
Tantas questões.
Bertold Brecht